Coutinho, Philippe Coutinho.

Bem antes de trocar Liverpool por Barcelona e de se tornar na contratação mais sonante deste mercado de inverno, num negócio de 160 milhões de euros… Bem antes de o mundo o conhecer como um dos mais prodigiosos médios ofensivos da atualidade… Bem antes de tudo isso, ele já era craque.

O terceiro filho de Esmeralda e José Carlos, o caçula da família nasceu craque e não demorou a trocar as peladas no Rocha, bairro da zona norte do Rio de Janeiro, pelo futsal. Até, ainda criança, chamar à atenção aos olheiros do Vasco da Gama – essa imensa embaixada luso-brasileira.

Coutinho entrou no «Gigante da Colina» e virou ídolo precoce no São Januário.

Já tinha, porém, o seu passe trespassado para o Inter de Milão (por quatro milhões de euros) quando se deu a conhecer à torcida vascaína.

Recuemos oito anos, à noite de 25 de janeiro de 2010, para um clássico do Rio de Janeiro entre Botafogo e Vasco da Gama. Sem o saberem, os 21 194 espectadores do Engenhão estavam prestes a ver história acontecer diante dos seus olhos.

Não só pela goleada do Vascão em casa do rival, por 6-0, pela terceira ronda da Taça Guanabara, primeira fase do campeonato carioca – respondendo ao 4-0 aplicado nove meses antes. Naquela noite, Coutinho faria a sua estreia a marcar como futebolista profissional.

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FICHA DE JOGO

Botafogo: Jefferson; Alessandro, Antônio Carlos, Wellington e Marcelo Cordeiro; Leandro Guerreiro, Fahel, Eduardo e Lucio Flavio (Renato, 67’); Loco Abreu (Somália, 46’) e Herrera.

Treinador: Estevam Soares.

Vasco da Gama: Fernando Prass; Fagner (Thiago Martinelli, 49’), Fernando, Titi e Márcio Careca; Nilton, Souza (Rafael Coelho, 75’), Léo Gago e Carlos Alberto (Magno, 41’); Philippe Coutinho e Dodô.

Treinador: Vágner Mancini.

Resultado: 0-6.

Golos: Dodô (4’, 32’ e 34’), Léo Gago (55’) e Philippe Coutinho (59’ e 81’).

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O batismo foi obra de Dodô, veterano companheiro de ataque que serviu o moleque de 17 anos em bandeja de prata, mas tudo o resto é obra de Coutinho. Dois toques que não enganam.

Atentemos ao lance. O Vasco já goleia por 4-0 o rival ainda antes de cumprida uma hora de jogo, mas continua a sua cavalgada triunfal.

Minuto 59 e segue a transição ofensiva; toque e desmarcação de Souza (esse mesmo, que jogou no FC Porto) para Dodô, que domina e toca para a frente, assistindo Coutinho. O que o «camisa 30» faz a seguir é a prova cabal que estava ali um garoto cheio de classe.

Coutinho podia tentar o remate. Podia deslumbrar-se e perder-se em dribles.

Em vez disso, simula, dá um pequeno toque e de uma assentada tira do lance o central botafoguense Wellington e coloca-a à sua mercê para encarar Jefferson.

No frente a frente, um desvio sublime a colocar a bola fora do alcance do goleirão, fazendo-a entrar junto ao poste e aninhar-se no fundo da baliza.

«Gol de veterano, gol de gente grande», diz o narrador. Foi o que fez o menino de 17 anos, que lhe tomou o gosto e aos 81’ sentenciaria a partida com novo golaço: tabela com Rafael Coelho e atira uma bomba para colocar o 6-0 no placard final.

Bem antes de rumar à Europa: de ser revelação no Giuseppe Meazza, com a camisola nerazzurra, de uma primeira incursão na Catalunha, na cedência ao Espanyol.

Bem antes de virar estrela, qual Beatle, em Anfield Road, com a camisola do Liverpool, e de agora ter o mundo a seus pés ao lado de Messi envergando o manto blaugrana… Bem antes de tudo isso, Coutinho já era craque.

Bastava ver aqueles primeiros dois golos com que se estreou a marcar com a Cruz de Malta ao peito para o adivinhar. Olhando para trás, percebemo-lo agora com clareza na ginga daquele corpo franzino, na inteligência dos movimentos. Tudo aquilo é o seu cartão de apresentação, como quem estendia a mão para cumprimentar a torcida, dizendo: «Muito prazer, Philippe: com dois “pês” e dois golos.»

Veja os golos de Coutinho na goleada do Vasco da Gama ao Botafogo

Veja o resumo da goleada do Vasco da Gama ao Botafogo: