O Draft da NBA vai ter lugar esta semana, dia 22, em Nova Iorque, mas as movimentações já começaram. Tanto assim é que os Boston Celtics terão trocado a primeira escolha de todas com os Philadelphia 76ers.

A elegibilidade dos jogadores para este sistema de escolha mudou ao longo dos anos. Conheceu uma rutura em 1971 quando Spencer Haywood ganhou, no Supremo Tribunal, o direito a jogar na NBA, mas com isso também abriu uma série de possibilidades nas escolhas que as equipas fazem para os plantéis.

No modelo atual, e desde 1989, há duas rondas para escolher basquetebolistas. Nem sempre foi assim: nos primeiros anos, o Draft só terminava quando as equipas decidiam não ter mais jogadores para escolher. Em 1960 e 1968, chegou a haver 21 rondas!

Apesar de uma redução nos anos 70, a verdade é que até 1989 o Draft permitiu que acontecessem algumas coisas estranhas. Como por exemplo nomear um recém-nascido. A MF Total recorda algumas das escolhas mais estranhas que aconteceram na NBA.

O atleta antigamente conhecido por Bruce Jenner

Muito antes de se juntar ao clã Kardashian e de se transformar em mulher, Bruce Jenner foi um dos maiores atletas no desporto dos EUA. Jogou futebol americano, mas uma lesão no joelho levou-o a outras modalidades. E à lenda olímpica. Caitlyn Jenner pode ser hoje uma figura feminina, mas foi como Bruce que venceu o decatlo nos Jogos de 1976, em Montreal.

Um ano depois, os Kansas City Kings, hoje em Sacramento, resolveram escolhê-lo no draft de 1997, apesar de Jenner nunca ter jogado, sequer, um único minuto de basquetebol desde o liceu.

Os Kings optaram na 7ª ronda pelo campeão olímpico. Para quê? Para um golpe publicitário. Tidos como uma das equipas mais frágeis da NBA, decidiram escolher uma das maiores figuras da América e do mundo do desporto. Jenner surgiu com a camisola da equipa e a apresentação até teve o patrocínio de uma conhecida marca de cereais.

Lusia Harris: sim, era uma mulher

O draft de 1977 foi peculiar de vários modos. Não só pelo golpe publicitário de Jenner, mas também pelo facto de os New Orleans Jazz, hoje Utah, terem escolhido uma mulher. Não só o fizeram, como optaram por Lusia Harris primeiro que Dave Speicher, cujo nome foi anunciado pelos Jazz na oitava ronda.

Lusia «Lucy» Harris foi umas das pioneiras do basquetebol feminino e ganhou, inclusive, uma medalha de prata nos Jogos Olímpicos de 1976, em Montreal, Canadá.

Antes de Harris, já os San Francisco Warriors (Golden State) tinham escolhido uma mulher no draft. No entanto, a liga vetou a opção por Denise Long e, desse modo, Lusia tornou-se na primeira mulher oficialmente escolhida no draft da NBA.

O general-manager da equipa, Frank Layden, disse anos depois, meio a brincar, que Lusia Harris era melhor do que qualquer outro jogador que os Jazz tinham, a não ser «Pistol» Pete Maravich.

Soube-se depois que a jogadora, que tinha uma média de 25,9 pontos e 14,5 ressaltos por jogo, estava grávida. Layden atirou que os Jazz tinham os direitos do bebé e que tinham «dois jogadores pelo preço de um».

Por falar em bebés…

Pat Williams é uma daquelas pessoas que dedicou a vida à NBA, mas cuja cara é praticamente desconhecida do grande público.

Entre muitas coisas que fez na Liga, Williams foi o responsável, por exemplo, pela criação de Benny the Bull, a famosa mascote de Chicago. Depois de um período com os 76ers e outro com os Bulls, Williams mudou-se para Atlanta.

Nos Hawks, ficou para a história a troca de Pete Maravich, que foi para os Jazz, por dois jogadores e cinco escolhas de draft.

Embora ela não conste nos registos, Pat Williams terá decidido celebrar o nascimento do filho, nascido no dia desse draft em que esteve ao serviço dos Hawks, ao escolhê-lo para a equipa. O que a NBA terá vetado.

Pat Williams foi também um dos principais responsáveis pela criação dos Orlando Magic e pela educação de 18 filhos! Desses, 14 foram adotados de países estrangeiros: duas irmãs sul-coreanas foram as primeiras em 1983.

Com 1.77 metros e 49 anos, eis o dr. Horvitz

Harold Katz tornou-se dono dos Philadelphia 76ers, no início dos anos 80. O empresário levou a equipa até ao título de campeão em 1983, curiosamente, o ano em que escolheu o doutro Norman Horvitz para a equipa.

Quem? O melhor é traduzir do que escreveu o NY Times na altura.

«A décima e última escolha dos Philadelphia 76ers no recente draft, e a última das 228 da NBA, foi o doutro Norman Horvitz, um licenciado da Philadelphia School of Pharmacy, classe de 56. Tem 49 anos, 1.78 metros e 93 quilos.»

«O dr. Horvitz frequentou a escola de medicina e é, neste momento, um osteopata, assim como diretor-clínico na Nutrisystems, os centros de perda de peso que são propriedade de Harold Katz, que também é dono dos 76ers.»

«O dr. Horvitz é um amigo de Katz e um parceiro dele no póquer semanal.»

Obviamente, o dr. Horvitz nunca chegou a jogar por Philadelphia ou qualquer outra equipa. A NBA facilmente concluiu que aquela era uma opção para vetar.

O draft de 1984: os Bulls escolheram Jordan e... Carl Lewis

O 37º draft da NBA ocorreu no Felt Forum, no Madison Square Garden, em Nova Iorque e é considerado um dos melhores de sempre.

Foi neste que Michael Jordan foi escolhido pelos Chicago Bulls, mas nem sequer foi a primeira escolha de todas.

O nº1 foi Hakeem «The Dream» Olajowon. O poste com origens nigerianas seguiu para os Houston Rockets. Seguiram-se os Portland Trailblazers, que preferiram Sam Bowie. Depois vieram os Bulls, com Michael Jordan.

Sam Perkins fora colega do mais famoso 23 da história do desporto na University of North Carolina e foi selecionador pelos Dallas Mavericks. Por fim, a fechar o top5, um tal de Charles Barkley: The mound round of rebound ganhou bilhete para os 76ers de Filadélfia.

No entanto, outro atleta, um dos maiores de sempre, também foi escolhido nesse ano. E, curiosamente, pelos Chicago Bulls.

Carl Lewis e Ben Johnson

Carl Lewis era, provavelmente, o melhor atleta no desporto americano por aquela altura. Tanto assim era que saiu dos Jogos Olímpicos de Los Angeles, nesse ano precisamente, com medalhas de ouro nos 100 metros, nos 200 metros, na estafeta de 4x100 e no salto em comprimento.

Antes disso tudo, os olheiros dos Bulls decidiram «agarrá-lo» porque Lewis era «o melhor atleta» à disposição. Tanto assim era que a superestrela do atletismo também entrou no draft de 1984 da NFL, a liga de futebol americano. Carl Lewis nunca jogou basquetebol, nem futebol americano, diga-se.