Apesar do contexto de crise, que em teoria poderia levar os clubes a reforçarem a aposta em jogadores da formação, as primeiras dez jornadas da Liga mantêm a tendência das últimas temporadas: a prova portuguesa é uma das que têm maior percentagem de jogadores estrangeiros em toda a Europa. Pelo terceiro ano consecutivo, esse valor continua bem acima dos 50 por cento, não se registando variação significativa em relação às últimas épocas.

Dos 400 jogadores que já alinharam nos relvados nacionais, só 179 (44,8% do total) são portugueses, sendo estrangeiros os restantes 221. Por comparação com as cinco maiores Ligas europeias (Inglaterra, Espanha, Alemanha, Itália e França, segundo dados do Football Observatory relativos a 2014), só a Premier League tem uma percentagem superior de jogadores de outras nacionalidades: 59,3%.

Eis a comparação dos valores entre as Ligas dos seis primeiros classificados no ranking da UEFA*

Inglaterra (Premier League): 59,3% de estrangeiros
Portugal (Liga): 55,2%
Itália (Série A): 54,8%
Alemanha (Bundesliga): 43,5%
Espanha (La Liga): 38,9%
França (Ligue 1): 31,6%

* Números do Maisfutebol, para Portugal, e do CIES/Football Observatory para os restantes campeonatos.

A percentagem relativamente baixa de estrangeiros na Liga espanhola é um dado curioso, tanto mais que, nesta quarta-feira, o selecionador da Roja, Vicente del Bosque, não hesitou em criticar o excessivo número de jogadores de outras nacionalidades nos clubes espanhois.

Olhando para os números da Liga portuguesa, a distribuição por clubes não deixa dúvidas: são os dois principais candidatos ao título, FC Porto e Benfica, que menos jogadores portugueses utilizam – três e quatro, respetivamente. Mas não se julgue que há uma relação direta entre o baixo número de portugueses e o sucesso desportivo: V. Guimarães, Belenenses e P. Ferreira, por exemplo, estão a assinar dos melhores inícios de temporada da sua história, e estão entre as oito equipas da Liga em que metade ou mais dos jogadores utilizados têm o carimbo «made in» Portugal.

Os números clube a clube:

Penafiel: 19 portugueses em 22 utilizados
Belenenses: 16/22
Moreirense: 13/21
V. Setúbal: 13/25
Arouca: 11/19
P. Ferreira: 11/22
Sporting: 11/22
V. Guimarães: 11/22

Nacional: 9/21
Académica: 9/22
Sp. Braga: 9/22
Gil Vicente: 9/23
Estoril: 9/24
Rio Ave: 8/22
Boavista: 8/28
Marítimo: 6/20
Benfica: 4/21
FC Porto: 3/22

A negro, as equipas com metade ou mais de portugueses nos utilizados.

Brasil e África dão-nos um tempero diferente

Se olharmos para a proveniência dos jogadores estrangeiros, a maior fatia do contingente é, sem surpresa, formada por brasileiros – são 90, ou 22,5% do total. Aliás, apenas um clube – o Penafiel – não tem qualquer brasileiro entre os jogadores utilizados. No polo oposto, o Estoril, com nove, é quem mais aposta no certificado «canarinho» - o que, vendo bem, acaba por fazer sentido.

Se considerarmos Portugal e Brasil como casos à parte, África é o continente que fornece mais jogadores à Liga portuguesa: 64, de 19 nacionalidades. Cabo Verde tem a maior fatia (13), seguido do Egito (8), Nigéria e Gana (6). Os outros países sul-americanos contribuem com 32 jogadores, com a Argentina a assegurar dez e a Colômbia, sete. Da Europa vêm apenas 28 futebolistas, dos quais nove de Espanha, em boa parte devido à política seguida este ano pelo FC Porto. Ásia (quatro) e CONCACAF (três) completam um quadro de estrangeiros que abarca 45 nacionalidades. Veja a sua distribuição:

AMÉRICA DO SUL (122)
Brasil, 90
Argentina, 10
Colômbia, 7
Peru, 6
Uruguai, 5
Venezuela, 2
Bolívia
Paraguai

ÁFRICA (64)
Cabo Verde, 13
Egito, 8
Gana, 6
Nigéria, 6
Costa do Marfim, 5
Guiné Bissau, 5
Senegal, 4
Camarões, 3
Argélia, 2
Libéria, 2
Mali, 2
Angola
Burkina Faso
Guiné Conacri
Guiné Equatorial
Moçambique
Níger
R. Centro-Africana
R. D. Congo

EUROPA (28)
Espanha, 9
França, 4
Holanda, 4
Alemanha, 2
Grécia, 2
Bielorrússia
Geórgia
Inglaterra
Islândia
Itália
Polónia
Rússia

ÁSIA (4)
China
Coreia do Sul
Irão
Japão

CONCACAF (3)
México, 2
Honduras

Esta distribuição geográfica contrasta com a proveniência dos jogadores das principais Ligas europeias, já que, segundo os números do CIES, a França é a principal exportadora de talentos para os restantes campeonatos, com 113 jogadores a atuarem na Premier League, Liga Espanhola, Série A e Bundesliga – mais do que os representantes de Argentina e Brasil (112, cada).

A influência africana é nestas Ligas muito inferior à do campeonato português: os seis países seguintes na lista de «fornecedores» são europeus, com Espanha, Suíça, Bélgica, Holanda e Sérvia à frente de Portugal, que surge no nono lugar, com 38 jogadores espalhados pelos principais campeonatos.