Quando ainda era juvenil de segundo ano teve o primeiro contacto com o estrangeiro. Com apenas 16 anos foi treinar à experiência no Vicenza e Itália permitiu a Filipe Cândido ter o primeiro contacto com a pressão que se vive nas grandes ligas europeias: «Havia uma série de empresários que todos os dias andavam atrás de mim para que assinasse contrato. A pressão era enorme.»
Filipe Cândido colocou fim à curta experiência italiana e regressou a Alvalade. Foi campeão de juniores pelo Sporting mas o clube não assinou contrato de formação e rumou ao Real Madrid. Tinha 17 anos quando assinou por três anos com os madridistas. «Fiz o 12ª ano em Madrid», afirma em jeito de orgulho, antes de abrir o álbum de recordações para sacar um punhado de episódios mirabolantes vividos na equipa B do Real, nos tempos em que partilhou casa com Etoo.
«Todos os miúdos viviam num hotel a cerca de 300 metros da Cidade Desportiva. Íamos para os treinos a pé. Numa altura da época treinei mês e meio com o plantel principal, pois o Fábio Capello quis ver-me, depois de ter marcado uns golos pela equipa B. Lembro-me que uma vez ia a sair com o Redondo de um treino e passámos perto do gradeamento onde os adeptos esperavam pelos jogadores. As raparigas estavam aos gritos. Histéricas. De um momento para o outro uma dessas miúdas desmaiou. O Redondo (que era uma pessoa espectacular) abriu o gradeamento, pegou na miúda desmaiada e levou-a para dentro da Cidade Desportiva, onde a reanimaram. Era uma loucura pelo Redondo», recorda. E por ele, Filipe Cândido, as miúdas não desmaiavam? «Por mim não (gargalhada). Pediam-me autógrafos, pois a equipa B era muito acompanhada, mas não desmaiavam. Perseguiam-nos apenas pelos autógrafos.»
Filipe Cândido não tem dúvidas em qualificar o ambiente que presenciou no Real Madrid. Tão diferente que o avançado viu a escassez virar fartura. «É o Hollywood do futebol. Um verdadeiro mundo de estrelas. O Sporting é enorme, mas lembro-me de um pormenor que exemplifica a diferença entre os dois clubes. Lembro-me que uma pequena mania dos jogadores era colocar tape (fita adesiva) branca para segurar as caneleiras. No Sporting só havia fita castanha e nós não queríamos porque era feia. Para termos tape branca tínhamos de pedir muito. Quando cheguei ao Real Madrid havia caixotes cheios de tape branca. Eu trazia caixas de lá e dava aos meus amigos de Portugal para eles usarem», relembra Filipe Cândido por entre um largo sorriso.
Gozado pelo Hércules Roberto Carlos
Viveu em Madrid quando tinha apenas 17 anos, mas Filipe Cândido recorda na perfeição diversos episódios passados na companhia de estrelas do futebol europeu.
«Tenho uma história com o Roberto Carlos», atira, passando de seguida à narração de um diálogo com o brasileiro: «Ele gozava comigo a fazer musculação. Ele fazia mais de 50 elevações na barra e eu quase não chegava às dez. Um dia chegou ao ginásio e viu-se fazer elevações à rasca. Perguntou-me: Menino você só faz isso? E eu: Ah, está bem, tu deves ser o Hércules! E ele: Quer contar quantas faço? Eu concordei e ele começou a fazer elevações. Contei e passei das 50¿ Ficámos todos parvos a olhar para a força dele. Lembro-me que o Roberto Carlos queria apostar, mas eu não quis. Ainda bem pois não ganhava o mesmo que ele. (risos)»
Estive vinculado ao Real Madrid um ano. A equipa desceu de divisão e Filipe Cândido trocou o empréstimo a um qualquer clube de Espanha por dois anos de contrato com o Vitória de Setúbal, de Manuel Fernandes.
Ainda júnior (18 anos) a oportunidade de jogar na principal Liga de Portugal permitiu a Filipe esquecer depressa o mundo de estrelas de Madrid e deparar-se com uma realidade oposta: salários em atraso. «Depois de cinco meses de ordenados em atrasos rescindi. Ganhava cento e tal contos e mesmo assim o clube não me conseguiu pagar mensalmente», descreve em jeito de admiração. Uma realidade distinta do Real Madrid.