Foto Ed Sykes/Reuters

A imagem diz tudo o que está nesta história. O desespero de John Terry ao perceber que acaba de arranjar maneira de falhar o seu último grande momento, a despedida do Chelsea e de Stamford Bridge em campo. Por outro lado, não seria Terry se tudo isto não tivesse uma ironia pelo meio, pois não?

Portanto, a dois jogos do fim da linha no Chelsea, Terry foi expulso no jogo com o Sunderland, por acumulação de amarelos, e vai cumprir dois jogos de castigo: já nesta quarta-feira com o Liverpool e no domingo, na última jornada, em casa com o novo campeão Leicester City.

Também não seria Terry se esta história fosse linear. O Chelsea decidiu não renovar com o seu capitão de 18 anos, anunciou o próprio em janeiro. Portanto, lá está, o último jogo da época representaria a sua despedida, aos 35 anos. Mas o Chelsea ainda não disse nada de definitivo sobre o assunto e Terry continua a dizer que quer continuar.

Disse-o numa entrevista há dois dias, na Dinamarca. Sim, ao canal de televisão do Brondby, cujo dono é seu amigo. «Quero jogar por mais dois anos, espero que no Chelsea. Sou jogador do Chelsea, foi o meu clube desde os 14 anos. Adoro o Chelsea.»

E agora? Guus Hiddink, o treinador de transição entre José Mourinho e Antonio Conte, sacudiu a água do capote. «Se me pedem uma opinião sobre a forma como ele joga e sobre a condição física dele com a sua idade, ele está em condições de continuar. Onde? Isso depende do clube. Não sou eu que devo fazer declarações sobre isso», disse Hiddink nesta terça-feira.

E então, é isto? Bem, talvez não. Ainda não é muito claro como vai o Chelsea resolver a questão Terry no domingo. Uma das hipóteses é convidá-lo para uma última volta de honra ao estádio no final do jogo. Os adeptos, esses, dividem-se, e há quem esteja a preparar manifestações de apoio ao capitão e de protesto pela forma como o clube lidou com o assunto.

Mas pode haver mais. Terry estará a preparar-se para... alugar Stamford Bridge para um último jogo de despedida. De acordo com a Fox, será logo na segunda-feira, o dia a seguir ao final da Premier League, e o Chelsea já concordou em ceder-lhe o estádio.

Acham mesmo que Terry ia sair assim, pela porta dos fundos?

É John Terry, lembram-se? O homem que falhou a final da Liga dos Campeões em 2012 porque estava suspenso mas, na hora de o Chelsea levantar a Taça, apareceu no relvado, com o equipamento de jogo. Um momento que entrou direitinho para o imaginário futebolístico, pretexto para um sem fim de piadas e «memes», que colocavam o «penetra» Terry no meio de grandes momentos da História.

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Mais: na época seguinte, Terry também não jogou a final da Liga Europa com o Benfica, dessa vez por lesão, mas também apareceu equipado na festa. Full-kit Terry, mais uma série de piadas. Perseguem-no, até hoje

Terry tem mais de 500 jogos pelo Chelsea e mais troféus que qualquer outro capitão dos Blues. Foi uma das grandes referências do Chelsea que se tornou uma super potência europeia à força dos milhões de Roman Abramovich e com o impulso de José Mourinho, que quebrou em 2005 um jejum de 50 anos sem que Stamford Bridge festejasse a conquista da Premier Liga. Ganhou a Liga dos Campeões, quatro títulos de campeão inglês, a Liga Europa, cinco Taças de Inglaterra.

Foi capitão da seleção inglesa, de que se retirou em 2012, é uma das figuras incontornáveis do futebol na última década e fez questão de se manter protagonista, mesmo quando se tornava claro que de referência do Chelsea se estava a tornar símbolo de uma equipa envelhecida.

Passou por embaraços e polémicas que davam para distribuir por uma dúzia de jogadores. A história da relação extra-conjugal com a ex-namorada de Wayne Bridge, seu antigo colega no Chelsea e companheiro de seleção. A acusação de interpelação racista a Anton Ferdinand, irmão de Rio Ferdinand, num jogo com o QPR. A mão pendurada para um aperto de mão que não aconteceu no reencontro em campo com cada um deles. A perda da braçadeira de capitão da seleção, primeiro por causa do caso Bridge, depois do caso Ferdinand, um processo que no limite levou Fabio Capello a deixar a seleção. Além, claro, da escorregadela em Moscovo no penálti decisivo na final da Liga dos Campeões de 2008, frente ao Manchester United. 

Terry sobreviveu a todas elas. Portanto, muito provavelmente esta imagem de Terry de joelhos a ver o cartão vermelho aproximar-se não foi o fim da linha. Quanto vale a aposta de que veremos Terry de novo, em full-kit do Chelsea?