«A minha carreira não foi como esperava. Talvez a devesse ter gerido melhor. O episódio com o Jardel marcou tudo. O murro que lhe dei manchou a minha imagem e é pena, pois não sou agressivo e a agressividade não tem nada a ver comigo. As portas fecharam-se e não é agora, aos 31 anos, que se vão abrir.»
É nesta espécie de balanço que José Soares fala de um percurso que correu quase todos os cantos do Mundo. Saiu do Alentejo com o sonho de singrar no Benfica, mas o destino trocou-lhe as voltas. Considera que o jogo Campomaiorense-F.C. Porto (1999/2000) lhe marcou a carreira, mas ainda recorda bem os treinos à parte no Benfica na companhia de Paulo Madeira e Maniche. Foi depois do diferendo com os encarnados, no tempo do treinador Toni (Jesualdo Ferreira era treinador-adjunto), que José Soares procurou a sorte no estrangeiro.
A primeira paragem foi a Alemanha. Longe de imaginar que o segundo campeonato daquele país seria a paragem mais normal da carreira. Depois de um ano no Schweinfurt uma proposta da Arábia Saudita levou-o a rumar ao outro lado do Mundo. Foi jogar para o Ettifaq, clube que é actualmente treinador por Toni. «Financeiramente foi muito vantajoso para mim. Estive lá um ano e meio», explica José Soares.
Em entrevista ao Maisfutebol, o defesa-central mostrou ter bem presente na memória como se vive na Arábia:
«Saí da Europa para um país que é o expoente máximo do Islão. As lojas fecham cinco vezes por dia para eles rezarem e por isso as pessoas têm de sair das lojas para que sejam feitas as orações. Não há contacto com as mulheres e o clima é muito quente, com humidade muito elevada. Chegava a jogar com 48 graus. O futebol tem menos qualidade e é muito parado, mas eles têm procurado melhorar contratando treinadores estrangeiros com boas bases para que o futebol árabe possa evoluir. As condições de trabalho são excepcionais. Os campos de treinos são ao nível da Europa, os treinos e estágios eram iguais pois o meu treinador era holandês.»
Das gaffes à mesa com as mulheres ao choque no balneário
Durante a conversa José Soares solta uma gargalhada. Era tempo de recordar episódios caricatos vividos na Arábia Saudita. «Convidaram-me para comer na casa de um colega que era casado. Cometi logo a primeira gaffe, pois entrei calçado e não se pode. Depois perguntei onde estava a mulher dele e outro colega disse para me calar pois as mulheres não podem aparecer. Elas têm de ficar escondidas e nem os irmãos conhecem as mulheres uns dos outros. Só não fiquei vermelho por razões óbvias (risos). Depois, a comer, foi uma confusão. Eles comem com as mãos e descansos, com as pernas cruzadas. Um começou a atirar-me comida para cima. Comecei a passar-me. Depois é que percebi que me estavam a dar as boas vindas.»
Mas estas não foram as únicas gaffes cometidas pelo defesa-central. «Fui a uma festa de velhotes e deram-me um doce que me diziam que era maravilhoso. Comecei a comer e parecia veneno. Estavam todos a olhar para mim à espera da minha reacção. Tive de comer e dizer que estava bom, mas parecia veneno», relembra.
As aventuras de quem sai de Portugal e se depara com a realidade da Arábia Saudita sucedem-se. «Tomar banho num balneário era um stress. Despi-me para tomar banho e ficaram todos chocados. Depois explicaram-me que os árabes não se podem ver nus. Cada balneário tem uma porta individual com chuveiros», explica.
Todos os choques de cultura que encontrou na Arábia Saudita não servem para influenciar a imagem com que José Soares ficou deste país.