O Benfica-FC Porto do próximo domingo é decisivo. Por muitas análises, cálculos e muletas matemáticas que se criem, o bom senso e a jurisprudência não permitem o desmentido: quem ganhar na Luz será certamente campeão nacional.

Ora, perante a urgência óbvia deste Clássico, nada como falar com alguém que já o resolveu.

O Maisfutebol escolheu Rui Águas e Kelvin. Gerações diferentes, atletas radicalmente distintos, mas ambos com direito a um lugar muito especial na longa história dos Benfica-FC Porto (e vice-versa).

RUI ÁGUAS: «Fiz contra o FC Porto a exibição da minha vida»

Águas, 54 anos e atual selecionador de Cabo Verde, é um veterano de guerra no que a Clássicos diz respeito e esteve, de resto, dos dois lados da barricada. Vestiu a camisola do Benfica de 1985 a 1988, passou duas temporadas nas Antas e voltou à Luz para mais quatro épocas: 1990 a 1994.

A 7 de janeiro de 1987 o Clássico foi todo dele. Vitória do Benfica por 3-1 na Luz, hat-trick do filho de José Águas.

Águas marcou aos 2, 45 e 51 minutos, Fernando Gomes respondeu para o FC Porto. Os dragões seriam campeões da Europa alguns meses depois, o título nacional ficaria para o Benfica.

Três golos num Clássico. Foi a melhor exibição da sua vida?
«Esse jogou mudou a minha carreira. Vinha do Portimonense e fazia a segunda época na Luz. Essa partida perfeita contra o FC Porto sentenciou a minha afirmação definitiva, no Benfica e na Seleção Nacional. Tornei-me num jogador popular. Diria que sim, essa é a melhor tarde do meu percurso como futebolista. E nessa altura o FC Porto já era muito forte».

O FC Porto era conhecido por ter excelentes centrais. Admirava algum deles em especial?
«No meu tempo, infelizmente, isso não era possível. Não admirava porque os jogos não eram bem apitados e tudo era permitido. Os jogos eram mais violentos, era um desassossego permanente para os avançados, uma verdadeira caça ao homem».

E qual era o caçador que mais respeito lhe impunha?
«Nunca me esquecerei do Fernando Couto, mas antes o Celso e o Geraldão já eram desgastantes, muito complicados».

Jonas e Jackson são os homens-golo das equipas atuais. Tem preferência por algum?
«Se tivesse de escolher um para uma equipa minha, escolhia o Jackson. O Jonas é muito bom, um finalizador fantástico, mas o Jackson é mais completo e versátil. Está num patamar superior».

É capaz de identificar um favorito para o jogo na Luz?
«O jogo é decisivo e as equipas têm estado bem. O Benfica sabe que vai sofrer, mas o Porto está obrigado a vencer e vem de uma derrota traumática. Aposto num jogo carregado de tática, mas não me atrevo a sugerir um vencedor».



KELVIN: «Aposto no Jackson para decidir o Clássico da Luz»   

Faz dois anos no dia 11 de maio. Kelvin, agora emprestado pelo FC Porto ao Palmeiras, tabelou com Liedson e rematou para o fundo da baliza de Artur Moraes.

O momento, com o seu quê de icónico, está imortalizado no museu dos dragões, na memória de portistas e benfiquistas, e nos joelhos de Jorge Jesus.

Na primeira entrevista a um jornal português desde a saída do Estádio do Dragão, Kelvin recorda esse instante de glória e projeta o próximo duelo. «Um duelo para durões», como refere ao Maisfutebol, após mais um treino do Verdão.

Kelvin em entrevista: «Fonseca foi injusto comigo, Lopetegui foi sincero»

No Benfica-FC Porto em quem aposta para fazer o papel de Kelvin?
«O Quaresma está a fazer grandes exibições, depois de uma fase em que não era sempre titular. Tem marcado golos e jogado muito bem. Mas o Danilo está impressionante e tenho muita esperança no Jackson. Diria que o Jackson tem tudo para decidir o Clássico. Aposto nele».

Não acredita que seja um jogador do Benfica a decidir?
«Desejo que não seja, estou a torcer muito pelo Porto. Mas o Benfica tem uma grande equipa e um excelente treinador, sem dúvida. O Jonas é o jogador mais perigoso, o FC Porto tem de ter muito cuidado com ele».

O FC Porto vai entrar pressionado pela classificação e pela goleada de Munique?
«Fiz parte do plantel até janeiro e sei como se está a sentir. Tenho a certeza que o Julen Lopetegui vai ter uma conversa muito séria e dura com a equipa, como faz sempre depois de uma derrota. É um técnico que detesta perder, felizmente. Para o Porto é inaceitável acabar a temporada sem títulos, por isso todos os meus colegas sabem que na Luz não é possível falhar. Também já perdi com a camisola do FC Porto, é uma sensação horrível, pois a exigência da direção e dos adeptos é máxima».

Tem falado com os seus ex-colegas do FC Porto? Como é que os tem sentido?
«Falo regularmente com o Danilo e o Alex Sandro. Posso garantir que estão com um desejo incrível de ganhar o campeonato e celebrar o título com os adeptos. Não é fácil encarar o ambiente da Luz. Joguei lá ao serviço do Rio Ave [derrota por 5-1] e fiquei duas vezes no banco com a camisola do Porto. É uma atmosfera extraordinária».