Já toda a gente sabe que existe uma crise nos Estados Unidos, que ameaça o mundo com o espectro da recessão. Desmentir essa evidência é como justificar os maus resultados de uma equipa com a sua juventude, mesmo que se trabalhe no mesmo sítio há três anos e cometendo sempre os mesmos erros.
A comparação pode ser forçada, mas serve para analisar o comportamento de Jesualdo Ferreira como treinador do F.C. Porto, nomeadamente depois da goleada infligida pelo Arsenal. Mais do que a equipa, falhou o técnico, simplesmente porque entrou numa fase em que os resultados nacionais já não são suficientes.
Até quando irá usar o argumento de que os «jogadores são jovens» e é preciso dar-lhes tempo? E o treinador, será também ele inexperiente e novo nestas andanças? Em matéria de goleadas em terras inglesas podemos dizer que tem um certo histórico acumulado. Arsenal por duas vezes e Liverpool aproveitaram a visita dos portistas para fazerem a festa e darem um chuto na crise interna. Digamos que as equipas de Jesualdo são um bom vizinho sempre disposto a participar nas festas lá de casa.
A responsabilidade de construção do plantel não pode ser atribuída exclusivamente ao treinador (existem outras figuras, como o director-geral), mas convenhamos que o técnico português não está a saber fazer a transição para a maturidade, ainda que seja um senhor de idade respeitável. Na função, porém, continua a apresentar tiques de aprendiz, nomeadamente nos jogos grandes fora do Dragão, com equipas do mesmo nível ou superior. Sem arrojo, inventa (más) soluções nos momentos mais inoportunos, invariavelmente com maus resultados. Assim acontece desde 2006, tanto na Europa como a nível nacional, apresentando sinais preocupantes para o clássico de Alvalade
Aliás, nas duas épocas completas e um pouco desta, desde que está no Porto, o trasmontando só conseguiu impor-se verdadeiramente num terreno realmente complicado, ou seja, de nível máximo de dificuldade, quando venceu o Benfica no ano passado no Estádio da Luz, com aquele golo de trivela de Quaresma. Pelo meio, alguns triunfos mais ou menos relevantes, com equipas de média dificuldade em Portugal e de nível alto na Liga dos Campeões, mas nunca frente a adversários do primeiro pelotão europeu, como Arsenal, Liverpool, Chelsea ou (cá dentro) Sporting.
Como disse João Vieira Pinto, o F.C. Porto não conseguiu impor a sua grandeza. E será que alguém consegue explicar isso a um treinador que opta por ter em campo Benitez e Guarín ao mesmo tempo e que não consegue encontrar uma equipa após a saída de três jogadores importantes e um capital para investir como ninguém tem em Portugal? Na época em que tinha de se afirmar como treinador com calibre superior, Jesualdo falha, nem sequer consegue encontrar um modelo de jogo coerente e refugia-se em expectativas fugazes, que tornam o seu discurso insípido e o futuro incerto.
«Futebolfilia» é um espaço de opinião da autoria de Filipe Caetano, jornalista do IOL, que escreve aqui todas as quartas-feiras