Voltou a sair magia de La Masia. Desta vez com uma revelação que fez história instantânea. Marc Guiu saiu do banco aos 79 minutos, com o marcador a zero no Barcelona-At. Bilbao, e 34 segundos depois marcou golo, ao fim de dois toques: o primeiro para ajeitar a bola a receber o passe de João Félix, o segundo para marcar o golo mais rápido de sempre de um estreante com a camisola do Barcelona na Liga espanhola.

«Sonhei muitíssimas vezes com este momento. Em muitas noites, e em muitos momentos», dizia no fim o avançado. Mas nem ele imaginou alguma vez um guião tão perfeito. «Não acredito. Falta-me o ar. Isto não se imagina, mas tenho trabalhado a vida toda para aproveitar as oportunidades e tocou-me a mim.»

O 9 clássico que foge à matriz de La Masia

A vida toda de Guiu são 17 anos, mais de metade deles passados na cantera do Barcelona. Nascido a 4 de janeiro de 2006 em Granollers, começou a jogar numa peña do Barça, Sant Celoni. Tinha sete anos quando chegou a La Masia.

Forte e alto, com 1.87m, Guiu distingue-se por não ser o típico jogador da formação do Barcelona. É mais um ponta de lança clássico, como o descreveu um dos seus treinadores da formação culé, Iván Carrasco, ao jornal Sport. «É um avançado-centro puro, um 9 clássico, um especialista na área que vive da potência física. A sua melhor virtude é o jogo aéreo. O Marc também é muito rápido e forte, com espaço é imparável», analisou o treinador, a elogiar também as qualidades humanas do jovem avançado: «Como pessoa é um dez. É um miúdo sensacional, que trabalha muito, um exemplo como companheiro de equipa pelo esforço e dedicação.»

Internacional pelas seleções jovens espanholas, os mais atentos terão ouvido falar dele pelo menos em maio deste ano, quando se destacou na seleção espanhola que chegou à meia-final do Europeu sub-17. Não tinha ainda a visibilidade mediática do seu companheiro de equipa Lamine Yamal, mas acabou com os mesmos quatro golos, entre os melhores marcadores do Europeu.

Destaque no Europeu sub-17 e golo ao FC Porto

Marcou os dois golos da vitória sobre a Itália na fase de grupos e também fez golos à Eslovénia e à Irlanda, nos quartos de final. O Mundo Deportivo conta que Marc já tinha chamado a atenção de Deco ainda antes de o antigo internacional português assumir como diretor desportivo do Barcelona. Também integrou a lista das 60 maiores promessas nascidas em 2006 do jornal Guardian.

Este domingo representou a estreia oficial de Guiu pela equipa principal do Barcelona, mas ele já estava também no radar de Xavi, que o lançou na equipa principal em junho, no Japão, no jogo com o Vissel Kobe de homenagem a Iniesta. Entrou na segunda parte, a substituir Robert Lewandowski.

Marc Guiu começou a temporada na equipa de juniores do Barcelona, onde já leva cinco golos marcados. Um deles ao FC Porto, na vitória por 2-0 para a Youth League no início deste mês. Antes disso estreou-se no Atlétic Barça, a equipa B do Barcelona, com oito minutos em campo numa derrota com o Nástic.

O golo, o recorde e esta reação da família

Já estava na órbita da primeira equipa e Xavi tinha-o convocado para o último jogo antes da paragem internacional, com o Granada, mas Marc não saiu do banco. Agora, num jogo que se aproximava do fim sem que o Barcelona conseguisse bater Unai Simón, com a equipa condicionada por muitas ausências, o treinador arriscou.

E saiu melhor do que qualquer plano. Mas entrou em campo, Guiu estava lá, pronto para receber a assistência que João Félix inventou. Um toque, só mais outro e golo. «O João Félix controlou a bola, vi que havia espaço nas costas da defesa, ele passou-me e superei a saída do Unai Simon», descreveu no fim.

Foi histórico.

E foi sobretudo um momento incrível, celebrado do relvado às bancadas de Montjuic, onde estava a família de Guiu, que reagiu assim.

O elogio de Xavi e a piada de João Cancelo

«É um miúdo da casa que fez a diferença. Chamei-o porque tem golo. Tem golo e faísca, pessoalmente gosto muito dele», disse Xavi no final do jogo: «Não tenho problemas em olhar para os jovens da casa. Há talento e devemos dar-lhes confiança. A mim também ma deram quando tinha 18 ou 18 anos. Vejo-os com fome, na minha altura estávamos mais assustados, mas vejo-os com desembaraço e valentia. Vi-o com ar de que era o momento dele. É talvez o melhor dia da sua vida.»

Marc Guiu também aproveitou para fazer a apologia da cantera do Barcelona. «La Masia funciona. Está-se a fazer um grande trabalho e há que aproveitá-lo em momentos difíceis para o clube como agora.»

Na noite de Montjuic nasceu uma estrela, o menino que no final foi acarinhado por toda a equipa, com uma piada de João Cancelo pelo meio.