Os três «grandes» estão a levar mais espectadores aos seus estádios esta época e a inflacionar os números gerais das assistências. Essa é a principal tendência após as sete primeiras jornadas da Liga, que está de volta a partir desta sexta-feira, depois de três semanas de paragem. Na II Liga o fenómeno Famalicão continua, com números melhores que várias equipas do campeonato principal. 

O Sporting lidera os números totais de espectadores, com 178.363 contra 167.169 do Benfica e 107.525 do FC Porto, sendo que tem mais um jogo em casa nesta altura que os principais rivais e também foi o único que já recebeu um jogo grande, o clássico com o FC Porto da 3ª jornada.

Em termos de média de assistências vai na frente o Benfica, sendo que ambos os rivais de Lisboa estão bastante acima dos dragões, tal como já aconteceu na época passada. De acordo com os números oficiais da Liga de clubes e contabilizando apenas o campeonato, o Benfica apresenta nesta altura uma média de 55.723 espectadores nos três jogos que já recebeu, para uma taxa de ocupação do Estádio da Luz de 86,20 por cento. O Sporting tem em média 44.591 espectadores e uma taxa de ocupação de 89.09 por cento em Alvalade. A média do FC Porto é de 35.842, para 71,64 por cento de taxa de ocupação do Dragão.

O jogo com maior assistência até agora foi o Benfica-Feirense da 7ª jornada, 58.637 espectadores. O pódio da Liga é dominado pelos três jogos já disputados na Luz: o segundo é o Benfica- V. Setúbal da 2ª jornada (56.351) e o terceiro o Benfica-Sp. Braga da 5ª jornada (52.181), que se jogou a uma segunda-feira. O Sporting-FC Porto (49.399) é o quarto jogo do ranking, enquanto o primeiro encontro no Dragão surge na oitava posição e é o FC Porto-V. Guimarães da 4ª jornada, com 40.105.

Nesta altura todos os chamados grandes melhoram a sua média de assistências em relação aos números finais da época passada, sendo a subida do Porto a menos acentuada. Serve de termo de comparação e revela para já apenas uma tendência, cuja evolução vai depender do campeonato, uma vez que ao longo da época há uma série de variáveis que poderão influenciar os números.

O caso do FC Porto dá uma boa noção de como o momento da equipa é importante também no que diz respeito à presença de adeptos no estádio, pelo menos na Liga portuguesa. Na temporada passada, com o deteriorar dos resultados e exibições da equipa, as assistências foram caindo com o andar da época. Nos 10 últimos jogos em casa, apenas no clássico com o Sporting, à antepenúltima jornada, o Dragão passou a barreira dos 140 mil espectadores, chegando aos 41.316. Atingiu o mínimo da época na derrota com o Tondela à 28ª jornada, 16.297 espectadores, a segunda pior de sempre para o campeonato na história do novo estádio, atrás apenas do jogo com o Penafiel na época anterior, com 16.009. E teve outro jogo abaixo dos 20 mil espectadores, o empate com o Rio Ave que acabou por precipitar a saída de Julen Lopetegui, em Janeiro: 19.116.

O ranking da Liga 2016/17 tem na quarta posição, como é hábito, o V. Guimarães. Com média bastante superior à da época passada (17.782 contra 12.422 espectadores), mas também com um dado a ter em conta, o facto de já ter recebido o Sporting e também o Sp. Braga. Quanto ao Braga, é ainda quinto, descendo ligeiramente em relação à época passada (10.336 de média, contra 11.168), não tendo ainda recebido nenhum dos grandes. Pelo contrário, o Rio Ave surge por agora na sexta posição, mas já recebeu tanto o FC Porto como o Sporting.

Segue-se o Marítimo, com média de 5.301 sem ter acolhido ainda nenhum dos encontros com «grandes», mas ainda assim inferior aos 6.146 com que terminou a época passada. Tal como o Boavista, com 4.625 espectadores de média, contra os 5.742 finais da temporada passada, igualmente sem ter ainda jogos com os grandes para contabilizar. E depois o recém-promovido D. Chaves, a fazer um muito bom início de época, partindo para a ronda 8 na quinta posição, e a fechar a primeira metade da tabela de assistências. Num valor (4.182 de média) inflacionado no entanto pela receção ao Benfica na 6ª jornada.

Restelo e Arouca, as quedas

Quanto a equipas em queda, o caso mais notável é o do Belenenses, atualmente nos 1.885 espectadores de média, contra os 4.461 com que fechou a temporada passada. A equipa do Restelo é penúltima na classificação atual, atrás apenas do Estoril, com média de 1.665, que também segue em tendência de baixa comparando com os 2.794 finais da época passada. Belenenses e Estoril não tiveram ainda jogos grandes em casa, tal como o V. Setúbal, a quarta pior equipa nesta altura, com média de 2.471 espectadores, bem longe dos 4.436 com que fechou 2015/16.

O Arouca também perde em relação à época passada e é nesta altura a terceira equipa a contar do fim, sendo que já recebeu o Benfica. Os 5.351 espectadores desse jogo representam a parte de leão do total de espectadores do Arouca, cujos outros três jogos em casa estão entre os que registaram as piores assistências da época: 740 espectadores com o D. Chaves, o recorde negativo do campeonato, 862 com o Sp. Braga, logo a seguir na lista, e 1.136 com o Nacional, à 2ª jornada.

Depois do excelente quinto lugar da época passada, o mau arranque da equipa de Lito Vidigal está obviamente a ter efeito nos adeptos no estádio, confirmando a tendência global.

O Famalicão, «facilmente explicável»

Tendência que torna ainda mais notável outro caso: o do Famalicão. É o clube com melhor média de assistências na II Liga, com 2.501 espectadores. Primeiro num ranking em que se seguem o V. Guimarães B (2.381), também um dado assinalável, para a única equipa secundária que consegue arrastar na II Liga um número substancial de adeptos, e ainda a Académica (2.378). Qualquer um destes clubes tem registos superiores a alguns da Liga, com o Famalicão à cabeça: melhor média que V. Setúbal, Arouca, Moreirense, Belenenses e Estoril.

Sendo que o Famalicão tem estes números apesar do mau arranque de época, com uma mudança de treinador recente, aliás bem antes da partida de Taça de Portugal com o Sporting, e apenas com duas vitórias em 11 jornadas esta época.

O Famalicão já foi a equipa com melhor registo de espectadores na época passada, a primeira no segundo campeonato profissional, depois de ter garantido a subida na época 2014/15. E era assim antes, ainda no tempo do Campeonato Nacional de Seniores. Se não, veja aqui.

O fenómeno «é facilmente explicável», diz ao Maisfutebol Jorge Silva, presidente do Famalicão, de resposta rápida: «Esta terra gosta de futebol e é bairrista, identifica-se com um clube que tem 85 anos e representa de um concelho de 140 mil habitantes.»

Mesmo com a equipa numa fase má, como tem acontecido agora. «Infelizmente os resultados não têm sido condizentes», diz Jorge Silva, para constatar o óbvio: «Não fora isso e estaríamos a falar de valores mais altos. Está entranhada nos famalicenses a identificação da cidade e do concelho com o emblema. Mas ter bons ou maus resultados não é indiferente. Se a equipa senior, que o Famalicão é muito mais que a equipa senior, estivesse melhor, a realidade seria muito melhor.»

O apoio dos adeptos é parte da essência e também da estabilidade do clube. Jorge Silva ajuda o Maisfutebol a enquadrar o peso das receitas de bilheteira e de uma base grande de adeptos na realidade de um clube como o Famalicão e explica que o peso das receitas de bilheteira não é assim tão grande.

O peso da bilheteira e o dos sócios

Os preços praticados pelo Famalicão para os jogos em casa andam normalmente pelo valor de um ou 2,5 euros, para sócios, e cinco euros, para não sócios. São valores «comuns nos clubes da II Liga», diz Jorge Silva, embora o Famalicão tenha especial cuidado, acrescenta, nos preços para os sócios:  «Privilegiamos e valorizamos muito os sócios. São um efetivo património do clube. Olhamos muito para eles, tentamos  dar condições a quem tem menos possibilidades.»

Mas no fim das contas não é da receita de bilheteira que vem grande lucro, explica o dirigente. «Tem um peso que não tem grande expressão no orçamento do clube. É claro que não desvalorizamos nem um cêntimo. A dificuldade de sobrevivência na II Liga é enorme», afirma: «Mas se a bilheteira pagar as despesas da organização do jogo não está mal», explica, falando de todos os custos associados a uma partida, como «policiamento, bombeiros, bilheteiros».

Jorge Silva diz que é difícil avançar um valor concreto, até porque as despesas variam em função do jogo, mas fala em qualquer coisa como dois mil euros. O custo que, desejavelmente, a bilheteira cobre.

Um valor essencialmente feito de adeptos do Famalicão. Ser o clube com adeptos mais «militantes» da II Liga também tem outro lado da moeda, diz, notando como os adeptos do Famalicão viajam com frequência para ver a equipa fora, mas o contrário acontece menos: «Normalmente levamos muita gente aos campos dos nossos adversários, os adversários não trazem ao nosso.»

Se as receitas de bilheteira não representam assim tanto nas contas do Famalicão, já o valor das quotizações tem um peso bem maior. O clube tem cerca de 6500 sócios, com quotizações mensais que vão dos zero euros para crianças até 16 anos aos cinco euros para sócios em geral, passando por 2,5 para jovens e reformados.  As quotizações representam, diz Jorge Silva, «cerca de 15 por cento» do orçamento do clube, que ronda o milhão de euros.

Os sócios estão lá, à espera que a equipa lhes dê alegrias. Nesta quarta-feira o sucessor de Ulisses Morais, Nandinho, estreou-se no banco com um empate na visita ao FC Porto B (1-1), apenas a segunda vez que a equipa somou pontos nas últimas cinco jornadas. Jorge Silva diz que optou pela mudança depois de ponderar bem e acredita que as coisas vão melhorar. «Temos muitas expectativas em relação ao Nandinho. Também, se a direção e o presidente não tivessem expectativas, mais valia irem embora e darem espaço a outro.»