Procurou ser feliz no velho Estádio da Luz, mas é do Qatar que José Soares guarda as recordações que mais se assemelham com felicidade. O defesa-central já jogou na Alemanha, Arábia Saudita, Qatar, Líbano e chegou recentemente da Índia. Encarou todas estas aventuras com um único objectivo: ser feliz a jogar futebol.
«Deixei a Arábia Saudita porque tive uma proposta do Qatar que, apesar da proximidade, é um país bem distinto. Existem lá muitos portugueses. Por exemplo, eram portugueses que filmavam os jogos. Existem lá muitos estrangeiros. É um país novo, com pouco mais de 30 anos. É do Islão mas é mais aberto ao turismo e quer ser uma espécie de Dubai. É muito evoluído. Vive-se com muita qualidade. Os qataris não são tão bons como os sauditas, mas no campeonato têm grandes jogadores europeus que contratam. Quando lá estive também o Guardiola e o Batistuta jogavam no Qatar. Há mais espectáculo», recorda José Soares em conversa com o Maisfutebol.
As recordações dos tempos que passou no Al Shamal são as melhores e por isso José Soares não se importava nada de repetir uma nova experiência no Qatar.
Deixou o estilo de vida abastado e regressou a Portugal, mas por pouco tempo. Uma proposta do Líbano levou-o à descoberta de Beirute, para jogar num clube que tinha sido campeão há pouco tempo.
Esteve lá apenas um mês. «Via metralhadoras nas ruas. O ambiente era pesado. As casas tinham uma arquitectura maravilhosa, mas estavam todas esburacadas. Davam-me frango com arroz todos os dias para comer. Diziam-me: «Soares assinas amanhã» Esse amanhã nunca mais chegava. Ao fim de um mês deixaram-me vir embora», declara em jeito de alívio. «Passados seis ou sete meses os israelitas começaram a bombardear o Hezbollah.»
À experiência frustrada do Líbano seguiu-se um ano de paragem em Portugal. Só os treinos no seu O Elvas lhe proporcionaram novo contacto com os relvados. Tudo para manter a forma e estar fisicamente apto para abraçar nova experiência além fronteiras.
«Depois fui para a Índia, onde estive um mês e meio no Salgaocar. O país é maravilhoso, mas sem estrutura para o futebol. Não há condições», dispara. «Os jogadores chegam já equipados aos treinos, que têm lugar às sete da manhã todos os dias por causa do calor. No final do treino é ver os jogadores a despirem a roupa de treino e a vestirem a outra em plenas bancadas do estádio. Quando têm sede bebem todos água do mesmo garrafão. Quando têm fome bebem leite de um garrafão e ao lado tinham uma feijoada.»
Tudo hábitos bem estranhos para este alentejano de origens guineenses, que recorda um episodio vivido num restaurante indiano: «Estava a comer num restaurante na praia e caiu um lagarto na mesa. Estava sentado e caí para trás.»
José Soares regressou recentemente da Índia. Para Elvas. «Acabaram as experiências no estrangeiro. Só voltava a emigrar para o Qatar ou para os Estados Unidos. Para outros países não vou mais, nem por dinheiro. Gostei muito do Qatar e foi estupidez minha sair. É um choque de culturas mas vive-se bem», sublinha.
Depois de tantas vivências o defesa-central já pensa em começar uma carreira fora do futebol, mas o gosto pelo desporto-rei, esse, continua bem vivo. Quer regressar ao futebol português no clube da terra para jogar na III Divisão.
«Vou divertir-me a jogar», diz. Já que não conseguiu alcançar a carreira com que sonhou, o gosto por jogar futebol ninguém lhe tira.