16 de maio de 1979, o Barça ganha a primeira Taça das Taças, a sua Recopa, e não é um título qualquer. Trinta e cinco mil culés viajam até Basileia para apoiar a equipa no assalto ao primeiro troféu continental, se descontarmos, como devemos, a também extinta Taça das Cidades com Feira. Outros troféus europeus seguir-se-ão, mas o primeiro tem óbvio sabor especial para os catalães.

O Fortuna Düsseldorf é o rival. Fortuna era a deusa romana do acaso, da sorte (boa ou má), do destino e da esperança, e dá o nome ao emblema alemão, que historicamente se vê perseguido pelo mau karma.

A final é épica. Sete golos, três no prolongamento, depois do penálti falhado por Rexach e com Krankl com a cabeça longe, junto da mulher – operada durante quatro horas depois de um grave acidente de viação, teve de levar uma transfusão de sete litros de sangue – e ainda Migueli a terminar o encontro com a clavícula imobilizada. É Joan Gaspart, à altura vice-presidente, quem tenta estabilizar emocionalmente o austríaco, ao mostrar-lhe uma gravação com a mulher, já acordada da cirurgia, a desejar-lhe boa sorte para o encontro.

A salvação da época catalã

O Barça está longe de ser uma equipa motivada. Eliminado da Taça da Rei e afastado da luta pelo título pela 18ª vez nos últimos 19 anos, a Taça das Taças é a última oportunidade para salvar a época. Depois de ter afastado Ipswich Town, Anderlecht e Inter de Milão tinha agora pela frente os alemães do Fortuna Dusseldorf.

Não eramos favoritos perante este onze de top do Barcelona. Mais de 30 mil tinham viajado desde Espanha, e ver bandeiras amarelas e vermelhas por todo o lado era impressionante» (Thomas Allofs)

O Fortuna tinha sido campeão no longínquo ano de 1933, e apenas ganhará a DFB Pokal dentro de algumas semanas e depois daí a um ano. O futuro não seria feliz para lá dessas duas festas. Em 2002, as dívidas acumuladas provocariam uma descida vertiginosa na hierarquia do futebol germânico.

Entrega não faltou em Basileia.

Cinco minutos e golo do Barça

A final não pode começar melhor para os espanhóis, grandes favoritos. Aos cinco minutos já vencem. Carles Rexach recebe a bola em zona central, passa facilmente por Kohnen e Tente Sánchez já entra na direita, à frente de Hubert Schmitz, na área. O passe apanha o líbero Gerd Zewe fora de posição, e o companheiro só tem de fazer o resto.

No entanto, a festa dura pouco. Três minutos depois, aos oito, o Fortuna empata. O golo não tinha feito mossa nos germânicos, que participavam na Oberliga West, uma das cinco ligas regionais que antecederam a criação da Bundesliga em 1963, e que disputavam com Dortmund, Schalke e Colónia, e eram sobretudo muito fortes nas competições a eliminar, apesar de não terem vencido nenhuma das cinco finais de Taça disputadas. É o título alemão ganho pelo Colónia, vencedor da final de 1998, que lhe garante o passaporte para a Taça dos Vencedores das Taças. Um pouco de boa fortuna, no meio de tanta má.

O remate de Rudi Bommer não leva muita força, mas tapado por várias pernas o guarda-redes Pedro Artola larga a bola para a frente. Thomas Allofs, o irmão Klaus e o defesa Migueli lutam pelo ressalto e passará a linha de golo. Terá sido Klaus Allofs a marcar. É ele, o 10, o mais efusivo nos festejos.

Grande primeira parte!

O jogo está frenético. Mais quatro minutos, e Zewe chega atrasado ao tackle perante Carrasco e faz penálti. Carles Rexach falha um dos poucos da carreira, permitindo a defesa a Daniel.

Durante a corrida ele abrandou ligeiramente para ver se eu me lançava para um dos lados, mas aguentei até ao último momento possível» (Jorg Daniel)

O guarda-redes volta a mostrar argumentos logo depois, numa excelente intervenção a um remate de Juan Manuel Asensi depois de cruzamento de Neeskens.

É, aos 34 minutos, numa recarga a um remate de Lobo Carrasco que Asensi, mais rápido do que toda a gente a reagir, coloca o Barça de novo na frente.

Novamente dura pouco, apenas sete minutos, com Seel a assinar nova igualdade. Aos 41 minutos, um enorme passe longo encontra Wolfgang Steel solto na área, e o extremo remata de primeira para as redes, com um toque de classe.

Estamos convosco, rapazes!», lia-se numa faixa carregada por um dos dez mil alemães presentes nas bancadas.

Os adeptos do Fortuna e a mensagem de apoio.

Mais três golos a acabar

Depois de uma segunda parte estéril, de bonança, o prolongamento voltaria a ser de tempestade. Os espanhóis tinham até aí sido perigosos nos cantos e livres laterais, os alemães respondiam com os remates de meia-distância de Klaus Allofs. Com o tempo a apertar tudo se precipitaria.

Aos 103, Rexach redime-se do penálti. Recebe uma bola longa na área, aproveita a escorregadela de Zewe, vira-se e remata. A bola ainda desvia no alemão caído e trai Daniel. Está feito o 3-2.

Mais oito minutos, o fantástico Neeskens usa toda a sua inteligência e coloca a bola em Lobo Carrasco, que decide fintar em vez de seguir para a baliza. No último momento faz a bola passar entre dois alemães e chegar a Krankl, que não perdoa.

O golo de Krankl.

Vejo que Carrasco pode fazer o golo, mas ele não é um goleador. Sabe driblar, mas não marcar golos, por isso decidi acompanhá-lo» (Krankl)

A seis minutos do fim, o bis de Seel, rápido a reagir a novo ressalto, não vale mais do que um tento de honra. Terão sido os seis minutos mais longos da história culé. Camp Nou tinha finalmente a sua taça.

«Preferia ter jogado mal e ganho a taça, do que jogar bem e perder outra vez» (Seel)

Cinco semanas mais tarde, o Fortuna – nunca o nome terá sido tão apropriado – quebrará o enguiço. Ganhará a taça na sexta final – com Seel a aproveitar um passe terrível para o guarda-redes do Hertha, a quatro minutos do final do prolongamento, para assinar o golo do triunfo –, e repetirá a conquista no ano seguinte. Para o emblema alemão, o jogo de Basileia permanecerá, no entanto, como o maior da sua história.

O jogo completo:

FICHA DE JOGO

Estádio Saint-Jakob, em Basileia (Suíça)
Final da Taça dos Clubes Vencedores das Taças
16 de maio de 1979
Árbitro: Károly Palotai (Hungria)

BARCELONA – Artola; Zuviría, Migueli, Costas (Martínez, 67), Albaladejo (De la Cruz, 58), Sánchez, Neeskens, Asensi, Rexach, Krankl, Carrasco​

​FORTUNA DÜSSELDORF – Daniel; Brei (Weikl, 24), Zewe, Zimmermann (Lund, 4), Baltes, Köhnen, Schmitz, Thomas Allofs, Klaus Allofs, Bommer, Seel

Marcadores: 1-0, Sánchez (5); 1-1, Klaus Allofs (8); 2-1, Asensi (34); 2-2, Seel (41); 3-2, Rexach (103); 4-2, Krankl (111); 4-3, Seel. (114)