Um argentino e um italiano no início de tudo. As câmaras do Benfica-Juventus desta quinta-feira podem não ter procurado Enzo Pérez e Andrea Pirlo no final do jogo, porque Tévez e Lima sobressaíram pelos golos. Mas o argentino e o italiano estão «dois passes» atrás. O camisola 35 da Luz saiu com uma assistência; o italiano não. sabia-se que iam ter influência nas respetivas equipas e numa análise detalhada aos 90 minutos de cada, percebe-se que quase tudo começou neles.

No caso de Enzo Pérez isso é uma verdade absoluta. O pontapé de saída coube ao argentino do Benfica que demorou apenas mais uns segundos para a Juventus o sentir na partida. Foi ele que desequilibrou o meio-campo logo aos dois minutos, ao sair muito bem da pressão italiana e lançar uma jogada de ataque. O lance ia terminar no canto que originou o 1-0. Sulejmani e Garay fizeram o resto, na bola parada. 


Andrea Pirlo na Luz

Enzo Pérez sobrepôs-se a Andrea Pirlo numa primeira fase. E isso levou o Benfica para a frente. Não há muitas ações do italiano antes dos dez minutos. Aliás, Pirlo só começa a aparecer com frequência a partir dos 20. Enzo fazia-lhe sombra. E como nunca se pode dissociar o individual do coletivo, a pressão de Cardozo e Rodrigo, acompanhados por um dos extremos, ajudava também a que o Benfica ganhasse terreno à Juve, obrigada a jogar por cima de Andrea.

Já Enzo, aos 11 minutos, com um só toque, deixou Markovic com campo aberto para correr. A jogada terminou num remate perigoso de Sulejmani, ao lado, a passe do compatriota.

Aliás, este é um aspeto transversal aos dois. Enzo Pérez e Pirlo foram sobretudo arquitetos, tentaram na maioria das vezes serem eles a fazer o passe que levou ao passe antes da finalização. Nem sempre o conseguiram, é verdade… 

Gráfico interativo: os cinco principais momentos de Pirlo no jogo


A exibição de Enzo Pérez tem se analisar também sem bola, primeiro em pressão, depois em contenção [sobretudo na segunda parte]. A de Pirlo nem tanto, porque há quem faça o trabalho defensivo por ele: nesta noite, Pogba e Marchisio. Enquanto o Benfica teve a linha de pressão subida, Pirlo tentou usar o passe longo. Poucas vezes saiu com a bola e partiu para a frente, nem mesmo em tentativa de jogo mais curto. Isso alterou-se no segundo tempo.

Apreciemos ainda a primeira parte, porém. O grande momento de Pirlo cruzou-se com um de Enzo Pérez. O italiano lançou Tévez para a área, o 35 do Benfica correu atrás do compatriota e cortou o perigo já na área de Artur, num sprint incrível.

Depois deste lance aos 30 minutos, Enzo Pérez só aparece de novo numa repetição. Empurrado por Chiellini e a atingir o defesa bianconeri. Enquanto isso, Pirlo surge num passe para trás, pressionado por Cardozo e num livre lateral que Garay afasta. Até ao intervalo, cobrou dois cantos consecutivos, ambos à maneira curta. Já o argentino teve três ações: variou o centro de jogo aos 37, colocou a mão na bola aos 39 e sofreu uma falta aos 41.

Na segunda parte, Pirlo arrancou mais cedo. Começou a tocar a bola mais vezes, teve mais espaço e a combinação inicial de preferência foi com Liechtsteiner. Os encarnados estavam mais recuados e o 21 jogava com maior à vontade.

Ainda assim, é uma saída de pressão de Pirlo junto à área da Juve que está na base [lá está, o passe que antecede o passe para a finalização] da jogada mais perigosa dos italianos até ao momento. Com espaço, a bola chega rapidamente à área do Benfica e Pogba finaliza para uma grande defesa de Artur.


Onde andava Enzo Pérez até esse minuto 55? Em campo, sem bola e mais a conter jogo do que a pressionar. A tal exibição sem bola. Um minuto depois, porém, estava na área de Buffon, a cair tocado por Cáceres. O árbitro mandou jogar. Foi um assomo do argentino que só reapareceu ao minuto 84.



Enzo Pérez vai passar por trás de Maxi Pereira [com a bola], para o espaço vazio, o que vai obrigar a defesa a abrir para o 2-1

Por outro lado, Pirlo começara a ditar tempos. Aos 57, serviu Vucinic na área, depois voltou a mostrar boa saída da pressão e aos 68 minutos novo pormenor: passe com a parte exterior do pé para Pogba, a deixar a bola entre as linhas encarnadas. A jogada terminou com um corte de Maxi Pereira na pequena área, mas convém lembrar: começou nele, Andrea Pirlo.

Este é o melhor momento do italiano no jogo, que logo a seguir descobre Asamoah sozinho na esquerda. Agora ao comando da Juve, o Benfica tenta pressioná-lo de novo. Pirlo sofre uma falta no meio-campo encarnado, mas mal se levantou percebeu campo aberto no lado oposto. A jogada do empate começou na rapidez com que o 21 da Vecchia Signora bateu a falta para o lado. O talento de Tévez acabou por fazer o resto mais à frente. A influência com bola de Pirlo acabou ali, praticamente.

Gráfico interativo: os cinco maiores momentos de Enzo Pérez no jogo 



Já a de Enzo estava prestes a recomeçar. Porque aos 84 minutos, o argentino foi decisivo para a vitória encarnada. A equipa ganhou um lançamento lateral e trocou a bola da direita para a esquerda, em longos segundos.

Enzo Pérez recebeu em território italiano e no corredor central. Colocou em Maxi mais à direita e quando percebeu que havia espaço nas costas do lateral, correu por trás dele e a defesa abriu. Enzo recebeu de novo e tocou uma bola que chegou a Lima. O brasileiro fez o 2-1 final. Não se percebeu bem se Ivan Cavaleiro simulou ou falhou um passe, mas a assistência final é do argentino.

Ainda que a primeira intenção fosse colocar no português, Enzo foi decisivo, quanto mais não seja pela leitura que fez do posicionamento das duas equipas e pelo «overlap» a Maxi Pereira.

Foi na ultrapassagem do argentino ao uruguaio que o Benfica ganhou à Juve e que Enzo saiu por cima no primeiro duelo com Andrea Pirlo. Em resumo, o italiano apareceu quando o argentino recuou e Enzo deixou marca nas poucas vezes que foi à frente.