Leia a primeira parte da biografia

Curiosamente, apesar da sua estatura mediana, Simões realizou ao longo da sua carreira vários golos de cabeça. «Marquei de cabeça a todos os grandes guarda-redes portugueses», recorda o jogador, acrescentado que tal se ficou a dever «a momentos de oportunidade, em situações de vôo ou de desvio». «É que eu só jogava no primeiro andar», brinca o internacional português.

Simões foi muitas vezes comparado ao espanhol Gento, uma das figuras de referência do Real Madrid, vencedor de seis Taças dos Campeões pelos merengues. O internacional português discorda. «O jogador que vi alinhar no mesmo lugar que eu e que, em certa medida, tinha algumas parecenças com a minha forma de jogar é o Chalana», salienta.

Numa carreira feita de grandes glórias António Simões teve, também, momentos difíceis. Uma das situações mais complicadas da sua vida foi vivida pelo extremo encarnado simultaneamente dentro e fora das quatro linhas.

«Tenho duas filhas, sempre quis ter um rapaz e isso aconteceu. Infelizmente, vinte e quatro horas depois de nascer ele faleceu. Nessa altura tinha um jogo importante: o Benfica queria ganhar um Campeonato sem qualquer derrota e isso acabou por acontecer. A 22 de Março de 1972 estava em estágio e tinha um dilema: reunia ou não condições para jogar. Foi uma decisão extremamente difícil porque, sendo do foro pessoal afectava também o desportivo. Decidi jogar e, ironia do destinho, Deus quis que ganhássemos por 1-0. Eu marquei o golo», recorda Simões com emoção.

Eleger o momento mais marcante de uma longa carreira é difícil para o internacional português. Como tal, Simões prefere escolher mais de uma década ao serviço da equipa da Luz. «O ter estado no Benfica durante 16 anos é o momento de grande glória e de grande referência para mim. Foram 750 jogos, muitos títulos e muito sucesso. Quem passa por aqui não tem de escolher um momento. Eu tive a felicidade de viver 16 anos de momentos muito especiais.» António Simões não esconde a emoção quando fala numa carreira, em grande parte construída na Luz. Um estádio que deixou em 1975, numa altura em que Portugal vivia momentos políticos muito agitados.

Devido às suas opções políticas, Simões considerou que seria a altura de deixar o Benfica e o país. «Senti que, pelas minhas opções, poderia haver alguma contestação, ainda que minoritária, a meu respeito como profissional», recorda Simões, que acabou por abandonar o clube sem a habitual festa de despedida feita em homenagem aos jogadores.

Ainda chegou a treinar no Estoril Praia e no União de Tomar, no final da época 1974-75, para se «manter em atividade». Pouco tempo depois rumava aos Estados Unidos, repetindo a história do seu pai, também ele em tempos emigrante na América.

«Com a temporada nos EUA ganhei muito do ponto de vista profissional, o que hoje contribui para ter algum índice de confiança naquilo que faço. Foi uma decisão que não deixou de ter os seus custos, mas da qual não me arrependo», garante.

Passou por Boston, San José da Califórnia e Dallas, sempre em clubes profissionais da Major Soccer League e da North American Soccer League. No Verão de 1979, alinhava então numa equipa de Dallas, António Simões terminou a carreira, num encontro em que marcou um golo e foi eleito o melhor jogador em campo. «Nessa noite senti muitas coisas, talvez até conflituosas. Por um lado o dever cumprido, mas por outro uma imensa pena... gostaria de continuar.»

Aos 36 anos António Simões deixou os relvados. Depois de passar pela equipa técnica do Dallas tornou-se treinador principal em Phoenix, onde permaneceu durante dois anos. Em Portugal passou pela selecção nacional de futebol feminino, pelo Marítimo, pelo Benfica e pelas seleções jovens, até que aceitou fazer parte da equipa técnica de Carlos Queiroz na seleção do Irão.