Sem dó, sem misericórdia, uma arma letal. Não há igual a Cristiano Ronaldo, maldição dos rivais na Liga dos Campeões. O internacional português tornou-se no único jogador a apontar 16 golos numa só edição da Taça/Liga dos Campeões Europeus. Mas o 7 do Real Madrid é ainda maior do que esse recorde. É a morte anunciada de adversários que se lhe atravessam à frente. 

O Bayern Munique era a besta negra dos merengues na prova. E nunca tinha perdido com o Real Madrid na Alemanha. O Bayern Munique nunca tinha perdido por 4-0 em casa, também. E Pep Guardiola nunca tinha sido goleado assim. Mas nesta terça-feira, o Bayern Munique e o treinador espanhol caíram com estrondo. Porque encontraram uma besta ainda maior do que o colosso que são Bayern e Guardiola em conjunto. O Real Madrid garantiu presença na final da Champions em Lisboa, a 13º dos merengues, com a primeira conquista na Arena. Fê-lo com bis de Ronaldo, a verdadeira besta da Champions!

Onde começou esta máquina imparável? Em Ryan Giggs. Agora treinador do Manchester United, foi o galês que lançou Cristiano Ronaldo para uma corrida inolvidável. O internacional português recebeu pela direita, encarou Chivu, puxou para o pé direito e atirou para o fundo das redes da AS Roma. A celebração foi com a cara de um menino, com um sorriso de uma orelha à outra e um grito de « Yeaaaahhh».



Naquela noite de 4 abril de 2007, Cristiano Ronaldo apontou o primeiro golo da história enorme que está a construir na Champions League. Naquela noite em Old Trafford, como hábito, como vício que alimenta um animal futebolístico, Cristiano Ronaldo apontou outro ainda. Porque para ele os golos vêm quase sempre aos pares.

Essa foi a pior temporada do internacional português na Liga dos Campeões. Depois do bis aos romanos, Ronaldo marcou ainda um golo ao Milan, nas meias-finais de uma edição que os rossoneri viriam a vencer. O ano seguinte terminou com Cristiano a sagrar-se campeão europeu. Marcou à Roma de novo e na final frente ao Chelsea. Terminou 2007/08 com oito golos, mas os números caíram depois.

Ainda assim, analisados ao detalhe, começavam a demonstrar uma tendência: Cristiano Ronaldo marca sempre quando a Champions passa do formato de Liga para a fase a eliminar. Aliás, são esses dados que fazem de CR7 o exterminador implacável da prova: é o jogador da História com mais golos apontados nos jogos a eliminar. Estava empatado com Messi antes do jogo com o Bayern, tem agora 33, mais dois que o argentino do Barcelona.



Os golos de Cistiano Ronaldo: faltam os dois desta noite que elevam o total a eliminar [knock-out] para 33

No total, Cristiano Ronaldo ainda está atrás de dois monstros da Liga dos Campeões. O inevitável Lionel Messi e o mítico Raúl Gonzalez Blanco, de quem herdou a camisola. Ronaldo tem agora 66 golos na Champions League. O argentino tem mais um e o antigo 7 de Real Madrid e Schalke leva 71. Ou seja, há cinco golos de diferença e poucas dúvidas restam de que Ronaldo, e Messi, vão mesmo ultrapassar Raúl.

Curiosamente, o Bayern Munique entrou nesta noite no pódio das vítimas preferidas do CR7. É um pódio que no terceiro lugar está congestionado. Mas convém não meter o Bayern no mesmo saco de Marselha, Schalke e Lyon. Os bávaros eram campeões em título e caíram com o bis do português e de Sergio Ramos. 

Também aí Ronaldo contribuiu para engrandecer o currículo madrileno: foi a oitava vez que o Real eliminou o campeão em título, um recorde de clubes na prova. Já agora, outro: melhor época de sempre do ataque merengue [37 golos] que ultrapassou os registos de 1999/00, 2000/01, 2001/02, 2011/12 [com 35].

Apesar de estar no pódio, o Bayern ainda está a três golos do primeiro lugar. Em Munique, Cristiano Ronaldo apontou o terceiro e o quarto golo aos bávaros, mas é na Holanda que está o Ajax, a vítima preferida. O futebol sedutor dos holandeses é presa fácil para um goleador insaciável: no total, sete golos ao detentor de quatro troféus de campeão europeu.

OS GOLOS de CRISTIANO RONALDO DISTRIBUÍDOS POR CLUBES (passe rato por cima)



Ronaldo já marcou de uma ponta à outra da Europa. Fez golos em Lisboa, fez golos em Moscovo. Poucos são os que escapam à fúria do CR7, sobretudo nos últimos três anos, nos quais terminou a Champions sempre com dois dígitos. 

Ainda assim, o português ainda tem alguns objetivos para atingir: ser o maior goleador de sempre na Liga dos Campeões no total (passar Raúl e Messi como se referiu antes) e ser o melhor marcador do Real Madrid na Europa (é segundo com 51, Raúl tem 66). Nenhum destes será atingido na presente temporada, mas o registo de Radamel Falcao está à distância de dois golos: o colombiano é o recordista de golos [18] numa só época [Liga Europa 2010/11] da UEFA.

Para além de tudo isto, e para alimentar a fome ao CR7, na final, em Lisboa, estará um clube que Cristiano Ronaldo ainda não defrontou nesta temporada da Champions. O que para Chelsea e Atlético de Madrid é, para já, uma má notícia: é que o internacional português marcou a todos os adversários que defrontou esta época na Liga dos Campeões. Marcou ao Galatasaray, ao Copenhaga, à Juventus, ao Schalke, ao Dortmund e ao campeão-que-o-deixou-de-ser-nesta-noite Bayern Munique, que sofreu a mais pesada derrota da sua história em casa, nas provas europeias. Ronaldo é uma maldição, Ronaldo é a verdadeira besta negra desta Champions.