30 de abril de 1993, fez agora 24 anos. Monica Seles, 19 anos, número 1 do mundo, jogava os quartos de final do torneio de Hamburgo, frente à búlgara Magdalena Maleeva. Seles vencia por 6-4 e 4-3 e, durante uma pausa, aconteceu o impensável. Alguém se aproximou vindo da bancada, empunhando uma arma branca. Empunhou-a com ambas as mãos e esfaqueou Seles.

«Lembro-me de estar sentada e de me inclinar para beber um pouco de água, tinha a boca seca. Mal tinha levado o copo à boca quando senti uma dor horrível nas costas. Voltei a cabeça para onde sentia a dor e vi um homem com um boné de basebol, um esgar na cara. Tinha os braços levantados e uma longa faca nas mãos. Fez menção de voltar a atacar-me. Não percebi o que estava a acontecer», recordou muitos anos mais tarde Monica Seles na sua autobiografia, «Getting a grip».

Tinha acontecido aos olhos de toda a gente no «court», onde estavam seis mil espectadores. Não em direto na transmissão televisiva porque a câmara não estava naquela altura a filmar Seles.

O homem, que usou uma faca de cozinha de 25 centímetros, foi dominado por alguns membros da segurança e do público.

Os primeiros momentos foram de enorme confusão e chegou a pensar-se que o ataque à tenista sérvia, radicada desde muito cedo nos Estados Unidos, teria motivações políticas. Naquele tempo de guerra nos Balcãs e desmembramento da ex-Jugoslávia, Seles sempre se recusou a tomar posição, e era público que já teria recebido ameaças de morte. Mas não. A polícia rapidamente identificou o atacante, Gunter Parche, como alguém que parecia confuso e mentalmente perturbado. Era obcecado pela alemã Steffi Graf, rival de Seles.

Monica foi imediatamente hospitalizada. E os ferimentos podiam ter sido bem piores. O facto de ela se ter inclinado no momento da agressão, bem como a rápida intervenção de um primeiro elemento de segurança que evitou um segundo ataque fizeram a diferença. «Teve muita sorte. Nenhum dos pulmões ou das omoplatas foi afetado. Ela ainda está em choque», dizia naquele dia o responsável médico do torneio, Peter Wind. Foi visitada no hospital, logo no dia seguinte, por uma Steffi Graf também em choque.

Mas se as lesões levaram apenas algumas semanas a sarar, Monica nunca recuperou completamente. Só regressou à competição mais de dois anos mais tarde. Pelo meio, também com problemas familiares, lutou contra uma depressão e distúrbios alimentares.

O seu atacante foi considerado mentalmente instável e condenado a dois anos de pena suspensa e a acompanhamento psicológico, sem chegar a cumprir pena de prisão. Uma decisão judicial difícil de aceitar para muitos e antes de mais para Seles, que se recusou a regressar à Alemanha durante todo o resto da sua carreira.

O ataque a Seles levantou muitas questões e levou a mudanças que perduram até hoje na segurança nos eventos desportivos. Não apenas no ténis. Nas competições passou a ser corrente a presença de membros da segurança entre atletas e público, e os contactos entre desportistas e fãs passaram a ser restritos e muito controlados. 

Seles voltou a competir em agosto de 1995. A WTA decidiu devolver-lhe o primeiro lugar do «ranking», que partilhou com Steffi Graf. Venceu o Open do Canadá logo no regresso e em janeiro de 1996 ainda conquistaria o Open da Austrália. Foi o nono e último Grand Slam da sua carreira.

Não voltou a ser a força da natureza e de auto-confiança que era antes de Hamburgo, a adolescente com mais títulos de Grand Slams da história. Ainda chegou à final do US Open em 1996 e de Roland Garros em 1998, continuou a competir até 2003, mas sem voltar a dominar a modalidade. Só podemos imaginar o que teria sido diferente se não tivesse acontecido Hamburgo.