Uma pose cheia de talento e história. Sentados estão Telê Santana e Zico, ao meio Edinho. Em pé Júnior, Sócrates e Toninho Cerezo. A foto regista o regresso de Telê ao comando do Brasil no verão de 1985, três anos depois do Mundial 1982 e na foto não estão apenas quatro dos titulares do «escrete» na equipa que encantou o mundo e deixou tantos a chorar a morte do futebol depois daquela derrota com a Itália no Sarriá. O mote desta imagem da Reuters foi juntar os «italianos» da seleção. Todos eles vinham de temporadas no campeonato italiano e basta olhar para os nomes na imagem para constatar aquilo que hoje está longe de ser uma evidência: aquele era na altura o destino de sonho para qualquer jogador. Mais surpreendente ainda se nos lembrarmos dos clubes que representavam.

Zico, um dos melhores dos melhores de sempre, era jogador da Udinese. Tinha chegado em 1983, numa transferência recorde que deu muito que falar. Já lá encontrou o defesa Edinho, que tinhe chegado um ano antes. Sócrates estava na Fiorentina e Júnior no Torino. Toninho Cerezo era jogador da Roma e na foto ainda falta Falcão, o «Imperador» que foi campeão com a Roma em 1983.

Zico, faz agora 42 anos que se estreou pelo «escrete» e celebrará 65 anos daqui por uma semana, chegou a Udine como herói. Com polémica pelo meio, por causa de um veto da Federação italiana que levou os adeptos da Udinese à rua: «Ou Zico ou Áustria!»

Ficou duas épocas, na primeira foi o segundo melhor marcador da Serie A, a um golo de Michel Platini, a segunda ficou limitada por uma lesão. Voltaria ao Brasil e ao Flamengo precisamente nesse ano de 1985.

Há exatamente um ano Zico foi convidado de honra da Udinese, na celebração dos 120 anos do clube, e teve uma homenagem incrível.

Na altura falou precisamente sobre o que representava Itália naqueles anos 80. Era para Itália que iam os maiores: o Nápoles tinha Maradona, a Juventus tinha Michel Platini.

«Naquela época não havia esta quantidade de estrangeiros que há hoje, só podiam jogar dois em cada clube. Vim num momento em que os melhores do mundo inteiro tinham dois em cada time: Platini, Maradona, Falcão já estava aqui, Júnior, Sócrates, Cerezo, uma quantidade de jogadores de seus países que se destacavam e em que os times da Itália investiam», disse Zico à SporTV brasileira: «Era o momento do futebol italiano, como hoje é da Espanha, da Inglaterra.»

A Itália era campeã do mundo. Tinha vencido o Mundial de Espanha, na final ganhou à Alemanha mas o jogo eterno aconteceu a 5 de julho em Barcelona, no Estádio Sarriá. O futebol romântico do Brasil frente à organização italiana, ganhou a «azzurra» e ficaram de luto os amantes do futebol criativo.

Havia muito talento na seleção do Brasil e a maioria dos jogadores daquela equipa estavam no auge das carreiras. Quanto ao selecionador, Telê Santana saiu depois da «Copa» e foi para a Arábia Saudita. Mas voltou precisamente em maio de 2005, quando a CBF lhe pediu para pegar numa equipa que, sob o comando de Evaristo de Macedo, estava a vacilar nos preparativos da qualificação para o Mundial 86, vinha de duas derrotas com a Colômbia e o Chile. Com Telê, o Brasil venceu os dois primeiros jogos do seu grupo, empatou outros dois e apurou-se para o México. Na fase final havia muitos nomes repetidos em relação a 1982, incluindo os cinco da nossa imagem, mas já longe do seu melhor. O Brasil venceu tranquilamente o seu grupo, goleou a Polónia nos oitavos de final e cairia nos «quartos» frente à França de Platini, eliminado nos penáltis e sem ter perdido um jogo.