Poucos meses depois da notícia da morte de Monteiro da Costa, o F.C. Porto recebe nova desfeita. Os proprietários dos terrenos avisaram o clube de que teria que abandonar o campo da Rainha. O ano de 1911 estava praticamente no fim. A nova direcção presidida pelo tenente Júlio de Lencastre começa imediatamente a procurar um terreno onde pudesse construir a nova casa portista. Encontra-o em Junho do ano seguinte. Ficava na Rua da Constituição, ali bem pertinho da Rua da Rainha, e tinha espaço suficiente para o campo de futebol, de ténis, a sede e muito mais. Decidiu-se imediatamente pelo aluguer do espaço. Ao preço de 350 escudos anuais.
Começaram de imediato as obras e a 29 de Setembro desse mesmo ano dá-se a mudança. A secretaria do clube começou a funcionar a 4 de Novembro num barracão mal acomodado. Em Maio do ano seguinte fica concluído um ringue de patinagem, uma iniciativa de um grupo de associados amantes da modalidade muito em voga nessa altura, que custearam as despesas e ofereceram as receitas ao clube. Mas o F.C. Porto ganhava dimensão e o rudimentar campo da Constituição, onde a sede ainda funcionava num velho barracão quase sem vidraças, já começava a não oferecer condições para os crescentes desafios do clube. António Pinto Faria propõe em 1920 então a compra dos terrenos anexos ao recinto, incluindo uma quinta e um palacete.
As negociações falham por um triz, mas falham, e dois anos depois o clube negoceia o espaço da Quinta das Oliveiras, na rua Barão de Nova Cintra, na zona de Campanhã. Com vistas para o Rio Douro, é projectado um complexo desportivo apresentado como o melhor do país, com salões de honra, restaurante, gabinetes, sala de leitura, courts de ténis, ringue de patinagem, ginásio, piscina, pista de atletismo e campo de futebol com lugar para 25 mil espectadores. Os proprietários da quinta quebraram o compromisso e com isso levaram o sonho. Mas indemnizaram o F.C. Porto em 20 contos.
As bancadas para remediar o irremediável
Como há males que vêm por bem, o clube aproveitou esse dinheiro para construir as bancadas que ainda hoje existem na Constituição. Remediou o problema, mas não o resolveu. Apenas adiou. A partir dos anos trinta, e com o gradual crescimento do clube, o campo da Constituição voltava a ficar demasiado curto para tão grandes compromissos. Um par de anos antes regressara a ideia de construção de um recinto próprio, mas morrera tão depressa como nascera. A solução passou então por alugar o campo do Ameal ao Sport Progresso, primeiro, e o campo do Lima ao Académico, depois, para os jogos grandes. O maior clube do Porto continuava com a casa às costas.
Pelo meio houve alguns jogos na Constituição marcados pelo insólito. Como em 1938 quando os jogadores do Sporting tiveram que esperar no relvado pela chegada de colegas presos na multidão que se amontoava à volta do relvado. A situação caricata - e os alugueres de outros campos - foi-se perpetuando até à construção de um novo recinto. A exiguidade do espaço da Constituição não permitia outra solução. O problema só foi mesmo resolvido em 1952 quando foi inaugurado o estádio das Antas. O campo da Constituição, entretanto adquirido, continuou a pertencer ao clube. Como ainda hoje pertence. Ainda em pelado e completamente obsoleto, serve a formação de base enquanto guarda um pedaço único da história do clube. Em plena rua da Constituição.