Não é uma questão de levedura, a dose certa de açúcar, mais ou menos farinha. É talento e engenho. Só. O pastel Basaúla é bom porque cada pedaço relembra os ziguezagues e as arrancadas de um dos melhores futebolistas de sempre do O Elvas.

Basaúla Lemba, estrela desse Elvas de 1987/88, conta a história de uma homenagem incomum ao Maisfutebol.

«Fui jogar a Elvas pelos veteranos do Estrela da Amadora, há dois anos, e nem queria acreditar quando me contaram», explica o antigo avançado, agora com 48 anos. «O dono de uma confeitaria da cidade era meu ídolo e durante 25 anos teve à venda um bolo com o meu nome».

Este é um bom exemplo da idolatria em redor de Basaúla no final da década de 80. Essa famosa equipa do Elvas, de resto, ainda hoje tem um lugar muito especial no manual de recordações do antigo avançado.

«Fui emprestado pelo V. Guimarães e tive muita sorte. Não falava português, não conhecia a região e valeu-me o apoio da família Vidigal, com quem partilhava a origem africana. Os meus dias eram pacatos, só de longe a longe ia a Lisboa visitar o Mapuata», recorda.

«Fugi de barco para o Congo Brazzaville e daí para Portugal»

Basaúla chegou a Portugal em 1986. Veio com N´Dinga. «Era para ficar 15 dias e já estou cá há 28 anos», ri. A história da viagem revela bem a loucura que já se vivia na relação com o futebol africano. Uma história, aliás, já narrada pelo Maisfutebol em 2010.

«Eu e o N’Dinga jogávamos no Imana. O presidente do Vita foi comprar-nos para nos levar para o Nice, de França. Mas não se podia mudar assim de um clube para o outro. Deixámos de poder andar na rua de dia, só podíamos sair com guarda-costas», recorda Basaúla.

«Até que fugimos de barco, de noite, para o Congo (Congo-Brazzaville) e daí para Portugal, de avião. Íamos fazer escala, mas acabámos por ficar. O empresário Valter Ferreira convenceu o Pimenta Machado [à época presidente do Vitória Guimarães] a contratar-nos».

E Basaúla foi ficando. Atrás dele, e de N’Dinga, vieram Kipulu e N´Kama. O futebolista zairense estava na moda em Portugal. «O N’Dinga está no Canadá, o Kipulu em Londres e o N´Kama em Lisboa. Estão todos bem, como eu».

Golo de Basaúla no O Elvas-FC Porto, 2-3 (87/88):



No final do brilhante ano em Elvas, Basaúla esteve com um pé e meio no Sporting. «Eu e o Nando, um bom lateral direito. O Sousa Cintra falou connosco, mas o Pimenta Machado pediu muito dinheiro. O negócio caiu por terra».

Por essa altura, 1988, já Basaúla dominava a língua de Camões. Dois anos antes não era assim. O atual funcionário da Escola Intercultural das Profissões e do Desporto da Amadora enche o peito numa gargalhada e conta as aventuras em volta do Bacalhau à Gomes de Sá.

«Eu e o N´Dinga não falávamos português. Tínhamos aprendido a palavra bife e mais nada. Adorávamos bifes». Até que a necessidade exigiu mudar de prato. «Íamos aos restaurantes e ficávamos a ver as travessas das outras mesas. Era assim que decidíamos o que escolher».

«Um dia, bendito dia, passou uma travessa com Bacalhau à Gomes de Sá. É um dos meus pratos favoritos até hoje».

Depois do Vitória e do Elvas, Basaúla ganhou a Taça de Portugal no Estrela da Amadora, voltou a Guimarães para mais cinco anos, jogou no Belenenses, no Tirsense, no Moreirense, no Vasco da Gama de Sines e despediu-se como treinador-jogador no União de Montemor.

N’Dinga é o colega mais especial numa longa carreira, mas outros nomes merecem ser lembrados. «Paulinho Cascavel, Ademir, Paulo Bento e Pedro Barbosa foram meus amigos no Vitória. Aproveito para enviar um grande abraço ao Barbosa. Ele era um génio, um jogador fabuloso».

Basaúla Lemba, uma personagem marcante nas nossas cadernetas de cromos. Ainda há histórias felizes.