Em 2008, Frederico Gil galvanizou o público português no Estoril Open quando chegou aos quartos de final para defrontar Roger Federer. Nos meses que se seguiram, Gil marcou presença em Roland Garros, Wimbledon e Flushing Meadows. Estavam a dar-se passos largos para a nova vaga do ténis em Portugal. No último fim de semana, João Sousa ganhou o Open da Malásia: o primeiro torneio ATP da história do ténis português. A fasquia está onde nunca esteve.

A nova geração do ténis português elevou o patamar com que se passou a olhar para a modalidade em Portugal. Neste ano de 2013, somaram-se marcas como nunca se tinha somado antes. O triunfo inédito de João Sousa em Kuala Lumpur e o lugar mais alto de sempre no ranking para um português são corolário de um ano de ouro, histórico... que ainda não acabou.

Maria João Koehler fez o inédito entre as tenistas com entradas no quadro principal dos quatro torneios Grand Slam – 2ª ronda no Open da Austrália e 1ª ronda em Roland Garros, Wimbledon e US Open. João Sousa esteve nas 2ªs rondas de Austrália e França e na 3ª dos Estados Unidos – eliminado por outro nº1... o do mundo. Michelle Brito deixou a Austrália na 1ª ronda, os Estados Unidos na 2ª e – pelo meio – ficou em Wimbledon até à 3ª – depois da vitória (também histórica) sobre Maria Sharapova (enquanto nº3 mundial). Gastão Elias esteve na 1ª ronda de Wimbledon. Quem se lembra de um ano assim?

«Este ano está a ser um ano excelente. O recente resultado do João Sousa representa isso mesmo» é a conclusão de Frederico Gil. Maria João Koehler não arrisca dizer se este foi o melhor ano de sempre, mas também destaca a «época fabulosa» do nº1 nacional e lembra que o ano «ainda não acabou, pode acabar melhor». «O ténis está em ascensão», resume Frederico Gil. E «não é por acaso que isso acontece», garante Pedro Cordeiro, o selecionador nacional.

É «natural» mais qualidade

O antigo jogador na década de 1980 defende que «o trabalho no ténis português tem vindo a ser gradualmente sustentado» e «com mais condições para os teinadores». «É natural que esta nova vaga tenha mais qualidade: há mais condições neste momento em Portugal para trabalhar». João Sousa, também já nesta quinta-feira, recordou que «uma das principais razões para emigrar foi a falta de companheiros para treinar, para ganhar ritmo».

Pedro Cordeiro reconhece que, «na altura em que [tenistas] tiveram de ir para fora, não havia condições para o fazerem cá dentro», mas o selecionador nacional dá Frederico Gil ou Maria João Koehler como exemplos de quem não saiu de Portugal para conseguir os seus resultados. O selecionador nacional garante que «há formação portuguesa», mas não deixa de considerar que «é preciso investimento».

Frederico Gil considera ser preciso «melhorar um pouco as infraestruturas mas que «isso não é tudo». «A parte psicológica é muito importante» e também devia merecer «mais investimento, quer nos clubes, quer nos atletas individuais». Maria João Koehler lembra que «cá, quem não tinha patrocínios teve de investir do seu bolso». Essa situação, porém, também teve vantagens, como apontou a nº2 nacional: «Essa coragem faz-nos mais fortes.» Essa força que tem dado resultados é o que esta nova vaga do ténis espera ver repetida nas próximas gerações. João Sousa afrma que «este feito ajudou os jogadores a quererem sonhar alto». «Começamos a ter jogadores a quererem ser profissionais de ténis e isso é positivo», disse o vimaranense. Koehler salienta que um dos legados deste ano dourado é que «deixa os outros a pensar que também é possível».

De Rui Machado – que no ano passado esteve presente nos quatro maiores torneios – a Frederico Ferreira da Silva – vencedor em pares juniores neste ano em Roland Garros e finalista no US Open –, o panorama do ténis de alta competição em Portugal nunca foi tão vasto. Neste ano, como analisa Pedro Cordeiro, «o João Sousa elevou a fasquia» e «a fasquia vai subir». Maria João Koehler mostra-se pronta para responder: «Os meus objetivos não passam só por lá chegar [aos Grand Slam]. Quero ganhar a jogar lá.» Frederico Gil também: «Tenho pena que de momento não possa estar a competir, mas se Deus quiser vou conseguir voltar.»