O Campeonato da Europa de 2008 aproxima-se a passos largos. Nessa perspectiva, o Maisfutebol foi à procura de dois especialistas na vertente do treino físico, tentando perceber quais as limitações que um atleta acima dos 35 anos poderá ter numa prova tão curta e intensa como esta.
Mariano Barreto, actual técnico do AEL Limassol e profissional com larga experiência na preparação física, entende que «um atleta de 35 ou mais anos pode perfeitamente actuar ao mais alto nível numa competição como o Euro2008». «A questão da longevidade não se coloca, desde que tenha sido um jogador com hábitos saudáveis ao longo da sua carreira».
O ex-treinador do Marítimo e da Naval inclui Luís Figo no sustentar desta opinião. «Por aquilo que conheço do Luís Figo, ele foi e é um desses jogadores. É evidente que o estilo do jogo vai mudando com o passar dos anos, mas os jogadores vão-se adequando a essa realidade e penso que a experiência ainda os torna mais perfeitos. São jogadores que estão organicamente adaptados às exigências, mesmo que algumas faculdades físicas já não estejam no máximo», especificou.
«O organismo não perdoa», mas há excepções
José Soares, ex-fisiologista do Boavista e da Selecção Nacional, também nos deixou a sua opinião. «Um atleta com essa idade perde em velocidade, mas ganha em resistência. Os testes que tenho efectuado comprovam-no», referiu.
«Portanto, nas posições em que não seja decisivo ter velocidade, não me parece que haja qualquer limitação, a não ser a maior dificuldade de recuperação de um jogo para outro. Para um lateral ou um extremo é mais complicado. Têm que fazer vezes sem conta o seu flanco e o organismo não perdoa. Não há hipóteses».
Mas, no caso concreto de Luís Figo, José Soares observa que o jogador do Inter de Milão pode ser considerado uma excepção ao supracitado. «Ainda consegue fazer mudanças de velocidade e levar ritmos fortes ao seu jogo», anuiu.
Cuidados especiais e o exemplo do tabaco
O Maisfutebol perguntou depois a estes dois especialistas se levar uma vida regrada e ter cuidados especiais pode ajudar a elevar a esperança média de uma carreira no futebol profissional.
«Trabalhei com o Luís Figo durante dois anos no Sporting, e não terá sido por acaso que ele foi o único elemento de uma geração de jovens campeões que conseguiu ter uma carreira internacional de grande nível», reagiu Mariano Barreto.
«Para além disso, nunca teve uma lesão grave ao longo da sua carreira, felizmente. A mais grave que teve foi esta recente, que apenas o afastou por poucos meses. O Figo foi sempre um jogador que, desde o início, não se deixou ludibriar pelos fascínios do sucesso. Procurou conselhos junto das pessoas certas, como o seu pai, que teve grande importância, tal como toda a sua família».
José Soares opina pelo mesmo diapasão, mas com um ingrediente extra. «Ter cuidados especiais é decisivo. Mas temos que nos lembrar que cada caso é um caso. Há jogadores, por exemplo, que lidam perfeitamente com o tabaco e outros que têm maiores dificuldades. O organismo e a componente genética têm uma palavra importante em tudo isto».
A finalizar, Mariano Barreto defendeu a presença de Luís Figo no Euro2008. Dentro ou fora dos relvados. «Mesmo não jogando, é preciso perceber qual seria a importância da sua presença para a união dos jogadores durante o Euro2008. O seu contributo para a selecção é incontestado e, pessoalmente, acho que junto da selecção devem estar todos os que possam ajudar, como é o seu caso. Por vezes, há pessoas em volta que só estão lá por amizade, mas nesse aspecto penso que Scolari tem sabido gerir e preservar o seu grupo».