Cardiff; sábado, 3 de junho, 19h45.

Numa reedição da final de 1998, Real Madrid e Juventus encontram-se na grande decisão da Liga dos Campeões.

No banco madridista, Zinedine Zidane: ídolo em Turim com a camisola bianconera, galáctico em Madrid pelos merengues.

O franco-argelino podia viver à sombra do seu legado como um dos maiores astros das últimas duas décadas no futebol mundial, porém, arriscou assumir-se como técnico madridista e em pouco mais de um ano fez história.

Levou o Real Madrid à conquista da Liga dos Campeões da última temporada e agora, com Ronaldo a liderar uma equipa de estrelas, pode conseguir o feito inédito de revalidar o título europeu, algo inédito nesta versão Champions.

Uma final especial para Zizou, acabado de se sagrar campeão espanhol, frente à também «sua» Juve, onde há 20 anos, chegado do Bordéus, conquistava a Europa do futebol.

Recuemos até 1996/97: num flashback à primeira época de Zidane em Turim, com a campeã europeia em título Juventus a reeditar a final do ano anterior diante do Ajax, o jogo e um golo em particular que marca o apuramento para a sua primeira final da Champions.

A Juve trazia de Amesterdão uma vantagem de 2-1 e na segunda mão das meias-finais fez valer o seu favoritismo.

No Delle Alpi, uma exibição deslumbrante do 21 marselhês, que despontou no Cannes antes de seguir para o Bordéus e daí para Itália.

Como estrela perene do futebol europeu, Zidane terá nascido nessa noite de Turim: a forma delicodoce de tratar o esférico, a precisão no passe, a elegância do drible… Estava tudo lá, naquele jogo em que Zizou destruiu praticamente sozinho as aspirações do Ajax de Van Gaal, com três assistências, antes de, com os holandeses completamente à mercê, sentenciar a passagem à final marcar um dos grandes golos da sua carreira.

Lombardo e Vieri adiantaram os transalpinos no marcador de rajada, ainda antes do intervalo, Melchiot reduziu aos 75’, Amoruso respondeu aos 79’, até que um minuto depois apareceu Zidane a encerrar uma exibição de luxo com um golo de levantar o estádio.

Minuto 80: Zidane surge na área, assistido por Di Livio, recebe a bola e o que faz? Chuta? Não, controla a bola com classe e desnorteia por completo a defesa do Ajax: Melchiot fica a contemplar o lance, Richard Witschge que tenta recuperar mas acaba por abalroar o guarda-redes Van der Sar, praticamente batido, num choque que provoca uma queda aparatosa.

Zidane, por sua vez, imune ao rebuliço da defesa contrária resolve com tranquilidade, contornando e rematando a bola para a baliza com uma tranquilidade quase tão espantosa como a sua técnica.

Golo. Um lance de pura mestria. 4-1 no marcador, 6-2 na eliminatória. Zidane sairia logo de seguida, substituído por Antonio Conte (outro técnico em voga na atualidade), debaixo de um estrondoso aplauso.

Estava garantida a sua primeira final europeia – que a Juve viria a perder diante do Borussia Dortmund.

Vinte anos depois, Zidane – que se tornou no sétimo a vencer a Liga dos Campeões como jogador e treinador – depois de Miguel Muñoz, Trapattoni, Cruijff, Ancelotti, Rijkaard e Guardiola – regressa a uma decisão da Champions também ao serviço do campeão e para defender o título: poderá o treinador vir a superar o futebolista?