Foi há apenas duas épocas que o Beira Mar entrou também pelo caminho das parcerias com grupos estrangeiros. Na altura o escolhido foi o Stellar Group, representado em Portugal pelo empresário Nélio Lucas que depois haveria de ficar muito conhecido devido à transferência falhada de Kalou para o Benfica. Com o patrocínio dos ingleses, o clube fez uma época desastrosa, ficou em último lugar da Liga, foi despromovido madrugadoramente e acabou por ver o presidente Mano Nunes apresentar a demissão.
Antes disso, porém, o Stellar Group foi apresentado como a galinha dos ovos de ouro. O contrato seria por dois anos (acabou no fim do primeiro) e serviria para «permitir ao clube uma projecção nacional e internacional», nas palavras do presidente Mano Nunes. «O acordo visa, também, tornar o Beira-Mar num dos grandes do futebol português», garantia, por seu lado, o presidente da Stellar Group, o inglês Jonathan Barnett. Estávamos a 29 de Abril de 2004. Um ano depois a equipa estava despromovida.
Mick Wadsworth, durante dois meses
Pelo caminho viveu-se uma espiral de indefinições, com quatro treinadores a passar pelo clube, muitos jogadores novos a serem contratados, outros a serem anunciados sem nunca assinarem e a polémica a instalar-se em Aveiro. A temporada iniciou-se com o polémico Mick Wadsworth, antigo adjunto de Bobby Robson, que logo nos primeiros dias dispensou nove atletas. Depois disso chegaram Paul Murray e Stephen McPhee. Depois Pablo Rodriguez, Tanque Silva, Srnicek, Galekovic, para além de Gluscevic, Abdoulie Corr, Mortensen e Robert Vagner, que chegaram, treinaram e foram embora. Um pouco como o treinador. Mick Wadsworth esteve apenas quatro jornadas, depois foi embora por motivos pessoais, garantiu.
Manuel Cajuda, e a utopia que em Portugal mandam os portugueses
Partiu o inglês que nada sabia de Portugal, chegou um português profundo conhecedor do nosso futebol: Manuel Cajuda. O treinador aguentou, porém, apenas dois meses e meio. Os maus resultados e vários problemas com a Stellar Group conduziram a uma rescisão amigável. «Caso esta gente não tenha juízo pode ter graves problemas já esta época. Decidi sair porque não consegui contornar obstáculos no clube. Enquanto for treinador, em Portugal mandam os portugueses», disse na altura da partida. Seguiu-se então uma rábula. Por imposição da empresa inglesa, o Beira Mar contrata Chovanec. O antigo seleccionador checo chega mesmo a ser anunciado, mas acaba por renunciar pouco depois. Cinco dias depois. E o Beira Mar acaba por contratar Luís Campos.
Luís Campos e Augusto Inácio, depois da rábula Chovanec
Com a chegada de Luís Campos, é anunciada a possibilidade do Beira Mar rescindir com qualquer jogador representado pela Stellar Group, sem necessidade de indemnizar os atletas. Pablo Rodriguez e Marian Zeman foram os primeiros a partir. Ali e Jorge Silva chegam do Boavista, num caminho novo que se começava a trilhar. A época, essa, é que continuou a ser desastrosa. Tanto que Luís Campos, no início de Abril, a um mês e meio do fim da Liga, é substituído por Augusto Inácio, que pouco antes tinha rescindido com o Al-Ahly. O treinador tenta o impossível, mas não consegue. No final da temporada assume a ruptura total com a herança do Stellar Group e inicia um novo projecto na Liga de Honra. Que acabou por devolver o clube à Liga.