A história deste Belenenses-Marítmo tem de passar invariavelmente pelas emoções de Mitchell van der Gaag. O treinador dos lisboetas procurava a primeira vitória na I Liga com os azuis do Restelo, defrontava a equipa em que se notabilizou em Portugal e saiu do banco ainda antes do intervalo. Atraiçoado por todos os sentimentos da partida, sentiu-se mal.

Nessa altura, já o Belenenses vencia por 1-0. Um golo construído pelos três protagonistas do encontro: Miguel Rosa, Fredy e João Pedro, que finalizou. O 1-0 que perdurou desde os oito minutos até aos 90 não deu para os azuis descansarem, muito por culpa da ansiedade na hora do remate à baliza. O bom jogo dos lisboetas não teve correspondência num resultado mais dilatado, mas serviu para o Belenenses picar o ponto. Ou os três pontos, melhor se diga. O assomo final do Marítimo de nada valeu.

Cuidado com estes três

Van der Gaag tinha pedido coragem e garra aos jogadores. Disse mesmo que era nesta altura que se via quem era os homens. Para o Belenenses, foi bom que tenham aparecido três futebolistas com velocidade, técnica e critério nos lances.

Em apenas oito minutos, os lisboetas chegaram ao golo. Momentos depois de Miguel Rosa atirar ao poste, num canto direto, o ex-Benfica lançou Fredy, este cruzou e João Pedro, o extremo contrário, apareceu na área a finalizar. Descrevemos o lance em pormenor porque durante muito tempo foi assim que o jogo se desenrolou.

Danielsson e Diakité fecharam o meio-campo. Trancaram Artur e Rodrigo Lindoso e só Heldon aparecia a espaços no futebol madeirense. Depois, a rapidez de execução de transporte de bola de Fredy, Rosa e João Pedro causava problemas.

O Marítimo terminou o primeiro tempo com dois remates, ambos com perigo. Mas a contabilidade de cantos e de remates a favor do Belenenses indicarão bem a tendência da primeira parte, quando se lerem os números. Assim como a excelente defesa de José Sá aos 37 minutos. Não foi a melhor do guardião do Marítimo no jogo, mas entra na categoria das mais importantes.

Em 45 minutos, o Belenenses, um dos últimos da Liga, mostrava uma defesa sólida, um meio-campo coeso a defender e a transitar rápido para o ataque. Ter Tiago Caeiro na frente também ajudou. O ponta de lança não marcou, é certo, mas ganhou muitas bolas que sobravam para os três artistas já antes referidos

Sofrimento desnecessário

Ora, a tendência do primeiro tempo acentuou-se na segunda parte. Da direita para esquerda, João Pedro, Fredy e Miguel Rosa criavam ocasiões de sobra para o Belenenses chegar à parte final descansado e com os três pontos garantidos.

Mas a vida no fundo da tabela é também assim. Feita de sofrimento, no caso desnecessário pelo desperdício. Miguel Rosa, João Pedro e até Danielsson falharam na hora de sossegar os adeptos. E o treinador que não voltou para o segundo tempo.

Pedro Martins foi jogando cartadas ao longo do encontro, meteu Fidélis para o ataque final. Foi a altura de Rosa, Fredy e João Pedro darem o protagonismo a Diakité, Meira, João Afonso e restantes colegas dos setores recuados. O Belenenses aguentou o 1-0 nos últimos instantes, e, agora que voltou, de facto e com pontos à Liga, saiu aplaudido pelas bancadas, satisfeitas com o futebol de primeira. Longe do banco, Van der Gaag poderá serenar, os homens foram homens e no Restelo já se podem ver sorrisos.