Junho de 1997. Para testar os estádios do Mundial do ano seguinte, França criou um torneio com convidados de luxo: Brasil, Inglaterra e Itália. Uma espécie de Taça das Confederações, embora a versão oficial se disputasse apenas em dezembro desse ano na Arábia Saudita.

Quatro cidades (Paris, Lyon, Nantes e Montpellier), uma fase de grupos, todos contra todos: o Tornoi de France nasceu como um simulacro do Mundial de 1998. Mas mais do que o triunfo da Inglaterra na prova, a melhor memória desta competição particular reporta à primeira jornada.

3 de junho de 1997, Stade de Gerland, Lyon. No jogo inaugural Brasil e França antecipavam aquilo que viria a ser a final do Mundial de 1998, no Stade de France.

28 193 espetadores assistiam num recinto ainda em obras de remodelação a um duelo que terminaria empatado a uma bola, com Keller a empatar para a França aos 55’.

O jogo e o torneio ficaria marcado pelo golo do Brasil, ainda na primeira parte.

Se Didi inventou a folha seca, Roberto Carlos inventou a «banana» (a analogia frutícola serve para sublinhar uma impressionante curvatura da bola).

Mas vamos àquele momento sublime de futebol.

Tudo começa numa sequência de duas faltas a meio do meio-campo francês. Ronaldo controla a bola e é ensanduichado entre Blanc e Vieira. Falta. Recomeça o jogo, bola em Romário, que é derrubado por Deschamps. Falta de novo e livre frontal. Perigoso? Em circunstâncias normais, não seria um lance de golo… Mas Roberto Carlos avançou para a bola, pegou nela, acariciou-a e colocou-a sobre a relva, antes de tomar balanço. Muito balanço. Uns doze passos, fazendo-o recuar, até pisar o círculo do meio-campo.

«Ai vai bomba!», pensamos, sem contudo ter a exata noção sobre como, àquela distância, a bola pode acabar no fundo das redes.

Roberto Carlos avança para a bola e bate de trivela… Três dedos na bola que faz uma curva mágica.

Livre a 35 metros da baliza… GOLO! A bola contorna a barreira e sai disparada a uns notáveis 136 quilómetros por hora! Mas, mais do que a velocidade, o que impressiona é o efeito: uma curvatura que atinge no seu ponto máximo os 12 graus. A bola parece que vai para fora, mas a meio do caminho vira na direção da baliza e ainda embate no poste, ao cruzar a linha de golo, com o guarda-redes gaulês Fabien Barthez a ficar sem reação.

Se o lance corrido já nos faz abrir a boca de espanto, a repetição de frente para a baliza, onde melhor se compreende toda a viagem do esférico, deixa-nos siderados com a potência e precisão do gesto.

Há 20 anos (completados no início deste mês) aconteceu um dos pontapés mais antológicos da história do futebol.

Desde então, esta questão jamais deixou de fazer sentido: será este o melhor livre de sempre?