Artigo atualizado: hora original 23:50, 28-01-2018

«Ele parou. Acabou», proclamou Assis, irmão e ex-leão, e o alerta ecoou por todo o mundo.

Morremos um pouco de cada vez que um artista decide abandonar o seu ofício.

Primeiro morremos e depois relativizamos a perda: foi-se o craque, fica o seu legado.

Quantas alegrias, quanto prazer.

Ninguém aos 37 anos pode pensar em jogar por muito mais tempo, mas nem esse fatalismo nos amortece o pesar.

Ronaldinho parou, acabou, foi embora. Mas para trás deixou o mundo a seus pés. Bernabéu incluído.

Foi assim a 19 de novembro de 2005. Como em tantas outras noites. Como em tantos outros estádios.

Aquela noite, porém, era de clássico. Superclássico.

De um lado, um Real Madrid galáctico; do outro, um Barcelona prodigioso.

Real Madrid-Barcelona, 0-3, resumo do jogo

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FICHA DE JOGO

Real Madrid: Casillas; Míchel Salgado, Sergio Ramos, Helguera e Roberto Carlos; Pablo García (Júlio Baptista, 67’); Beckham, Zidane e Robinho; Raúl (Guti, 58’) e Ronaldo.

Treinador: Vanderlei Luxemburgo.

Barcelona: Víctor Valdés; Oleguer, Puyol, Marquez e Van Bronckhorst; Edmilson, Xavi e Deco; Messi (Iniesta, 70’), Eto’o e Ronaldinho Gaúcho.

Treinador: Frank Rijkaard.

Resultado: 0-3.

Golos: Eto’o (14’), Ronaldinho Gaúcho (59’ e 77’).

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Samuel Eto’o, de bico, assistido por Messi, adiantou o Barça aos 14’. A noite, porém, era de Ronaldinho, que espalhava magia desde o início da partida.

O primeiro de dois grandes números de ilusionismo aconteceria aos 57’.

Contra-ataque blaugrana: três para dois. Ronaldinho domina de pé direito, passa a linha de meio-campo e conduz pela esquerda. Um, dois… cinco; ao sexto toque dribla Sergio Ramos, que lhe entra aos pés. Primeiro central madridista pelo caminho. O pequeno salto à sua passagem acrescenta ainda mais graciosidade àquela cavalgada triunfal. Direito, esquerdo… Entra na área e segue-se Helguera, que com um toque apenas fica «sem rins», ali especado no relvado. Segundo central madridista caminho.

Segue-se o cara a cara com Casillas e um remate seco e colocado de pé direito para um golo de antologia.

Nove segundos, nove toques na bola.

Um bailado endiabrado. O melhor paradigma da sublime arte futebolística do Gaúcho.

O esplendor à flor da relva não terminaria aqui. Prosseguiria aos 77’, com Ronaldinho num lance quase a papel químico a sentenciar o clássico: novo drible a Ramos, novo remate a bater Casillas.

Os blaugrana cavalgavam sobre um rival ferido. E o inimaginável acontecia: adeptos merengues, rendidos ao arquirrival, levantaram-se na bancada do Bernabéu para aplaudirem de pé o Barça e Ronaldinho.

Foi-se o craque, fica o seu legado.