[texto original de 14 de janeiro de 2015]



25 de maio de 2005, faz daqui por uns meses dez anos. Final da Liga dos Campeões no Ataturk de Istambul, ao minuto 54 o Milan vence o Liverpool por 3-0. É nesse momento que Riise cruza para a área. E que Steven Gerrard salta e cabeceia para a baliza.



A imagem da Reuters que serve de mote a este artigo diz o resto. O gesto do capitão depois do golo toca a reunir e diz aos companheiros que sim, ainda é possível. O que se passou a seguir é história. Dois minutos depois Smicer fez o 3-2 e aos 60 minutos Gerrard caiu na área, pressionado por Gattuso, e cavou o penálti que, convertido por Xabi Alonso, igualou tudo outra vez. Prolongamento, decisão nos penáltis. O Milan falhou dois, o Liverpool um.


Quando Shevchenko bateu o quinto do Milan e Dudek afastou a bola, tinha acabado. O Liverpool era campeão europeu. Não foi preciso que o capitão dos Reds assumisse o último penálti para os seus. Mas era ele, Steven Gerrard, quem iria batê-lo. Quando falamos de um capitão falamos de Gerrard em Istambul. Liderou, assumiu responsabilidades, decidiu e venceu.





Foi ele o homem daquele jogo, aquela final é o momento que a história recordará sempre quando falar de Steven Gerrard. O homem que no final da época deixará de ser de um clube só, formalmente, mas que na verdade simbolizou o seu clube como poucos outros.


Chegou a Liverpool com nove anos, partirá aos 35. Uma vida inteira depois. Termina contrato no final da época, decidiu não renovar porque não queria ficar como lhe propunham. Não queria tornar-se gradualmente irrelevante, figura simbólica a ver as coisas acontecerem a partir do banco ou da bancada.


Estreou-se na equipa principal, ao longo de 17 anos ganhou, além da Liga dos Campeões de 2005, uma Taça UEFA, Taças de Inglaterra, Taças da Liga inglesa e Supertaças Europeias. Nunca ganhou uma Premier League. Poucas vezes esteve tão perto como na época passada. Mas escorregou no jogo com o Chelsea, onde o Liverpool chegava líder, abrindo caminho à vitória dos Blues e à derrocada dos Reds, que acabariam ultrapassados pelo Manchester City na meta.


Gerrard foi o Liverpool ao longo de quase duas décadas conturbadas de um dos históricos do futebol inglês. Ganhou, também falhou, ao longo de 700 jogos e mais de 180 golos marcados. Ao longo deste tempo passou muita gente por Anfield. Grandes estrelas, também. E sempre, no meio-campo ou muitas vezes noutras posições, onde precisaram dele, Gerrard.


As palavras do treinador Brendan Rodgers quando ficou confirmada a saída do 8 de Anfield prestam-lhe o melhor tributo: «Ele pôs sempre o clube à frente dele próprio e esse é o seu grande legado.»


Teve oportunidades de sair. José Mourinho, por exemplo, tentou contratá-lo por mais de uma vez. Mas ficou. Até agora. Vai para os Estados Unidos, uma última experiência antes de dizer adeus aos relvados. Depois talvez volte para o seu clube de sempre, noutro papel. Volte ou não, ele é Liverpool.