A história da final da edição de 63/64 da Taça de Portugal tem de começar antes do jogo do Jamor. Tem de começar pela forma como o F.C. Porto se apurou para o derradeiro jogo da prova. Os portistas teriam de jogar uma meia-final com o Lusitânia, dos Açores, mas o avião que transportava a comitiva chegou atrasado a Angra do Heroísmo e o árbitro marcou falta de comparência. O F.C. Porto protestou e foi dado provimento ao protesto. Como sinal de contestação, o Lusitânia desistiu da meia-final e os portistas apuraram-se para a final. No estádio Nacional o destino não esteve tão do lado portista.
Os azuis e brancos acabaram vencidos, goleados e humilhados. Por 6-2. O Benfica vivia os seus anos de maior glória, apresentava uma equipa que maravilhou a Europa, onde brilhavam talentos como Eusébio, Simões, José Augusto, Torres, Coluna, Germano e Costa Pereira. Só não estava Otto Glória. Ou antes, estava, sim, mas do outro lado, do lado portista. A diferença de qualidade das equipas era, contudo, notória e ficou clara desde cedo. Tão cedo que ao quarto de hora os encarnados já venciam por 2-0, após dois golos de José Augusto. Quando se assinalava a passagem da meia-hora, Jaime foi expulso, deixou o F.C. Porto reduzido a dez e abriu caminho definitivamente ao triunfo do Benfica.
O Benfica ganhava então por 2-1, depois de Pinto ter reduzido o marcador pouco depois do quarto-de-hora. A partir de então os encarnados arrancaram para a goleada. Eusébio fez o terceiro de grande penalidade, Simões fez o quarto logo no início da segunda parte, Baptista voltou a reduzir para o F.C. Porto aos 70 minutos, Serafim repôs a vantagem de três golos um minuto depois e Torres fechou a contagem quando já toda a gente esperava pelo apito final. O gigante benfiquista haveria de ser dos que mais exultaram com o triunfo. «Provámos que o nosso ataque é demolidor», disse. A verdade é que todos os avançados benfiquistas marcaram. Simões, José Augusto, Torres, Eusébio e Serafim.
Os números, dizem as crónicas, são exagerados, a vitória do Benfica, essa, é que é incontestável. O Benfica foi melhor, perante um F.C. Porto infeliz, em alguns casos, e desastroso, na maior parte deles. Lisboa viveu uma tarde de festa louca, no dia em que os dirigentes nacionais decidiram abrir as portas do Jamor a todos, possibilitando uma enchente de cor e espectáculo que encheu de adjectivos todos os relatos do jogo. Coluna recebeu a Taça das mãos, mais uma vez de Américo Tomás, levando para a Luz o 12º troféu em 14 finais que jogara até então. O público benfiquista exultou uma época de sonho, coroada com a conquista do campeonato e da Taça de Portugal. Só o F.C. Porto não entrou na festa. Os azuis e branco não calaram a revolta no final de uma arbitragem muito má.