O Sporting quer que seja permitida a venda de bebidas alcoólicas nos estádios. Miguel Cal, administrador dos leões, disse hoje à agência Lusa que o objetivo é aumentar receitas, melhorar a «experiência em dia de jogo» e baixar riscos de segurança.

Segundo Miguel Cal, o assunto está a ser discutido em grupos de trabalho na Liga Portuguesa de Futebol Profissional (LPFP) e uma proposta de «alteração à lei atual, para que num futuro próximo seja permitida a venda de bebidas fermentadas de baixo teor alcoólico nos recintos desportivos em Portugal», está «em apreciação pelo parlamento».

O objetivo dos leões passa por aproximar Portugal das «melhores práticas internacionais», tendo o administrador indicado quatro pontos fundamentais, um deles relacionado com a questão do patrocínio, uma vez que 14 dos 18 clubes da I Liga são patrocinados por uma marca de cerveja, enquanto um outro, o Tondela, é apoiado por uma marca de vinho.

Em janeiro, a Super Bock foi anunciada como a cerveja oficial das competições profissionais de futebol, o que configura o segundo ponto para o Sporting, que pretende que o campeonato siga as práticas de Inglaterra, Itália, Alemanha, Holanda ou Bélgica, países em que a venda de bebidas de baixo teor alcoólico nos recintos desportivos é permitida.

A alteração por parte da UEFA do regulamento de segurança para as competições europeias, realizada em junho de 2018, já permite a venda de álcool nos jogos da Liga dos Campeões e da Liga Europa, desde que seja permitida pela lei de cada país.

Nessa linha, Miguel Cal apontou o exemplo do Chelsea, que obteve receitas mais elevadas após a autorização de venda de bebidas alcoólicas nos jogos europeus, permitindo um «aumento de receitas dos clubes», porque as pessoas «gastam dinheiro dentro dos estádios», mas também acabar «com a discriminação entre adeptos» da zona VIP, onde o consumo é permitido.

A alteração à lei permitiria também, segundo o responsável, «melhorar a experiência em dia de jogo, com a entrada das pessoas a ser mais espaçada, evitando as tradicionais filas antes do apito inicial» e a acumulação de pessoas que estão em torno do estádio.

Questionado sobre a possibilidade de a medida acarretar maiores riscos de insegurança dentro dos recintos, o administrador defendeu que se passa «precisamente o contrário», referindo estudos que mostram que a entrada ordeira nos estádios, em vez de acontecer em cima da hora do jogo, permite maior rigor na revista de segurança.

Por outro lado, o controlo do teor máximo permitido dentro dos estádios contrasta com o que os adeptos podem beber nas imediações dos recintos, sendo que outro fator de insegurança é a possibilidade de confrontos pela concentração de fãs «fora do anel de segurança do estádio», diz o administrador leonino.

Miguel Cal enfatizou que a pretensão não é só do Sporting e que está mesmo a ser liderada «pela própria Liga», lembrando um texto da diretora executiva, Helena Pires, que aborda o tema.

O secretário de Estado da Juventude e Desporto, João Paulo Rebelo, manifestou-se «sensível a alguns argumentos» favoráveis à venda de bebidas alcoólicas nos estádios.

«Sou sensível a alguns dos argumentos apresentados pela Liga e alguns clubes e também sei da iniciativa que o Sporting está a tomar. É uma lei da Assembleia da República (AR) e que só mesmo a AR pode alterar. Não há nada que se possa fazer através de uma qualquer iniciativa governamental», afirmou João Paulo Rebelo, em declarações à agência Lusa.

«É uma matéria que deve ser refletida, bem pensada e acho que a AR é o fórum ideal, porque é lá que estão as mais diversas sensibilidades políticas para se dirimirem argumentos e ter essa discussão, que, de alguma forma, levanta sempre uma certa controvérsia», apontou.

«O Governo conhece a reivindicação dos clubes que nos é regularmente apresentada pela Liga de clubes, mas a proposta que apresentamos de alteração à Lei [que regula o combate à violência, racismo, xenofobia e intolerância nos espetáculos desportivos] que está, neste momento, em discussão na AR não toca na questão de venda de bebidas alcoólicas, e, portanto, diria que o Governo não tem formalmente uma posição diferente da que hoje está consagrada na lei», frisou.

«Se achasse que essa era uma matéria prioritária, o Governo, com certeza, nas propostas de alteração que fez, teria enquadrado também essa questão. Não o fizemos, e por aqui se depreende que para o Governo não é uma matéria central», referiu.