Advertência: este texto deve ser lido com banda sonora obrigatória fornecida pela banda portuguesa Deolinda. Aconselham-se os temas Movimento perpétuo associativo e Fado Toninho
Escrevo a quente, mas, ainda assim, mais a frio do que é normal, logo após o apito final do árbitro. Já passou mais de uma hora, mas continuo sem querer acreditar. Aquela equipa é a mesma que nos levou a sonhar com o título europeu por duas vezes e quase até no mundial há dois anos? Tantas promessas soam a música. E má!
É a Selecção do «Fon Fon Fon», como uma tuba estridente, forte, deselegante e com pouco jeito para a dança. Cheia de tiques e malabarismos. Fácil de conter e controlar, sem soluções fáceis e objectivos cumpridos
A equipa de Queiroz afasta o ritmo das palmas, a bandeirinha na janela, o cachecol ao peito e os gritos por Portugal. Arrasta-se ao som de assobios, desabafos para o ar e chutos na relva. Golos ausentes, cruzamentos para a atmosfera, fintas «para o galheiro» (já que estamos em tom popular) e sustos lá atrás.
Depois de Scolari nos ter trocado pelo Chelsea, tudo parecia ter melhorado. Regressava a casa D. Queiroz «Sebastião», com um projecto renovador que passava obrigatoriamente pelo apuramento para o Mundial da África do Sul. Os críticos desapareceram, Ricardo deixou a baliza e caras novas foram surgindo. Mas o namoro durou pouco, simplesmente porque os resultados não apareceram.
O ponto de viragem foi a derrota em Alvalade com a Dinamarca. Um erro demasiado caro que tornou os jogos com a Suécia e Albânia absolutamente fundamentais. Sem a atitude e qualidade adequadas, a Selecção só conseguiu empatar, deitando por terra a imagem de conquistadora, dominadora, candidata, a melhor, ou uma das melhores. Neste momento, tudo isso praticamente não existe (parece mesmo ridículo) e a descrença é grande.
O que nos vale é que só voltamos a assistir a este sofrimento no final do Março, quando voltar a ser fundamental vencer a Suécia. Pelo meio, resta-nos assobiar para o ar, vibrar com as vitórias dos nossos clubes, voltar a alimentar essa possibilidade de sucesso trazido pelas estrelas desta dita selecção de todos nós e cantar com os Deolinda:
«Agora sim, temos a força toda!
Agora sim, há fé neste querer!
Agora sim, só vejo gente boa!
Vamos em frente, havemos de vencer!
Agora não, que me dói a barriga...
Agora não, dizem que vai chover...
Agora não, que joga o Benfica
E eu tenho mais que fazer...»
«Futebolfilia» é um espaço de opinião da autoria de Filipe Caetano, jornalista do IOL, que escreve aqui todas as quartas-feiras