A ascensão meteórica de Fernando Torres está indiscutivelmente ligada a Portugal. Não ao Estádio da Luz, onde joga quinta-feira com a camisola do Liverpool. Mais para Sul. Em 2001 o avançado espanhol foi o melhor jogador e o melhor marcador do Torneio do Algarve, em Sub-16. A partir daí nada foi igual.

Irmãos Fonte: eles tatuaram «El Niño» no braço

É o próprio Torres que, no seu site oficial, recorda a importância da competição portuguesa. No Algarve recuperou o tempo perdido. A (então) promessa do At. Madrid tinha sido operada ao joelho esquerdo alguns meses antes, e queria conquistar uma vaga no Europeu de sub-16. Em Fevereiro agarrou o lugar, com uma grande prestação no Torneio do Algarve. «Já tinha as características que apresenta actualmente», recorda Silveira Ramos, que na altura era o seleccionador português de sub-16.

«El Niño» foi campeão europeu em Maio, na Inglaterra. Mais uma vez foi o melhor jogador e o melhor marcador. Nessa altura recebeu uma chamada de Paulo Futre (lá está a ligação a Portugal), que lhe comunicou que ia começar a trabalhar com a equipa principal do At. Madrid. A estreia aconteceu ainda nesse mês de Maio, frente ao Logroñes.

A presença no Torneio do Algarve foi, por isso, o palco da «explosão» de Fernando Torres. «Já era um jogador muito participativo. Não era especialmente forte a driblar, mas evidenciava-se pela participação no jogo», lembra Silveira Ramos.

O ex-técnico da Federação Portuguesa de Futebol recorda um rapaz loiro que encarava o jogo com grande seriedade: «Não sorria muito em campo. Já era muito adulto a jogar. Já marcava a diferença, pois pensava o jogo durante noventa minutos. Nunca se alheava. A consistência dele era anormal, para a idade.»

À boleia de «El Niño», até à Vila das Aves

Fernando Torres dominou por completo a 24ª edição do Torneio do Algarve. Foi o melhor jogador e o melhor marcador da prova. A Espanha arrecadou o troféu, igualmente. A caminhada vitoriosa arranca com um triunfo sobre a Inglaterra (2-1), uma goleada à Finlândia (4-0) e um empate com Portugal (1-1).

Nesse duelo ibérico, disputado em Portimão (27 de Fevereiro) esteve Hugo Ferreira. O guarda-redes do Desp. Aves era então titular dos sub-16 lusos. Assim que o Maisfutebol lhe fala em Fernando Torres, solta uma resposta: «Sim sim. Marcou-me um golo no Algarve. Foi um cruzamento da esquerda e ele concluiu na área.»

A memória parece não atraiçoar. É sinal de que o nome do avançado espanhol ficou gravado. «Era tecnicamente muito evoluído, para a idade. Já se notava que era um jogador acima da média.»

O contacto do Maisfutebol desperta saudosismo em Hugo Ferreira. Em 2001 também ele era uma promessa do Boavista, titular da baliza dos sub-16 portugueses. Nove anos depois é suplente do Desp. Aves. «Não me deram oportunidades no Bessa. Esse foi o problema. Infelizmente é isso que acontece com muitos jovens», reclama. «Podia ter tido mais sorte, e ter chegado a outro patamar», acrescenta.

Hugo Ferreira lamenta a falta de oportunidades, mas não esquece os erros cometidos na primeira pessoa. «Logo após o torneio do Algarve tivemos dois jogos decisivos no apuramento para o Europeu de sub-16. Goleámos a Macedónia em Aveiro (4-0), e depois jogámos com a Bélgica em Santa Maria de Lamas. Bastava o empate para a qualificação, mas perdemos (0-1). Perdi a cabeça. Fui expulso, ao cometer uma grande penalidade. Saltei a uma bola, daquelas em que os guarda-redes se protegem com o joelho. O árbitro entendeu que fui com a perna levantada. Depois ainda fiquei a discutir. Atirei areia aos suplentes belgas», recorda. «Os erros pagam-se caros. A federação castigou-me. Ainda estive para ir ao Europeu de sub-19, algum tempo depois, mas lesionei-me a poucos dias da prova.»