Longe vão os anos em que o Atlético Clube de Portugal vivia entre os grandes, em que conseguia ficar à frente do F.C. Porto e posicionar-se no terceiro lugar da I Divisão. O feito foi alcançado por duas vezes, em 43/44 e em 49/50, num tempo em que também alcançou a final da Taça em duas ocasiões, perdendo para Sporting (em 46, por 4-2) e Benfica (em 49, por 2-1). Desde a queda às divisões secundárias, em 77, a Tapadinha tem vivido em agonia, pelo que o reencontro com velhos conhecidos é sempre de louvar.
O regresso ao passado acontecerá a 7 de Janeiro, quando os lisboetas se deslocarem ao Estádio do Dragão para defrontar o F.C. Porto na quarta eliminatória da Taça de Portugal. À frente da equipa está o treinador Toni Pereira, que acumula uma enorme experiência nos escalões secundários e um certo espírito conquistador, que leva os amigos a apelidarem-no de «Mourinho dos pobres».
Com vinte anos de carreira, mas apenas 49 de idade, o alentejano agradece, mas não aceita a comparação. «Isso surgiu de uma brincadeira entre amigos, porque nos últimos três anos perdi 12 ou 13 jogos, o que mais ninguém conseguiu fazer em Portugal. Mas eu não tenho nada que ver com o Mourinho, não quero saber dele para nada, ele também não quer saber de mim. Vou fazendo a minha vida, ele vai fazendo a dele e eu vou tentando ganhar aquilo que é possível ganhar, porque ele está num patamar completamente diferente. É só uma brincadeira de amigos que nos faz rir um pouco. Nem gosto sequer que isso seja passado», frisou.
A humildade impele-o a ter esta atitude, mas perder 14 jogos nos últimos quatro anos, em 113 jogos disputados, é, no mínimo notável. «A nível do futebol português não houve ninguém que fizesse algo semelhante», frisou, lembrando ainda que nos últimos três anos subiu três equipas, uma delas precisamente o Atlético, que regressou à II Divisão e ate já é líder da série D.
Respeito e orgulho
Para um jogador «mediano», que chegou a ser internacional júnior numa fornada que contava com Fernando Gomes, Eurico ou Carlos Manuel, a carreira terminou muito cedo, aos 28 anos. «Tinha fama de boémio, que não desminto, e já ninguém me queria, por isso tive de enveredar pela carreira de treinador. Fui treinar o Sertanense, nas distritais», contou. Mas, apesar de tudo, ainda teve tempo de defrontar o F.C. Porto na Taça de Portugal, ao serviço do Almada.
«Recebemos o Porto para a Taça, lembro-me bem. Era o Porto de Pedroto. Estávamos a ganhar 1-0, mas, a um quarto de hora do fim, entrou o Oliveira e acabámos por perder por 3-1», abordou, a respeito do jogo que se realizou no Campo do Pragal, em Almada. Já como treinador, teve oportunidade de experimentar a diferença que se regista sempre que equipas pequenas defrontam as grandes: «Em 1999 orientava o Estrelas de Vendas Novas, na III Divisão, e defrontei o Marítimo também na Taça. Estávamos a ganhar por 1-0 ao intervalo e acabámos por perder por 2-1. Era uma diferença enorme».
Não existem receitas para este tipo de jogos, apenas tentar fazer o melhor. «O Porto é o Porto, o Atlético é o Atlético. Em tempos houve grandes duelos entre Atlético e Porto na I Divisão, com o Atlético a conseguir lá ganhar algumas vezes. Em 2000 perdeu nas Antas por 2-1, por isso vamos esperar para ver, mas tenho a consciência das realidades do futebol. Vamos tentar o melhor possível e acima de tudo dignificar a camisola, tentando fazer o melhor, e se formos eliminados sê-lo-emos por um ex-campeão europeu», frisou.