Em 33 jogos resultantes de 26 eliminatórias da Taça de Portugal em que se cruzaram, Benfica e Sporting só duas vezes terminaram empatados. E, nestes dois empates, só num deles as duas equipas deixaram o relvado sem alguma delas fazer qualquer golo – este 0-0 foi em 1960 e foi a segunda mão de umas meias-finais que já tinham tido os leões vencedores na primeira mão. No outro empate, houve seis golos após 120 minutos eletrizantes (e desempatados a favor das águias nas grandes penalidades), que demonstraram o encanto especial que têm (por regra quase sem exceção) estes dérbis para a Taça entre os eternos rivais de Lisboa.

O 3-3 entre Benfica e Sporting dos oitavos de final da Taça de Portugal 2004/05 foi o penúltimo jogo entre os dois emblemas para a prova – o último terminou 5-3 para os leões –, exemplo(s) perfeito de quão frutuosos são estes dérbis em golos. Paíto esteve naquele empate tendo colocado os leões a vencer pela segunda vez na partida depois de terem começado por ficar em desvantagem: o jogador moçambicano fez o golo que na altura colocou o marcador em 2-3. A partir da Grécia – onde representa o Xanthi –, Paíto refere ao Maisfutebol que, «apesar de já ser passado», aquele 3-3 «foi dos melhores dérbis que se realizaram».

Na altura, Paíto referiu após o encontro que, com jogos destes, «quem ganha é o futebol português». O Maisfutebol também o considerou (como pode recordar) o melhor jogo da época. No próximo sábado, há novo Benfica-Sporting para a Taça. O defesa esquerdo continua hoje convicto de que este jogo – mais do que qualquer outro – é o jogo que «ninguém quer perder». «Quando se inicia uma época, os jogadores do Sporting e do Benfica sabem que até podem não ganhar o campeonato, mas ganhar o dérbi...» «Se fosse um jogo tão normal não teria graça nenhuma», aponta Paíto. Ficando justificada também a regra do espetáculo garantido nos dérbis da Taça. Em 33 jogos, houve 124 golos para uma média de 3,7 golos por encontro.

«São jogos em que uma pessoa tem de entrar a 200 por cento», diz o lateral esquerdo lembrando os 120 minutos (mais penáltis) de 26 de janeiro de 2005; e contando que «a frescura tem de ser mental» e que «não é só o cansaço físico que conta». «Se a cabeça raciocina bem não é o cansaço que pode impedir» o esforço a que os jogadores são submetidos nestes jogos que «são sempre a doer». A exemplo do que
habitualmente acontece e do que viveu, Paíto não hesita também em considerar o próximo embate como «o jogo do ano, porque, a eliminar, quem perder no sábado fica fora da Taça». «Ninguém vai facilitar», garante.



O Benfica-Sporting (ou com a ordem inversa dos jogos) da Taça de Portugal não costuma de facto acontecer tão cedo na época. Nesta temporada, joga-se na 4ª eliminatória, quando estão ainda 32 equipas em prova. Só uma outra vez isso aconteceu. Foi na época 1975/76, em que águias e leões se defrontaram numa 5ª eliminatória (primeira na altura em que entraram as equipas da Iª Divisão), mas que, também, ainda tinha 32 clubes a lutar pela Taça.

Paíto não tem dúvidas em considerar que «foi má sorte para as duas equipas», mas destaca que «para o Sporting é muito mais doloroso porque não está nas competições europeias». «E o Benfica está», diz a respeito das consequências para as épocas respetivas de cada um em função da inevitável eliminação de um deles nesta altura do campeonato. «Foi com muita pena que vi o sorteio. Mas o futebol é assim.»

Por isso, o defesa esquerdo assume: «É tempo de ir para cima deles!» «O Sporting tem argumentos mais do que suficientes, apesar de o Benfica já se ter reencontrado», analisa o esquerdino com os jogos recentes dos encarnados presentes na memória – especialmente o desta terça-feira frente ao Olympiakos da sua liga grega. E o internacional moçambicano acredita num jogo de igual para igual entre os rivais na Luz, «apesar de o Sporting não se assumir como candidato» ao título de campeão nacional na presente época. De igual para igual, como aconteceu em 2005, no tal 3-3, em que Paíto foi um dos nomes maiores do dérbi, com um golo de fazer levantar o estádio.



«É daquelas coisas que só se faz uma vez na vida, ainda me lembro como se fosse ontem. Vou lembrar-me até ao fim da vida«, admite Paíto recordando os festejos embalando um bebé. «Tinha sido pai e foi o primeiro golo que marquei depois de ter sido pai», conta o defesa esquerdo revelando que «ainda hoje ele não se esquece» e diz « O meu pai marcou um golo para mim!». «Não é todos os dias que se marca um golo contra o Benfica«, assume o esquerdino recordando que «com 2, 3 anos, [o agora mais velho de três irmãos] não passava um dia sem ver o golo». E isso, reconhece o jogador do Xanthi, «de uma certa forma influenciou o Edson» – agora a caminho dos 10 anos – que «se tornou um sportinguista ferrenho». E como resumiu Paíto: «É sempre bom ser lembrado.»


Leia também: Benfica-Sporting na Taça: vantagem é dos leões