«Imagine que você está no fim da rua e eu tento falar consigo. Tem de ser por gestos e será difícil você perceber exactamente o que eu quero dizer. É o que acontece actualmente na comunicação entre os árbitros, durante os jogos. Com os auriculares, dá-se um tremendo salto evolutivo e passamos para a era dos telemóveis, da comunicação verbal em tempo real». Lucílio Baptista, o primeiro árbitro a utilizar um sistema de auriculares num jogo da principal Liga portuguesa, explica ao Maisfutebol as vantagens dos aparelhos que são presença regular nos campeonatos mais poderosos da Europa, como Inglaterra, França ou Alemanha.
O árbitro internacional utilizou o sistema no Boavista-D. Aves (2-1), no passado sábado, e pretende contribuir para o constante aperfeiçoamento de um projecto que, à partida, promete trazer enormes vantagens. Lucílio Baptista comunicou com os seus assistentes e o quarto árbitro através de um conjunto de microfones e auriculares que permitem a constante troca de opiniões e informações. «Normalmente, o árbitro fica sempre com o canal aberto, enquanto os restantes carregam num botão quando pretendem comunicar. Se ficarmos todos com o canal aberto, torna-se mais complicado», refere.
Nada melhor que exemplos para comprovar a tese: «Nas constantes lutas de braços na área, em que o árbitro está, por vezes, de costas, o auxiliar pode chamar a atenção para determinado par de jogadores: Cuidado, repara aí naquele que está mais à tua esquerda, está a agarrar o outro. Também se podem evitar as confusões que surgem na altura de indicar ao quarto árbitro os minutos de descontos ou mesmo nos cartões amarelos. Muitas vezes, vocês, jornalistas, e os próprios auxiliares ficam com dúvidas sobre quem viu o cartão amarelo. Assim, o árbitro principal comunica, verbalmente, aos restantes elementos da equipa quem foi o visado.»
Dois árbitros portugueses com direito a um auricular personalizado
O sistema foi estreado pela FIFA no Campeonato do Mundo de 2002 e é utilizado em países como França, Inglaterra ou Alemanha. A UEFA já aderiu à moda e dotou os cerca de 50 árbitros do «Grupo de Elite» com auriculares personalizados, utilizados na Liga dos Campeões e na Taça UEFA. Lucílio Baptista e Olegário Benquerença são os únicos portugueses a fazer parte desse lote e os responsáveis pelos primeiros testes no nosso país, autorizados pela Comissão de Arbitragem da Liga, que está a avaliar o modelo. Olegário Benquerença estreou o seu sistema de comunicação no Leixões-V. Guimarães, da Liga de Honra, na semana anterior, antes de Lucílio Baptista fazer o mesmo no Boavista-D. Aves.
O custo. É este o principal obstáculo à adopção do modelo nas competições profissionais. Cada conjunto de microfones e auriculares para uma equipa de arbitragem custa cerca de «cinco mil euros», número avançado por Lucílio Baptista. Resta esperar pelo progressivo aperfeiçoamento do sistema e a consequente redução dos montantes envolvidos. «Actualmente, utilizados um sistema aperfeiçoado, em relação ao que sucedeu no Mundial, e para Fevereiro de 2007 está prevista nova actualização. Com isso, os custos podem baixar. Estão a ser feitas avaliações e vamos esperar para ver o que o futuro nos reserva. Não há dúvidas sobre a extrema utilidade do sistema, mas nós árbitros somos apenas operacionais. Quem deve decidir sobre a implementação do sistema são as instâncias», conclui o árbitro internacional.