Declarações de Carlos Xistra, árbitro internacional que terminou esta noite a carreira, no encontro entre o FC Porto e o Moreirense, na flash interview da SportTV. O juiz retira-se depois de 20 anos na I Liga:

[O que foi sentindo ao longo do dia?] Foi um misto de sensações. Muita nostalgia, são 28 anos de carreira, 20 dos quais na I Liga. Sensação de dever cumprido, ou pelo menos a tentativa de cumprir. Dei sempre o meu melhor. Nem sempre acertei, queria acertar muito mais do que aquelas que acertei. O problema é que quando erramos, erramos sempre a favor de uns e em prejuízo de outros. Daí o facto de nós não sentirmos tão protegidos como devíamos. Os árbitros trabalham muito para acertar todas as decisões do jogo.

Fazia um apelo aos jovens que por um motivo ou por outro não consigam singrar no futebol que pensem em tentarem ajudar o futebol desta forma, como árbitros. Tive o privilégio de interagir e conhecer os melhores treinadores e jogadores.

[Quais as recordações?] As finais, os grandes jogos, os jogos mais mediáticos. Felizmente tive alguns na minha carreira. Nós somos como os jogadores em tudo, preparamo-nos durante a semana e estamos sempre à espera que esses momentos ocorram.

[Momentos menos bons] Claro que tive, principalmente quando os jogos não correm bem. É importante que as pessoas percebam que tentamos dar sempre o nosso melhor. O dia a seguir a um jogo menos conseguido é muito mais penoso do que um jogador, um jogador tem uma equipa a apoiá-lo. Nenhum arbitro é masoquista e maquiavélico ao ponto de querer ser notícia e nós só somos notícia quando erramos. Tentamos acertar tudo. As pessoas que percebam isto de uma vez por todas. Queremos ser melhores e defender o futebol. Fazemos isso diariamente, só que erramos como os jogadores erram e isso faz parte.

[Futuro passa pela arbitragem?] O futuro a Deus pertence, há aí algumas situações que não estão fechadas e não quero adiantar muito o que pode acontecer.

[Significado da família e dos amigos] Os meus colegas sabem tão bem quanto eu o que isto significa. A família é o nosso suporte, não só a família direta, mas também a indireta. Muitas vezes têm de tratar dos nossos filhos, sacrificam-se muito por nós. Eu e os meus colegas sabemos o quanto isto significa. Só nos é que sabemos o que a nossa família sofre quando as coisas não correm bem.

[As lágrimas são por eles?] Sim, por toda a gente que me ajudou. Não posso esquecer os que me incentivaram a tirar o curso e aqueles que já partiram, nomeadamente o meu pai. Tive essas pessoas que me ajudaram a construir uma carreira sólida para que pudesse tirar os melhores proveitos desta profissão. Fazendo um balanço da minha carreira, os bons jogos e as alegrias suplantaram claramente as tristezas.»