As pessoas que genuinamente se preocupam com o futebol, em Portugal, ficam sempre tristes e descrentes quando chegam as primeiras críticas ao trabalho dos árbitros.
Eu, que também já me esforcei por estar do lado dos justos, compreendo o desencanto. Parece que isto nunca muda, que são sempre os mesmos (ou pelo menos parecidos) a dizer as mesmas coisas, nas mesmas ocasiões.
E de facto são. E de facto há coisas que não se alteram.
Mas convém olhar para isto com algum distanciamento e perspectiva histórica.
Há um ano, por exemplo, estava muito pior. Já tinha havido uma espécie de greve e um senhor dos distritais tinha dirgido um jogo com televisão.
Portugal ainda não tinha tido um árbitro numa final da Liga dos Campeões e de um Campeonato da Europa. Pode parecer que não, mas serve pelo menos para envergonhar.
Mais importante do que tudo isto, hoje aparecem críticas e o responsável pelos árbitros sai a público a defendê-los. Pode fazê-lo porque sabe que está integrado numa estrutura que compreende as dificuldades, que gosta do jogo e que está lá para defender o futebol. Acresce que essa pessoa foi um dos melhores árbitros de sempre em Portugal e está a realizar um bom trabalho.
Vivemos um tempo magnífico. Não tenho qualquer estudo de mercado que o prove, mas sinto que no fundo os adeptos acham que os árbitros fazem melhor trabalho do que os dirigentes. E um trabalho muito mais difícil, de resto. Se pusermos de um lado os fora-de-jogo e do outro as contas no vermelho e os salários por regularizar, percebe-se quem está melhor.
Por fim, e talvez o mais importante, este é um tempo em que muitas pessoas passaram a preocupar-se com aquilo que realmente importa nas suas vidas. É pena, é por maus motivos, mas é assim. Por entre troika, tsu, irs, iva e outras siglas, os comunicados sobre erros de arbitragem são apenas pueris.
É por tudo isto que nunca estive tão otimista quanto à qualidade da arbitragem portuguesa. No fundo, as pessoas sabem que estes gritos só duram umas horas, no máximo uns dias. São como aquelas estaladas que os animadores de festas infantis distribuem uns pelos outros, para gerar riso fácil nas crianças: exageradas, apalhaçadas, falsas.
Este fim-de-semana haverá outra vez campeonato e sinto que, hoje, posso confiar nos árbitros portugueses (uns melhores outros piores, claro). Isto é muito mais do que tivemos durante décadas. E até mais do que eu posso escrever sobre os dirigentes desportivos.