Obstinado pela perfeição, coriáceo na defesa dos árbitros e liberal na adopção da tecnologia em benefício do futebol. Talvez seja uma forma algo redutora de definir Keith Hackett, o «chefe» dos árbitros profissionais de Inglaterra, mas o núcleo comportamental do dirigente é este. Na entrevista que concedeu ao Maisfutebol, explicou a forma como funciona o tão aclamado «modelo inglês de arbitragem» e ainda teve tempo para dar algumas elogiosas achegas ao colectivo dos juízes lusitanos.
«Parece-me óbvio que o ideal é ter árbitros profissionais. É importante poder escolhê-los e geri-los adequadamente, apesar de as pessoas pensarem que por serem profissionais não podem cometer erros», adiantou Hackett, enquanto historiava a implantação do profissionalismo na Premier League.
«Este é o sexto ano que temos árbitros profissionais. Começámos com 26 juizes e actualmente temos 18, mas estamos preparados para usar árbitros dos escalões inferiores também. Pontualmente, damos-lhes a oportunidade de fazer um teste ao mais alto nível e, se tudo correr bem, podemos oferecer-lhes um contrato para ficarem connosco.»
«Erros são naturais. Não posso defender o indefensável», explica Keith Hackett
Objectivamente, a empresa dirigida por Keith Hackett escolhe os 18 árbitros que entende serem os melhores, oferece-lhes dois anos de contrato e, a partir daí, são as actuações dos juízes que ditam a sua permanência ou exclusão. «Fazemos contratos de dois anos com cada árbitro. Se entendermos que no final desse contrato ele não é suficientemente bom para continuar, fazemos algum tipo de acordo financeiro com ele», explica Hackett que, «ainda no último Verão», despediu dois juízes.
Quando lhe falámos em suspeição ou corrupção no seio da classe que dirige,Keith Hackett sorri e responde despudoradamente, como se tais conceitos não existissem.
«Acima de tudo, tento falar muito com os treinadores e explicar as decisões dos árbitros. Mas não posso defender o que é indefensável. Há situações em que só me resta pedir desculpa e esperar que não volte a suceder. As pessoas cometem erros, na vida e no futebol. O que eu tento fazer é reduzir ao máximo esses erros.»
Collina, «o modelo perfeito de árbitro»
Para final de conversa, dois temas em cima da mesa: a qualidade dos árbitros portugueses e o modelo perfeito de árbitro. Keith Hackett começou por uma visita que fez há dois anos ao nosso país.
«Quando estive cá, num estágio dos árbitros, fiquei impressionado com a capacidade física de quase todos eles, bem como com a camaradagem que os envolve. Não é habitual encontrar um ambiente tão bom. Se se tornarem profissionais, como a vossa Liga de Clubes pretende, com certeza terão a oportunidade de estar mais vezes juntos e poderão discutir e apoiar-se mutuamente. A arbitragem sairá beneficiada.»
Quanto ao juiz que mais admira em todo o mundo, a resposta pecou pela falta de originalidade. Mas saiu de forma sustentada. «O meu favorito era o Pierluigi Collina. Estamos agora num novo período onde existem muito bons árbitros, como o Graham Poll, Lubos Michel e outros, mas aguardamos um sucessor à altura de Collina. Era respeitado mesmo antes de entrar no relvado e as suas decisões não eram contestadas. Mas a sua grande mais-valia, em minha opinião, era acertar quase sempre nas decisões importantes.»