A dois passos do Mundial, o Peru pode 35 anos depois voltar a uma fase final e para o conseguir tem de «apenas» ultrapassar a Nova Zelândia no play-off a duas mãos que se disputa nos dias 11 e 15 deste mês.

Se o desafio é intercontinental, o momento pode ser histórico.

Excluindo a participação por convite na primeira edição, em 1930, no Uruguai, só a geração de ouro liderada por Teófilo Cubillas havia conseguido a proeza de levar os «Incas» a Campeonatos do Mundo. E logo três: 1970, 1978 e 1982.

Podem chamar-lhe Cubillas, El Nene ou maior lenda do futebol peruano – eleito entre os 100 melhores futebolistas da história pela FIFA em 2004. O «10» foi ídolo nas Antas, com a camisola do FC Porto (entre 1974 e 1976), tal como havia sido no Allianza Lima e no Basileia. Levou o Peru à conquista da Copa América de 1975 e aos quartos-de-final do Mundial de 1970 – no qual foi eleito melhor jogador jovem –, onde só cairia aos pés do Brasil de Pelé.

Cubillas ao serviço do FC Porto, onde jogou entre 1974 e 1976

Só podia ser de Cubillas a memória de um golo mundialista no em que a geração de Paolo Guerrero e companhia está mais próxima do que nunca de regressar à elite do futebol de seleções.

Entre muitos, um. Dos dez golos apontados, que fazem dele o oitavo melhor goleador da história de Mundiais, há aquele livre imortal. Uma ode à inteligência e ao talento num singelo pontapé.

Antes de mais, o enquadramento: o Argentina '78 não seria o Mundial mais feliz para o Peru. Contudo, o torneio começaria bem. Logo no jogo frente à Escócia os sulamericanos começariam a encaminhar a qualificação no seu grupo da primeira fase.

Vitória por 3-1 numa tarde em que Cubillas encantou os 37 927 espectadores que no Olímpico Chateau Carreras assistiram a uma notável exibição do mago 81 vezes internacional pelo Peru (entre 1968 e 1982).

Joe Jordan até adiantou os britânicos ainda antes do quarto de hora de jogo, mas Cesar Cueto, em cima do intervalo haveria de fazer a igualdade.

A segunda parte haveria de ser todinha dedicada à contemplação da arte de Teófilo, que resolveu a partida com dois golos em sete minutos.

Cubillas defronta a Argentina pelo Peru, pelo qual cumpriu 81 internacionalizações

Aos 71’, um monumento de golo: Cubillas recebe à entrada da área, dá dois toques para preparar o remate com a parte exterior do pé, que sai fortíssimo e colocado para o fundo da baliza.

Mas se o 2-1 havia sido notável, o 3-1, seis minutos depois, seria uma obra de arte: tão-somente um dos melhores livres da história dos Mundiais de futebol.

Antes do livre, há a falta. O lance começa num passe longo e bem medido do defesa Chumpitaz que lança lá na frente Oblitas. Veloz, o avançado apareceu a dominar a bola na cara do guarda-redes Alan Rough quando é derrubado num carrinho de Stuart Kennedy num tempo em que um lance destes não valia cartão vermelho.

Livre frontal à entrada da área quase sobre a linha. Juan Munate acerca-se da bola e prepara-se bater com o pé direito.

Munate tira as medidas, Munate ainda a mirar a baliza… Vai bater Munate… CUBILLAS! GOLO!

Que golo! Contra toda a lógica, Cubillas bate o livre de trivela e encaixa a bola no ângulo da baliza de Rough, cuja farta cabeleira loira não disfarça o desalento que lhe vai na cara.

Peru-Escócia, 3-1. O golo de livre de Cubillas:

O génio de Cubillas decidiu em dois tempos o triunfo na estreia do Peru no Mundial de 78. A aventura peruana viria a terminar com uma embaraçosa, para não dizer suspeita, goleada (6-0) diante da anfitriã Argentina, que viria a sagrar-se campeã mundial.

Quase 40 anos volvidos, no Peru ninguém esquece aquela tarde em Córdoba em que Cubillas espalhou no relvado o seu talento em registo livre.

Peru-Escócia, 3-1, resumo do jogo: