Em 1959, a 19 de Julho, Benfica e F.C. Porto repetiam a final da Taça de Portugal da época anterior, uma final com um sentimento de rivalidade desta vez multiplicado pelo desejo de vingança dos encarnados. O Benfica perdera na última época naquele mesmo estádio do Jamor e perdera também o título nacional da temporada em curso para os azuis, num campeonato que ficou marcado para a eternidade pelo caso Inocêncio Calabote, o árbitro que na derradeira partida da liga permitira ao Benfica jogar mais doze minutos. Não chegou e os encarnados perderam o título por um golo de diferença. O Benfica chegava, por isso, ao último jogo de uma temporada mais longa do que era normal mergulhado em expectativas.
Pelo caminho, no percurso até ao Jamor, a formação da Luz eliminara o Sporting e o Belenenses, faltava apenas bater o F.C. Porto para conquistar o troféu vencendo directamente todos os grandes rivais. O Estádio Nacional voltou a cobrir-se de vermelho, uma multidão encarnada vestida de esperança e expectativa. Bola ao centro. Apito do árbitro. Águas tocou para Santana que correu uns passos e serviu Coluna já à entrada da área adversária. Coluna dá dois passos, ajeita o esférico e remata forte, a bola bate no poste e volta para trás, de onde apareceu como uma flecha Cavém que, em posição frontal, rematou para golo. Os espectadores ainda procuravam adaptar-se ao lugar e já o Benfica estava em vantagem.
Os encarnados atacavam o jogo com um carácter audacioso. Ainda não se tinha completado o primeiro minuto e já estavam em vantagem. Pouco depois, aos nove, Carlos Duarte e Mário João envolvem-se num sururu e são ambos expulsos. «Era agredido sempre que agarrava na bola», queixou-se no final o portista. A verdade é que a formação das Antas sofria o segundo rude golpe no espaço de dez minutos, perdendo o jogador mais criativo da equipa. Com Carlos Duarte perdeu também a cabeça. O jogo tornou-se então quezilento, desleal, feio. O Benfica, rezam as crónicas, continuou sempre a ser melhor, mais rápido, mais incisivo, mais ofensivo, mas não conseguiu voltar a marcar. O F.C. Porto, esse, foi uma equipa descrente. Perdeu, muito por isso.
No final, Artur recebeu a Taça do presidente da Republica, Américo Tomás, que liderava pela primeira vez os destinos da nação depois da farsa que afastou Humberto Delgado da corrida presidencial. Eufórico com o triunfo encarnado, o almirante desceu mesmo ao relvado para cumprimentar e entregar as medalhas aos vinte e dois jogadores. A sua presença no Jamor, contudo, não foi bem recebida por um Portugal que vivia momentos conturbados. E que se sentia defraudado. Tal como defraudados se sentiram os portistas. Porquê? Porque, haveriam de o descobrir poucos dias depois, foram dirigidos por um treinador, Bella Guttman, que já tinha um compromisso assumido com o Benfica. Um compromisso secreto.