Nelo Vingada, treinador português que comandou a seleção da Arábia Saudita na década de 90, analisou o fenómeno saudita e concordou com Cristiano Ronaldo, que disse que os campeonatos europeus têm vindo a perder qualidade.

«Nos últimos dois ou três anos, perderam um pouco aquela chama vibrante de a gente se sentar, estar a ver e, às vezes, mudar de um jogo em Espanha para um na Alemanha ao fazer ‘zapping’. A Liga portuguesa é boa entre as seis melhores. Vê-se pelos resultados que as equipas têm nas provas europeias», disse à agência Lusa o treinador de 71 anos.

«As Ligas francesa, italiana e alemã perderam claramente. Em Espanha, os outros clubes foram tão fracos [em 2022/23] que o Barcelona acabou por ser campeão sem grande competitividade, com dez pontos de vantagem e muito cedo. A própria seleção portuguesa tem hoje nomes de maior referência a nível mundial do que algumas destas nações, que, de facto, são grandes e impactantes. Neste momento, perguntamo-nos quem é o jogador alemão de referência e não nos lembramos nem sabemos muito bem. Em Espanha, há o Pedri e mais dois ou três miúdos, mas veremos aquilo que darão», analisou Nelo Vingada.

Nos últimos anos têm sido cada vez mais os casos de jogadores mundialmente conhecidos a rumarem ao Médio Oriente, um cenário que se acentuou após a decisão de Cristiano Ronaldo em dar um novo rumo à carreira no início deste ano. «Ele [Cristiano] esteve sempre em qualquer sítio como a referência número um. Penso que a última experiência em Manchester foi marcante e, provavelmente, sentiu que passaria para um plano secundário com o andar inevitável da idade se continuasse ao mais alto nível ou ia então para um futebol em que as exigências são menores, de forma a manter-se como o mais mediático, interventivo e idolatrado e ser muito prestável no seu rendimento. A isso, juntou um valor astronómico e tornou essa sua felicidade ainda mais dourada», abordou.

Para Nelo Vingada, a presença de Ronaldo na Arábia, ainda que bastante vantajosa em termos estratégicos para quem gere o futebol no país, não é suficiente para, por si só, colocar a Liga saudita num «nível brutal». Até porque, apesar dos progressos evidentes, é preciso ainda trilhar um caminho longo. «Os primeiros jogos a seguir à chegada dele tinham lotação completamente cheia, mas, à medida que o campeonato foi avançando e o Al Nassr perdeu o primeiro lugar para o Al-Ittihad, era visível e facilmente detetável pela televisão que havia muito menos gente nos estádios. Isso é um pouco a cultura árabe, do oito ao 800. Quando estão bem, querem e sentem entusiasmo, aderem. Agora, também fraquejam e dizem adeus à mínima coisa», atestou o técnico ainda em declarações à Lusa.