Em Roma, sê… como Totti.
Entre as ruinas do grande império, Francesco é rei. Tão capitolino como o Coliseu, como a Fontana di Trevi, como o bairro de Monti, onde, bem lá escondida, num beco, surge a sua figura pintada num stencil que sobressai de uma parede vermelha e amarela – tantas vezes retocada quanto vandalizada, supostamente por adeptos laziale.
Já quarentão, em final de contrato e com um cargo de diretor à sua espera, Francesco está prestes a pendurar as chuteiras (embora ainda não seja oficial), um quarto de século depois da sua estreia como profissional sempre ao serviço da Roma.
Mural of Francesco Totti in Rome.#Totti #Roma #NoTottiNoParty #legend #football pic.twitter.com/QCqiQpbS6t
— Photos of Football (@photosofootball) 30 de setembro de 2014
Que história contar de uma carreira cheia do grande ídolo dos giallorossi? Entre muitas, uma. Do dérbi capitolino, naturalmente. O último golo do capitão romano frente ao perene rival da cidade eterna.
Jornada 18 da Serie A de 2014/15. Com a Juventus líder e a caminho de mais um scudetto, a corrida pelo segundo lugar fez-se entre os rivais da capital. No final da primeira volta, um frenético dérbi no Olímpico.
Na condição de visitante, a Lazio adianta-se no marcador e chega ao intervalo a vencer por 2-0.
Na segunda parte, Totti entra com mais vontade de mostrar serviço do que um jovem acabado de ser promovido à primeira equipa. E, a passe de Kevin Strootman, reduz aos 48’, ao surgir solto ao segundo poste para rematar cruzado para o fundo das redes.
A perder por 1-2, mas sentindo-se por cima, a Roma pega no jogo, controla a meio-campo e é num desses lances, aos 68’, que De Rossi passa para Holebas, que aparece junto à linha lateral: sobre o flanco esquerdo e com Candreva pela frente, o lateral grego domina, controla e cruza largo ao segundo poste…
Quem aparece? Totti, pois claro. Nas costas do albanês Lorik Cana e na cara do guarda-redes Federico Marchetti para num remate em acrobacia, desviar com o pé direito para igualar o marcador.
A Curva Sud entra em apoteose. 2-2 no dérbi! Bis de Totti…
Aos 38 anos, num rasgo de jovialidade como certificado do seu talento, executa com o primor dos seus tempos áureos.
O bis fez Totti chegar ao 11.º golo em duelos da capital, tornando-se no melhor marcador da história. Que melhor forma de celebrar o 40.º dérbi (de 44 na carreira)?
Aqui entra a segunda parte desta Anatomia. Se o (segundo) golo é soberbo, é o festejo que o torna inesquecível.
Totti avança os placards publicitários, como tantas outras vezes. Abre os braços, cerra o punho e junto dos seus paisanos, põe um polegar na boca e com a outra mão usa o indicador para apontar para o céu. Um abraço coletivo da equipa em comunhão com os adeptos.
É aqui que surge o treinador de guarda-redes Guido Nanni com um telemóvel. Totti pede-lho… «Che fa?», ouve-se na locução, com espanto. «Vai mandar um sms... Uma selfie?!»
E ali está ele, o capitão eterno, o rei de Roma, com dezenas de milhares em redor e milhões a vê-lo pela TV a tirar uma foto em pleno estádio. Um beijinho para a câmara… click! E já está.
Throwback to when Totti took a selfie. #ThrowbackThursday pic.twitter.com/eJtqnRnwFw
— Retro Football (@RetroFBall) 4 de maio de 2017
O gesto, de uma irreverência desconcertante, foi planeado durante semanas para imortalizar o 40.º dérbi, como revelou Totti:
«Tive mil ideias diferentes, mas aquela em que me foquei foi a de tentar captar a alegria da Curva Sud a celebrar.»
Totti haciéndose un selfie para celebrar un gol en el derby ante la Lazio (2015). Genio y figura. pic.twitter.com/dQtnvKZPy6
— Dioses del Fútbol (@Dioses_Futbol) 28 de janeiro de 2017
Guido guardou o telefone de Totti, quando ele entrou no relvado. O plano parecia gorar-se quando ao intervalo a Roma perdia por 2-0. No entanto, no segundo tempo, o «10» da Roma demorou três minutos a reduzir e só precisou de mais 15 para igualar em grande estilo.
An AS Roma fan has got a tattoo of Francesco Totti’s selfie celebration on his leg. pic.twitter.com/nlL3T8yHFm
— Football Shop (@FootballShopLB) 15 de janeiro de 2015
Era o momento da celebração. Nanni correu para o herói e cumpriu a sua missão: entregou-lhe o telemóvel para que Totti tirasse uma das selfies mais famosas da história do futebol.
Um momento que inspirou tatuagens, memes e até um novo stencil para nova e icónica imagem do capitão sobre uma parede amarela e vermelha naquele beco do bairro romano de Monti.
@RichWman Totti mural, 2015! pic.twitter.com/MSC8vxo8Vm
— Luigi (@LuigiFbaby) 11 de janeiro de 2015