O pontapé que pôs a Suíça a ferro e fogo

Basileia-Zurique, 1-2 (13 de maio de 2006)

Todos conhecemos a Suíça como um país ordeiro e pacato. Às 22 horas, silêncio total nas ruas, respeito escrupuloso pelas regras de cidadania… Sempre assim, não é? E se mais fosse preciso iríamos consultar os livros de história em que atestam da neutralidade suíça, mesmo em conflitos à escala mundial.

No entanto, o futebol tudo pode. E num instante tudo pode mudar.

Aconteceu a 13 de maio um autêntico milagre no futebol suíço.

Na 36.ª e última jornada do campeonato da época 2005/06, o Basileia recebia o 2.º classificado FC Zurique com três pontos de avanço na classificação e a precisar apenas de não perder para celebrar o tricampeonato.

A jogar em casa, perante um adversário que não vencia o campeonato interno há um quarto de século, tudo estava nas mãos do Basileia. E ainda mais parecia quando aos 90 minutos de jogo resistia a igualdade a uma bola num duelo emocionante e muito disputado, embora não propriamente jogado.

Faltava o tempo de compensação: três minutos. Os ponteiros avançaram com a reconhecida precisão suíça, só que quando o relógio bateu nos 93’ o árbitro Massimo Busacca (esse mesmo que esteve presente nos Mundiais de 2006 e 2010) não terminou de imediato e deu ordem para que se executasse o lançamento de linha lateral a favor da equipa do Zurique.

Já se celebrava a conquista do tri nas bancadas do St. Jakob Park quando o lançamento é feito e a bola acaba por sobrar do lado direito da área para Florian Stahe. O médio cruza de primeira e é aqui que surge o momento de glória para Iulian Filipescu: o desespero havia colocado o defesa romeno no ataque e, no último suspiro do Zurique, ele aparece ali, à entrada da pequena área a desviar na cara do guarda-redes internacional suíço Pascal Zuberbühler.

No momento final da última jornada, frente ao rival direto, o camisola 25 celebra um golo que vale o fim de uma seca de 25 anos ao Zurique.

O critério de desempate – melhor saldo de golos – beneficiava a equipa do Zurique, que ultrapassou in-extremis o rival Basileia na liderança, apesar da igualdade a 78 pontos.

O jogo termina de forma dramática. Com o árbitro a apitar após o golo que vale o campeonato ao Zurique. O que se passa em seguida é uma inacreditável invasão de campo. Enquanto os jogadores e equipa técnica forasteira celebravam no relvado, centenas de adeptos do Basileia entraram no relvado atacando-os. O mais visado era o próprio Filipescu, a quem foi atirada um artefacto pirotécnico. Os jogadores do Zurique tiveram de refugiar-se nos balneários. Por sua vez, adeptos do novo campeão também invadiram o relvado, apesar da clara inferioridade numérica.

Ao perderem tudo aos 93, os radicais do Basileia descarregaram a sua ira em seguida nas forças policiais, tendo os tumultos continuaram nas imediações do estádio (veja o vídeo).

Os ânimos só serenaram com o uso de canhões de água e balas de borracha por parte das forças da ordem. Esse episódio de hooliganismo, que mancha a história recente do futebol suíço, resultou em multas pesadas para os dois clubes e na interdição por dois jogos do St. Jakob Park.

Aconteceu a 13 de maio. Há precisamente doze anos. E nesta data os adeptos do Zurique celebram com a reposição da transmissão do jogo e respetivos festejos (veja o vídeo).