Nas memórias de Pep Guardiola há muitas imagens para recordar. O rosto das ideias que mais marcaram o futebol deste século tem 25 anos de futebol, feitos há pouco. Tem uma vida, aliás, se recuarmos aos tempos do miúdo que era apanha-bolas no Camp Nou. Mas o que vemos aqui não é uma dessas imagens que marcam a história. É um momento simples, de puro gozo.

Guardiola a festejar depois de marcar um golo. A imagem é relativamente rara. Pep não marcou tantos golos assim, em onze épocas no Barcelona foram 13 no total. Na Dream Team de Johan Cruijff e nos Barcelonas que se lhe seguiram, o de Bobby Robson e o de Van Gaal, ele era cérebro, visão e inteligência em campo, não foco na baliza.

Um tempo mais tarde, o Guardiola treinador havia de sonhar e criar uma equipa e um futebol que não se prendiam a estes conceitos, um futebol que fluía e não parecia ter um princípio nem um fim e por isso fazia crescer cada um. E que tinha um conjunto único de jogadores e que tinha Xavi, a quem chamaram seu herdeiro, como cérebro, visão e inteligência, mas também com muito mais golo.

Mas isso foi onze anos depois desta imagem. Aqui estamos a 24 de abril de 1997. Nessa época, este foi golo único de Guardiola. Mas especial, confirmou o apuramento do Barcelona para a final de uma competição que já não existe, a Taça das Taças, em casa da Fiorentina. A primeira mão no Camp Nou acabou empatada a um golo, na segunda o Barça mais português de sempre venceu por 2-0. Com Vítor Baía, Fernando Couto e Luís Figo no onze.

O primeiro golo do Barça marcou-o Couto, de cabeça na área depois de um livre. O segundo foi de Guardiola, também um livre.



E na imagem da Reuters que nos serve de ponto de partida vemos o capitão a festejar esse golo, como um menino feliz.



Guardiola estreou-se na equipa principal do Barcelona a 16 de dezembro de 1990, tinha 19 anos. E nesta segunda-feira, 18 de janeiro, celebrou 45 anos. Efemérides tão boas como outras quaisquer para falar do homem agora de meia-idade que já ganhou tudo o que era possível ganhar, que definiu o futebol dos tempos que correm como ninguém, mas está muito longe de se sentir pronto a acomodar-se.

Ao fim de quatro épocas decidiu deixar o Barcelona, depois de ganhar duas Ligas dos Campeões, dois Mundiais de clubes, três campeonatos de Espanha. Fez um ano sabático e assumiu o Bayern Munique. Três anos depois, decidiu voltar a mudar. Com dois títulos de campeão da Alemanha no bolso, a caminho do terceiro, e para já duas meias-finais da Liga dos Campeões, a terceira ainda se joga.

Motivação, sempre. Afinal, Pep já ganhou o mundo, mas não teve muito mundo, como ele próprio diz. «É apenas a segunda vez que eu estou num clube», observava há duas semanas, a explicar porque quis deixar o Bayern: «Três anos bastam. Preciso de um novo desafio.»

O novo desafio será a Premiership, decidiu Guardiola. Não lhe faltam convites, assumiu também, ainda que tenha lamentado se feriu suscetibilidades entre os treinadores dos grandes ingleses quando o disse.

Na próxima época estará noutro futebol, noutro campeonato. Por um novo desafio, por novas conquistas, sim, mas também pelo gozo puro, como o de um golo especial. Ou vários. Por momentos como aquele de Florença. Ou este, quando viu Lewandowski marcar o quinto golo ao Wolfsburgo em nove minutos.