Aconteça o que acontecer no domingo, é ponto assente que poucas vezes um dérbi se centrou tanto na figura de um só homem. Pelos seis anos que passou na Luz, pela forma como saiu no último verão e, principalmente, pelo seu registo como técnico de maior sucesso na história dos dérbis, este será, pelo menos até a bola começar a rolar, às 17 horas de domingo, o clássico de Jorge Jesus.

Há, claro, como pano de fundo o litígio laboral que opõe o Benfica ao seu ex-técnico. E outras polémicas, como as alegadas trocas de SMS com jogadores encarnados, a declaração de que o Benfica continuava a jogar com as suas ideias, antes do embate no Algarve, ou o desentendimento com Jonas, no final da primeira partida oficial da época.

Mas, polémicas à parte, bastaria o registo vitorioso de Jorge Jesus na passagem de seis anos pelo Benfica, e, particularmente, a sua história de sucessos em dérbis, para tornar o seu regresso à Luz, com as cores de um rival de ambição reforçada, o principal foco de interesse para o jogo – que será, recorde-se, o primeiro dérbi de Rui Vitória perante o seu público, depois de se ter estreado em campo neutro, em agosto.



Nas pisadas de «seu» Otto

Depois de se ter tornado, com a Supertaça, em agosto, o nono técnico a orientar dérbis nos dois lados da barricada – juntando-se a Artur John, Otto Glória, Jimmy Hagan, Fernando Riera, Milorad Pavic, Manuel José, Fernando Santos e Jesualdo Ferreira – o treinador dos leões vai querer tornar-se o terceiro a ganhar como visitante nos dois estádios, Alvalade e Luz, depois de Otto Glória (nos anos 60) e Fernando Santos (na década passada).

O registo de Jorge Jesus nestas coisas deixa a perder de vista qualquer concorrência. O técnico dos leões que, como jogador do Sporting, já tinha defrontado o Benfica, há 40 anos, vai cumprir no domingo o 17º dérbi de Lisboa como treinador. Um número muito respeitável, que o deixa isolado no quinto lugar da tabela de todos os tempos. Só Joseph Szabo, recordista absoluto com 47 dérbis, Janos Biri (37), Lipo Hertzka (23) e Otto Glória (20) contam mais do que JJ.



No que se refere ao total de vitórias, só Joseph Szabo (22 em 47 jogos pelo Sporting) e Janos Biri (15 em 37 pelo Benfica) ganharam mais vezes, mas com uma taxa de aproveitamento muito inferior. Jesus soma 11 vitórias e quatro empates nos 16 jogos que orientou entre os grandes de Lisboa, para uma eficácia próxima dos 80% que não tem comparação com qualquer outro treinador que tenha orientado mais de dois clássicos.


Joseph Szabo

Jorge Jesus é, recorde-se, o técnico que orientou o Benfica em mais partidas oficiais (321), tendo um saldo de 225 vitórias (70% do total), 51 empates (16%) e 45 derrotas (14%), sendo também o que mais troféus conquistou na Luz – dez, contra nove de Otto Glória – e o terceiro no que se refere a percentagem de vitórias, apenas atrás de Hagan (78%) e Biri (71%).

A Supertaça conquistada ao serviço do Sporting, no Algarve, foi o seu 11º troféu em Portugal, registo que, mais uma vez, permitiu a Jorge Jesus igualar Otto Glória – que conquistou dois títulos no Sporting nos livros de registos. No entanto, o brasileiro ainda leva vantagem na dimensão dos títulos, já que conquistou seis campeonatos e cinco taças, numa altura em que não havia Supertaças (duas para JJ) nem Taça da Liga (Jesus conquistou cinco).

Os treinadores com mais troféus conquistados em Portugal

Otto Glória, 11 (6 CN, 5 TP)
Jorge Jesus, 11 (3 CN, 1 TP, 5 TL, 2 ST)
Artur Jorge, 8 (1 TCE, 3 CN, 1 TP, 3 ST)
Joseph Szabo, 7 (3 CN, 2 TP, 2 CP)
José Mourinho, 6 (1 LC, 1 TU, 2 CN, 1 TP, 1 ST)
Janos Biri, 6 (3 CN, 3 TP)
Jesualdo Ferreira, 6 (3 CN, 2 TP, 1 ST)

Treinadores do Benfica com melhor aproveitamento*

Jimmy Hagan 120 jogos; 94 vitórias (78%)
Janos Biri 272-194 (71,3%)
Jorge Jesus 321-2225 (70,0%)
Bela Guttmann 162-113 (69,7%)
Ted Smith 108-75 (69,4%)
John Mortimore 202-139 (68,8%)
Eriksson 233-159 (68,2%)
Mário Wilson 125-83 (66,4%)
Lipo Herczka 153-101 (66%)
Otto Glória 244-159 (65,2%)
Toni 215-127 (59,1%)
Jose Antonio Camacho 110-65 (59,1%)

* De 1934 à atualidade

Desde que a função de treinador passou a ser considerada – no início da rivalidade, esse papel era desempenhado pelo capitão, foram 104 os homens que deixaram o seu nome nos livros da História do dérbi. No Benfica, tal como no Sporting, foi um fundador do clube a assumir primeiro o cargo de treinador. E, tal como com os leões, é um húngaro (Janos Biri) o recordista no total de jogos orientados. Otto Glória, Hagan, Eriksson e Toni são outras referências de sucesso no duelo com os leões, uma galeria já se pode atribuir liderança a Jorge Jesus, responsável pelo período de maior ascendente dos encarnados neste 99 anos.

Os 43 treinadores do Benfica em dérbis

Cosme Damião (1923 a 1926): 2 vitórias; 2 empates; 2 derrotas (2-2-2)
Ribeiro dos Reis (1926 a 29; 1931 a 34): 5-3-7
Artur John (1929 a 1931): 0-0-4
Vítor Gonçalves (1934/35): 2-1-3
Lipo Hertzka (1935 a 39 e 1947): 10-3-10
Janos Biri (1939 a 1947): 15-3-19
Ted Smith (1948 a 1952): 2-2-4
Cândido Tavares (1952): 1-0-0
Alberto Zozaya (1952/53): 0-0-2
José Valdivieso (1954): 1-0-4
Otto Glória (1954 a 1959 e 1968/69): 8-4-5
Bela Guttmann (1959 a 1962 e 1965/66): 3-4-3
Fernando Riera (1962/63 e 1966): 4-1-1
Lajos Czeizler (1963/64): 0-1-1
Elek Schwartz (1964/65): 1-1-0
Fernando Cabrita (1967 e 1973): 2-0-2
José Augusto (1970): 1-1-0
Jimmy Hagan (1970 a 1973): 6-1-1
Milorad Pavic (1974/75): 0-2-0
Mário Wilson (1975/76, 1979/80, 1995 e 1997): 4-4-3
John Mortimore (1976 a 1979 e 1985 a 1987): 7-2-5
Lajos Baroti (1980 a 1982): 1-4-1
Sven-Goran Eriksson (1982 a 1984 e 1989 a 1992): 7-3-2
Pal Csernai (1984/85): 1-0-1
Ebbe Skovdahl (1987): 0-1-0
Toni (1988 a 1989, 1993 a 1994 e 2001): 6-1-3
Tomislav Ivic (1992): 0-0-1
Artur Jorge (1994/95): 0-0-2
Paulo Autuori (1996): 0-0-1
Manuel José (1997): 1-0-0
Graeme Souness (1998 e 1999): 2-0-0
Shéu Han (1999): 0-1-0
Jupp Heynckes* (2000): 1-1-1
José Mourinho (2000): 1-0-0
Jesualdo Ferreira (2002): 0-1-0
José Antonio Camacho (2002 a 2004 e 2007/08): 2-2-2
Giovanni Trapattoni (2005): 1-1-1
Ronald Koeman (2005/06): 0-0-2
Fernando Santos (2006/07): 1-1-0
Fernando Chalana (2008): 0-0-1
Quique Flores (2008/09): 1-1-1
Jorge Jesus (2009 a 2015): 10-4-1
Rui Vitória (2015): 0-0-1

* Num dos jogos da época 1999/2000 Jupp Heynckes foi substituído no banco pelo seu adjunto, Martin Delgado, por razões de saúde.

Os 70 treinadores do Sporting na história dos dérbis

Francisco Stromp (1916/17): 0 vitórias; 1 empate; 1 derrota (0-1-1)
Charles Bell (1919 a 1922 e 1928/29 a 1929/30): 4-3-3
Augusto Sabbo (1922 a 1924): 2-1-1
Filipe dos Santos (1924/25, 1926 a 28, 1930/31, 1933/34): 6-3-1
Julius Lelovtic (1925/26): 0-1-1
Arthur John (1931/32): 2-0-1
Rodolf Jenny (1932/33): 1-0-1
Wilhelm Possak (1934/35): 3-1-2
Joseph Szabo (1935/36 a 1943/44, 1953/54): 22-5-20
Joaquim Ferreira (1944/45): 3-0-4
Cândido de Oliveira (1945/46 e 47/49): 6-1-2
Robert Kelly (1946/47): 2-1-1
Alexandre Peics (1949/50): 1-0-1
Randolph Galloway (1950/53): 4-1-2
Alejandro Scopelli (1954/56): 0-1-4
Abel Picabea (1956/57): 1-1-0
Enrique Fernandez (1957/59): 3-0-3
Fernando Vaz (1959 e 1969/72): 2-3-4
Alfredo Gonzalez (1960): 1-1-1
Otto Glória (1961 e 1965/66): 1-1-1
Juca (1962/63 e 1975/66): 3-2-4
Gentil Cardoso (1963) : 1-0-0
Anselmo Fernandez (1964/65): 0-2-0
Jean Luciano (1964/65): 0-0-1
Fernando Argila (1966): 0-0-1
Armando Ferreira (1967e 1969): 0-2-0
Fernando Caiado (1967/68): 1-1-1
Mário Lino (1972 e 1973/74): 1-0-4
Ronnie Allen (1972/73): 0-0-2
Fernando Riera (1974/75): 0-2-0
Jimmy Hagan (1976/77): 2-0-1
Paulo Emílio (1977): 0-1-0
Rodrigues Dias (1978 e 1979): 1-0-2
Milorad Pavic (1978/79): 0-0-2
Fernando Mendes (1980): 1-2-2
Srecko Radisic (1981): 0-1-0
Malcolm Allison (1981e 82): 1-1-0
António Oliveira (1983): 1-0-0
Joszef Venglos (1983 e 84): 1-0-2
Marinho (1983 e 84): 0-1-1
John Toshack (1984): 1-0-0
Pedro Gomes (1985): 0-0-1
Manuel José (1985/86 e 1989): 2-1-3
Keith Burkinshaw (1987): 2-1-2
António Morais (1988): 0-0-1
Pedro Rocha (1988): 0-0-1
Raul Águas (1990): 0-0-1
Marinho Peres (1990 a 1992): 0-2-2
Bobby Robson (1992/93): 1-0-1
Carlos Queiroz (1993 a 1996): 3-1-2
Octávio Machado (1996 e 1997): 0-1-2
Robert Waseige (1996): 1-0-0
Carlos Manuel (1998): 0-0-1
Mirko Jozic (1998/99): 0-1-1
Augusto Inácio (2000): 1-1-2
Manuel Fernandes (2001): 1-0-0
Laszlo Boloni (2001 a 2003): 1-2-1
Fernando Santos (2004): 1-0-1
José Peseiro (2004 e 2005): 2-1-1
Paulo Bento (2006 a 2009): 3-4-2
Carlos Carvalhal (2009/10): 0-1-2
Paulo Sérgio (2010/11): 0-0-2
José Couceiro (2011): 0-0-1
Domingos Paciência (2011): 0-0-1
Sá Pinto (2012): 1-0-0
Vercauteren (2012): 0-0-1
Jesualdo Ferreira (2013): 0-0-1
Leonardo Jardim (2013/14): 0-1-2
Marco Silva (2014/15): 0-2-0
Jorge Jesus (2015): 1-0-0