Rafael Bracali é um dos mais experientes guarda-redes da Liga, um excelente conversador e uma espécie de anti-vedeta.

Chega num carro utilitário a um café comum na zona da Madalena (em Vila Nova de Gaia), onde mora, para dar uma entrevista ao Maisfutebol. Mais do que uma entrevista, é uma conversa… sobre futebol, sobre a família e as suas origens.

Bracali, o “goleiro” de Jundiaí, que fez história no Paulista e deu nas vistas no Nacional, fala simples, sem rodeios, revela detalhes de um trajeto de altos e baixos em Portugal, que agora relança aos 34 anos, ao serviço do Arouca.

No FC Porto ficou desiludido em particular com a forma como saiu. Disseram-lhe que ia ser titular no dia em que soube da sua dispensa, conta numa das revelações que faz ao MAISFUTEBOL.


Quando rescindiu com o FC Porto rumou à Grécia, para jogar duas épocas no Panetolikos. Porque regressou agora ao Arouca?
Tinha a ideia de sair por dois anos e depois regressar. A partir de uma certa idade as nossas decisões passam a depender sobretudo da família. Tenho uma filha com seis anos e outra com três e tanto eu como a minha mulher achamos que regressar a Portugal era o melhor para a educação delas. Profissionalmente, compensava mais jogar na Grécia, mas o Panetolikos teve de reduzir o orçamento e baixou-me o ordenado, pelo que decidi sair ainda antes de ter qualquer proposta.

Já lá vamos à aventura na Grécia… Para a maioria dos adeptos, além da carreira no Nacional, o Bracali é conhecido pela ligação que teve ao FC Porto. Fez sete jogos na época 2011/12 e na época seguinte foi dispensado. Tem alguma explicação para isso?

Na época em que me transferi do Nacional para o FC Porto recusei propostas do Sp. Braga e do Sporting. No ano seguinte, não tinha nada: estava dispensado e sem clube. Subi e desci muito rapidamente. Tive de ir para o Olhanense contrariado, na sequência da contratação do Fabiano.

Foi forçado a sair?
Foi um processo desgastante. O FC Porto tinha-se comprometido a ceder um guarda-redes ao Olhanense e eu acabei por ser pressionado para aceitar aquela cedência. Pior do que deixar o FC Porto para jogar só para não descer de divisão era a falta de profissionalismo que havia no Olhanense.

Como foi dispensado?
Foi a maior das deceções da minha carreira. Aparentemente, o Fabiano tinha sido contratado mas iria ser emprestado. Fizemos juntos a pré-época: ele, eu e o Helton, que seria o primeiro guarda-redes. Na véspera de um jogo de preparação frente ao Santa Clara, nos Açores, o Wil Coort (ex-técnico de guarda-redes dos dragões) disse-me que eu ia ser titular. Fiz o treino de conjunto com a equipa titular. No final, cheguei ao balneário, por descargo de consciência fui ver a convocatória… E não vi lá o meu nome nos 26 convocados!



Foi assim que soube que estava dispensado?
Sim. Pedi para falar com o Vítor Pereira e ele explicou-me que não ia ter espaço para mim porque apesar de estar ao mesmo nível do Fabiano, ele era mais jovem e tinha uma margem de progressão maior para disputar o lugar com o Helton… E eu respondi-lhe: «Não há problema. Eu assumo o papel de terceiro guarda-redes. Só quero o direito de disputar o lugar como suplente do Helton.»

Não o convenceu, pois não?
Ele recusou. Disse-me que não tinha espaço para os três, mas que eu tinha qualidade para jogar em qualquer equipa em Portugal, e eu respondi: «Então agora arranje-me essa equipa.» Estávamos numa fase adiantada da pré-época, a maioria dos clubes já estavam servidos de guarda-redes.

Ficou magoado com Vítor Pereira?
Até temos uma boa relação. Aliás, quando na época passada ele foi contratado para treinar o Olympiacos ligou-me a pedir informações sobre o campeonato grego.

O seu pai criticou fortemente o FC Porto na altura…
Sim, disse que era um cemitério de guarda-redes. Ele conhece bem o mundo do futebol e, tal como eu, estava um pouco desiludido com toda a situação.

Como recorda a sua primeira época no FC Porto?
Cheguei uma semana depois de o André Villas-Boas ter saído para o Chelsea… O FC Porto vinha de um ano anterior excecional. O Vítor Pereira era o adjunto e de um momento para o outro teve de ganhar o respeito daqueles jogadores que haviam vencido tudo e tinham propostas tentadoras em mãos. Havia muitos jogadores valorizados, muita gente a querer sair...

No entanto, a época acabou bem…
A equipa só começou a melhorar depois de janeiro, quando passou aquela euforia de alguns que queriam sair no início da época ou em alternativa na reabertura do mercado, no inverno. Mérito do Vítor Pereira, que foi humilde, manteve a serenidade e soube conduzir o grupo.

Qual é a melhor memória que tem no FC Porto?
Lembro-me de dois jogos. Desde logo, aquele que praticamente decidiu o título 2011/12, na Luz, em que o James chegou às três da madrugada de um jogo da seleção da Colômbia, em Miami. Mal o vimos antes de seguir para o estádio… Depois, ele entrou na segunda parte e… lá resolveu o jogo, que marcou a reviravolta do campeonato.

E o outro jogo, qual foi?
Foi logo no início da época, a Supertaça Europeia frente ao Barcelona. Nunca imaginei estar ali naquele momento frente a uma das melhores equipas da história…

Pediu a camisola a alguém para guardar como recordação?
Passei do lado do Messi, mas aí apareceu o Souza e pediu-lha. Não me senti à vontade para isso. Perdemos o jogo e eu tinha acabado de chegar… Tive vergonha. Além disso, estava tão encantado que preferi ficar a desfrutar daquele momento. 

ARTIGOS RELACIONADOS:
Bracali: «Na Grécia, os árbitros são horríveis. Erram de propósito» 
Bracali: «No Olhanense, em doze meses recebemos três ou quatro»