O Benfica está a um ponto de um título que, definitivamente, já não irá para Alvalade. Agora, apenas uma derrota no Bessa, conjugada com uma vitória do F.C. Porto, podem impedir o fim de onze anos de jejum encarnado. Um golo a meias entre Luisão e Ricardo (83 m) foi quanto bastou para sentenciar o «derby» mais importante dos últimos anos e afastar da Luz o fantasma de novo fiasco.
Talvez tivesse mesmo de ser assim. Talvez, após 33 semanas de um campeonato em que os erros alternados dos candidatos atiraram a emoção para níveis loucos, tivesse de ser um último erro a decidir as coisas. No caso, foi Ricardo a protagonizá-lo e a despertar o vulcão adormecido da Luz, numa altura que não permitia retorno. À entrada da última semana, a equipa que errou menos do que as outras podia festejar o regresso ao primeiro lugar.
Claro que a semana vai ser pródiga em discussões sobre o lance do golo. E talvez ao fim de 25 repetições alguém consiga mesmo concluir que Luisão fez falta sobre Ricardo. Mas quem estava no estádio viu outra coisa: viu o guarda-redes dos leões, intimidado pelo central brasileiro, a cometer o seu primeiro erro da noite. Foi isso também que viu o árbitro Paulo Paraty, decidindo em conformidade.
Diga-se desde já que, tal como aconteceu na Superliga, também neste jogo foram do Sporting os melhores nacos de futebol. O plano de Peseiro encorajava a sua equipa a ser paciente, sabendo que o empate não servia ao Benfica e que os encarnados teriam sempre menos opções para acentuar o seu volume ofensivo. Assim, diante de um Benfica com o seu «onze»-tipo, os leões, sem Liedson, apresentaram uma equipa levezinha no ataque, apenas com Sá Pinto e Douala nas imediações da área de Quim.
Fazia sentido porque, não sofrendo golos cedo, o correr do tempo funcionaria a favor dos visitantes. E realmente, depois de 20 minutos de ascendente do Benfica, a circulação de bola dos leões abriu a válvula necessária para fazer diminuir a pressão de 65 mil e onze benfiquistas. A partir daí, os avisos mais perigosos foram verdes: o excelente Moutinho atirou perto do poste direito de Quim, e o guarda-redes do Benfica fez a primeira defesa difícil a remate de Douala (32 m).
Quando chegou o intervalo, o 0-0 apanhava a meio da viagem uma equipa com objectivos cumpridos (o Sporting) e outra manietada pela falta de soluções e pela melhor capacidade de circulação do adversário. Mas se a intensidade dos duelos era inexcedível, o jogo precisava de rupturas para se tornar mais emocionante. E Manuel Fernandes conseguiu a primeira, com um passe soberbo a que Simão não deu resposta rápida, permitindo a defesa de Ricardo (47 m).
Se o Sporting tratava melhor a bola, beneficiando da subida de rendimento de Rochemback, o Benfica conseguia estocadas mais directas. E foi em contra-ataque que Simão teve, aos 64 minutos, o segundo «match point» nos pés, após grande trabalho de Nuno Assis. O remate saiu a um palmo do poste e o Sporting parou para pensar e respirar fundo: a equipa tinha mais meios, tinha mais bola, mas não estava a ter a ambição necessária para matar o jogo, parecendo acreditar que bastaria gerir os acontecimentos para conservar o nulo.
A dez minutos do fim, com Moutinho e Barbosa a encherem o campo, o leão parecia estar na mó de cima, diante de um Benfica que, à falta de outros argumentos, recorria à vitamina Mantorras para recuperar algum ânimo.
Já com Pinilla no lugar do ineficaz Douala e com o meio campo refrescado com as entradas de Tello e Viana, o Sporting cresceu, e Quim teve de fazer mais duas defesas difíceis, a remates de Rochemback e Viana.
Depois, a prova definitiva de que esta Superliga não gosta de lógica nem de aparências: aos 83 minutos o livre bombeado de Petit, o salto tímido de Ricardo e as mãos que deixaram fugir a bola para dentro da baliza, a liderança para a Luz e o título para outras paragens, que não Alvalade. Num campeonato pontuado por erros flagrantes a cada semana, nenhum custou tão caro como este.