Estádio cheio. Rótulo, talvez precipitado, de jogo do título a sete jornadas do fim. De um lado uma equipa certinha, montada com um puzzle, do outro um dique pronto a rebentar, com 60 mil a dinamitar as comportas. Certo parecia que todos os astros estavam alinhados para a vitória do Benfica, que ficaria com seis pontos de vantagem para gerir em outros tantos encontros, só não se sabia quando nem como iria chegar. É óbvio que não é menosprezo de um conjunto arsenalista no seu melhor momento de sempre e com todo o mérito, reconheça-se, no segundo lugar, mas feitas todas as contas até Domingos teria de reconhecer que seria muito complicado vencer na Luz esta noite. E perdeu bem (1-0).
Jesus manteve o tabu Saviola até à hora do jogo, mas havia a sensação de que seria mais um bluff do treinador do Benfica do que uma lesão mais séria do argentino. Já não tanto jogo mental, mas consequência das últimas exibições, Aimar ficaria no banco e Carlos Martins ocuparia o seu lugar. No Braga, Domingos Paciência não arriscou mudar depois da má experiência do Dragão, em que mudou a estrutura e saiu goleado. A estratégia percebeu-se logo nos primeiros minutos: tapar todos os caminhos, não ter pressa e jogar com a ansiedade do Benfica. O contra-ataque era apontado a Alan e Mossoró, os artífices do golpe de teatro mais que desejado por parte dos forasteiros.
O jogo começou morno, depois o Benfica cresceu, mas o Braga conseguiu conter a primeira vaga. Escondeu a bola, passeou com ela no meio-campo dos encarnados, sem grande perigo no entanto para Quim. A defender, a boa atitude de Coentrão (essencial na paragem de muitos contra-ataques minhotos), a atenção dos centrais e de Javi García impediram que a posse de bola bracarense se tornasse perigosa, mas os homens de Jesus demoravam sobretudo a carburar na frente. Apesar de algumas boas ideias de Saviola. A inconstância de Filipe Oliveira era colmatada pela presença de Moisés, o mais certinho dos defesas visitantes.
Aos 24 minutos, a primeira grande oportunidade. Péssimo atraso de Filipe Oliveira isola Saviola, mas o argentino deslumbra-se perante Eduardo e falha uma daquelas que não se podem falhar. Aos 29, Di María chama a atenção de três adversários e cruza, Eduardo não chega e Cardozo, surpreendido, cabeceia ao lado. O Benfica desapareceu durante dez minutos para, apesar de menos pressionante que antes, lançar uma segunda vaga. Saviola cabeceou ao lado aos 38 e no segundo canto já nos descontos as águias chegaram ao golo. Canto curto de Di María, Carlos Martins cruza, Javi García cabeceia contra o joelho direito de Luisão, que se vira rápido e com o pé esquerdo faz o golo. Grande explosão na Luz.
Mais Braga, mas sem Mossoró
O início da segunda parte traz o melhor Di María, mas também a lesão grave de Mossoró (50). Nos dez primeiros minutos do segundo tempo, o flanco direito das águias cria duas excelentes jogadas. Dois cruzamentos no mesmo minuto de Maxi, com Cardozo a não chegar e Eduardo, no segundo lance, a atirar contra Saviola.
Domingos Paciência joga todos os trunfos aos 58. Matheus e Rafael Bastos entram para o lugar dos apagados Rentería e Hugo Viana. E aos 69, o Sp. Braga teve a sua melhor oportunidade até aí. Livre largo de Luís Aguiar, Quim fica a meio caminho e Moisés cabeceia ao lado. Nos contra-ataques os minhotos também cresciam, aproveitando os desperdícios do ataque do Benfica, com um último passe transviado, um mau domínio de Cardozo ou um ou outro excesso de Di María.
Com maior ou menor dificuldade, o tempo ia passando e os três pontos ficando mais perto. É verdade que aqui e ali o Braga podia ter marcado mas o mesmo também se pode dizer do contrário, tantas as vezes em que os encarnados podiam ter sido mais objectivos à frente de Eduardo. O 1-0 vale seis pontos, apesar da desvantagem no confronto directo. Sim, cheira a título, mas o caminho ainda é longo e doloroso.