Sábado foi dia de Saint Patrick e a Irlanda juntou à sempre colorida celebração do seu feriado nacional o Grand Slam do Torneio das Seis Nações: vitórias em todos os jogos. Em Twickenham, o templo londrino do râguebi, perante a Inglaterra. Um conto de fadas é isto.

Na foto está essa expressão de felicidade junto com uma imagem cliché da Irlanda que é mais que isso, é a imagem de uma nação a viver um momento perfeito. Por trás o resultado no placard e como cenário de fundo a felicidade e a comunhão de adeptos e equipa. Que este vídeo da estação irlandesa TV3 resume desta forma bonita.

A Irlanda já era a vencedora do Torneio das Seis Nações desde a semana passada. Foi aliás campeã no hotel: a conquista ficou selada com a vitória da França sobre a Inglaterra. Faltava um último jogo e não era um qualquer. Em casa do rival ancestral.

A romaria a Twickenham começou de manhã e nos 82 mil lugares do segundo maior estádio de Inglaterra havia muito verde. Apesar do preço dos bilhetes, acima das 100 libras originalmente e a disparar para quatro dígitos no mercado negro. Muito cá fora também, com os pubs em redor do estádio cheios de camisolas verdes, chapéus excêntricos, trevos e canecas de Guinness. Uma imensa festa, que os adeptos irlandeses sabem fazer como ninguém.

E aconteceu mesmo. A Irlanda venceu por 24-15 uma seleção inglesa que tinha conquistado as duas últimas edições daquela que é uma das mais antigas e tradicionais competições desportivas do planeta, mas fez este ano uma prova muito abaixo das expectativas. A consagração plena, com flocos de neve a cair no momento de levantar o troféu, outra imagem bonita a eternizar o momento.

A Irlanda superou-se. É verdade que esta é a terceira vitória irlandesa nas Seis Nações desde que o neo-zelandês Joe Schmidt assumiu como selecionador, em 2013, mas o Grand Slam é outra coisa.

Só tinha acontecido antes duas vezes a Irlanda vencer todos os jogos em mais de 135 anos de história das Seis Nações. Que aliás começaram por ser quatro - as Home Nations britânicas. O torneio passou a Cinco Nações com a entrada da França em 1910, e chegou ao atual formato muito mais recentemente, com a entrada da Itália no início deste século.

Então a Irlanda festejou um Grand Slam a preto e branco em 1948, voltou a consegui-lo em 2009 e repetiu agora. 2018, no dia de St Patrick. De caminho a vitória sobre a Inglaterra consumou a conquista de outro dos «sub-troféus» das Seis Nações: a Triple Crown, vitória de uma das quatro seleções britânicas sobre as outras três.

A um ano do Campeonato do Mundo, a Irlanda reforça expectativas. Com a vitória de Twickenham segurou o segundo lugar no ranking mundial de râguebi. Atrás, claro, da Nova Zelândia.

Mas à frente da Inglaterra, que teria subido ao segundo lugar em caso de vitória mas assim fica a lamber feridas. Com embaraço adicional para o selecionador, o australiano Eddie Jones, depois de terem sido divulgadas recentemente umas declarações suas do ano passado numa palestra sobre liderança para uma empresa japonesa em que se referia aos irlandeses como «escumalha»: «Jogámos 23 testes e só perdemos um com a escumalha dos irlandeses. Vamos vingar-nos, não se preocupem. Jogamos com eles em casa para o ano, vamos vingar-nos!»

Eddie Jones pediu desculpa pelo que disse. E Joe Schmidt desvalorizou, garantindo que aquilo não serviu de motivação extra à equipa: «Não serviu de motivação, de todo», disse o selecionador da Irlanda, a aproveitar para sair por cima, ele e a equipa: «O Peter O’Mahony resumiu isso bem quando disse que se estamos à procura dessas coisas para nos motivarmos, estamos à procura no lugar errado.»