Há momentos que marcam decisivamente uma carreira. Para o bem ou para o mal. Olhe-se para o caso de Nuno André Coelho, arremessado por Jesualdo Ferreira para o jogo com o Arsenal: estreia na Liga dos Campeões, posição absolutamente nova, 45 minutos compreensivelmente medíocres e o inevitável sacrifício ao intervalo.
Que danos colaterais poderá sofrer o percurso do jovem defesa central depois desta infeliz amostra? Mergulhemos no passado em busca de uma resposta.
Também para a Champions, há 13 anos, assistimos a uma situação análoga. O F.C. Porto disputava em Old Trafford a passagem às meias-finais. António Oliveira treinava a equipa e adorava surpreender. Fazia disso uma obsessão. Voltou a fazê-lo diante do ManUtd e tudo correu mal. Os dragões perderam 4-0 e hipotecaram a participação europeia.
As opções de Jesualdo: sete surpresas e sete derrotas na Europa
Nesse onze lançado por Oliveira, um nome destacava-se dos demais: Costa, João Costa. O médio tinha 23 anos, escassos minutos na equipa principal do F.C. Porto e muitas esperanças. Esperanças rapidamente decepadas, como relata agora ao Maisfutebol.
«A meio da primeira parte já perdíamos e eu saí para entrar o Jardel. Ao contrário do que aconteceu com o Nuno André Coelho, a comunicação social da altura caiu toda em cima de mim e não apontou nenhum erro ao António Oliveira», recorda, evidentemente magoado.
«Esse jogo foi fundamental para o meu trajecto. Principalmente no F.C. Porto. Fiquei marcado pela noite em Manchester.»
«O Oliveira gostava de fazer surpresas»
Os factos são arrasadores. De unidade prometedora, Costa passaria num ápice a elemento descartável. Aguentaria ainda mais uma época sem oportunidades de dragão ao peito, antes de se entregar ao ocaso. Jogou no Rio Ave, V. Guimarães, V. Setúbal, D. Chaves, Trofense, Louletano e Merelinense, sempre ensombrado pela maldição de Old Trafford.
«O meu caso e o do Nuno são ligeiramente diferentes», acrescenta João Costa. «Eu joguei na minha posição. O Oliveira gostava de fazer surpresas nos jogos grandes e confidenciou-me que eu ia entrar num jogo grande. Mas nunca me passou pela cabeça que fosse em casa do ManUtd.»
Da ilusão à realidade vai uma enormidade. Costa deixou o mundo dos sonhos, do encanto, e foi de encontro à mais dura das certezas. Sem uma única palavra de amparo. «O Oliveira não falou comigo pessoalmente. Senti um nervoso miudinho normal, mas tinha esperança de que o jogo corresse bem. Infelizmente não foi isso que aconteceu.»
Costa chegou «irritado e frustrado» ao balneário. Pressentiu a queda, a vertigem. Não se enganou.
«A culpa não foi do Nuno André Coelho»
O paralelismo entre João Costa e Nuno André Coelho é óbvio. Mas o antigo médio, integrante da Selecção Nacional de sub-20 no Mundial de 1993, acredita que o central pode escrever uma história bonita no futuro.
«Se eu falasse com o Nuno André Coelho dir-lhe-ia para levantar a cabeça, porque é muito jovem e tem muito pela frente. Ainda por cima foi para uma posição que não era a dele. O jogo não correu bem à equipa, mas a culpa não foi dele.»
Nuno André Coelho agora, como João Costa há 13 anos. Há histórias que se repetem.