Cinco pontos, três ressaltos e outras tantas recuperações. Este pode não ser o saldo individual mais formidável da história do basquetebol, mas é a performance de uma vida para Natasa Kovacevic, uma basquetebolista sérvia que poderia ser uma desconhecida para praticamente toda a gente mas cuja história está a dar a volta ao mundo.

Porquê? Em 2013, ainda na fase inicial de uma promissora carreira, Natasa sofreu um acidente de viação que lhe mudou a vida. Perdeu a perna esquerda e foi dada como acabada para o basquetebol profissional. Mas não desistiu. Na semana passada voltou a jogar pelo Estrela Vermelha.

Foi como uma segunda estreia para Natasa, que já tinha representado o Estrela Vermelha em 2013. Aliás, foi do clube de Belgrado que saiu para a equipa húngara do UNI Gyor, onde jogava quando sofreu o acidente, em setembro desse ano.

Natasa Kovacevic até começou a sua carreira no velho rival do Estrela Vermelha, o Partizan, em 2008. Tinha apenas 14 anos quando começou a jogar ao mais alto nível no seu país. Logo na época de estreia, de resto, foi vice-campeã nacional.

Antes de chegar ao Estrela Vermelha passou pelo Vozdovac durante dois anos. Começava a ser vista como uma das mais promissoras jogadoras do país, com esperanças de estar nos Jogos Olímpicos de Londres, quando chegou, então, à Liga húngara.

A 7 de setembro de 2013, três meses depois de assinar pelo UNI Gyor, durante uma viagem para um jogo, o autocarro sofreu um grave acidente. Natasa perdeu a perna esquerda. O treinador Akos Fuzy e o diretor-geral Peter Tapodi perderam a vida.

«No campo aprendi a nunca desistir, a lutar até ao final para ter mentalidade vencedora e, ao mesmo tempo, a aceitar as derrotas». A afirmação é de Natasa numa recente entrevista à revista «Hello», da Sérvia. Mostra que estava preparada para qualquer situação depois do acidente, até porque, sabendo das pessoas que perderam a vida no mesmo, estar viva já era um sinal positivo. Que quis transformar em algo mais.

«Espero que o meu caso mostre que tudo na vida é possível»



Em fevereiro de 2014, a Federação Internacional de Basquetebol, sensibilizada pela história, nomeou Natasa Kovacevic embaixadora para a juventude. No mês seguinte, lançou uma fundação em nome próprio para ajudar jovens atletas.

Sinais de inconformismo. Quem lidou com ela desde que o sorriso lhe parecia escapar a cada momento, não esquece a capacidade de luta. Se mais provas fossem precisas, o regresso à competição, na última quarta-feira, no jogo entre o Estrela Vermelha e o Student Nis, ganho por 78-47, demostra a força do querer.

Na mesma entrevista, Natasa deu conta da forma como encarou o problema. Pelo menos desde a altura em que soube que poderia haver uma solução. «Quando recebi a minha prótese ou, como eu lhe chamo, a ‘perna mágica para o desporto’, percebi que o momento de voltar a jogar chegaria. Aconteceu na última quarta-feira e estou muito feliz com isso», comentou.

Foram dois anos longe da competição. Um período longo, mas que, em declarações à Reuters, Natasa diz que, agora, parece mais curto.

«Por vezes sinto que estes dois anos de ausência nunca aconteceram. Consegui voltar a divertir-me e tenho de agradecer à equipa por ter tornado isto possível. É fantástico estar de volta ao campo e estou deliciada por voltar a jogar o jogo que amo e que apoio. Isto é tudo para mim e espero que mostre a outras pessoas que tudo na vida é possível se as pessoas quiserem muito», afirmou.

No campo quer ser tratada como qualquer outra jogadora

Nesta altura, o passado parece engavetado, mas Natasa não esquece o longo processo de recuperação que teve de atravessar. Doloroso em muitas alturas. Porque, reconhece Natasa, nem sempre acreditou que poderia voltar a jogar. O início foi duro e a ideia passou sempre por ir passo a passo.

Na quarta-feira chegou a meta. Agora, só pensa em ser vista como uma jogadora normal. Na partida do regresso o ambiente foi especial: recebeu flores das colegas e uma bola assinada pelas adversárias. Mas no campo, garante, sentiu-se tratada como qualquer outra.

E é isso que pretende. «Desde que marquei os primeiros pontos, sabia que iam vir para cima de mim. E é assim que tem de ser», afirmou no final do encontro, em que usou uma meia negra a proteger a prótese. Quem não conhecesse a sua história poderia achar que estava ali uma jogadora como qualquer outra.

A sua vontade, lá está: « Só quero tentar encarar um dia de cada vez e viver a minha vida normalmente.»


Embora reconheça que é uma honra ser vista como um exemplo de superação, espera que a história seja ofuscada pelo que conseguir fazer em campo com uma bola de basquetebol na mão.